As Horas, obra que valeu a Michael
Cunningham os mais importantes prémios literários
de 1999, nomeadamente o Pulitzer e o prémio Pen/Faulkner,
é um livro que nos marca. Marca-nos pela forma como as
personagens são apresentadas, pessoas que procuram viver
e simultaneamente libertarem-se da vida . Marca-nos pelo estonteante
desfile de emoções sentidas, que vão desde
a paixão ao ódio, da felicidade ao desespero. E
em última análise, marca-nos por ecoar lirismo
em cada frase impressa.
Michael Cunningham inspirou-se na vida da escritora Virginia
Woolf para seguidamente traçar o retrato de três
mulheres de diferentes épocas e locais. Entramos em contacto
com a própria Virginia Woolf, que em 1923 se encontra
em Richmond e prepara o romance Mrs. Dalloway. No ano de 1949,
Laura Brown, uma dona de casa, em Los Angeles, procura ler o
seu exemplar deste mesmo livro, como forma de escapar à
sua rotina diária. E em Nova Iorque, no final do século
XX, Clarissa Vaughan, uma editora literária, prepara uma
festa em honra de Richard, o poeta e seu amigo que a apelidou
de Mrs. Dalloway e que actualmente luta contra a SIDA.
É em torno destas mulheres, unidas pela sombra omnipresente
de Mrs. Dalloway, que se estabelece uma complexa teia de relações,
a qual só será plenamente revelada no final do
livro.
À volta deste enredo central, Cunningham reflecte ainda
sobre o empenho artístico, conferindo um imenso respeito
à relação que se estabelece entre o escritor
e os seus leitores.
Pedro Jesus |