Engenharias a favor, Ciências
Humanas contra
Os prós e os contras
do novo calendário
Luís Carrilho, presidente da
Comissão Ad-hoc para o Sucesso Escolar, é um dos
responsáveis pelo novo calendário escolar da universidade,
que tem suscitado opiniões divergentes tanto entre alunos
como entre professores. De um lado os docentes da Unidade Científico-Pedagógica
(UCP) das Ciências Sociais e Humanas, que rejeitam a ideia;
do outro, os apoiantes do projecto, crentes na possibilidade
de melhorar o aproveitamento dos alunos. Convencido de que o
calendário sequencial é uma das soluções
para o problema do insucesso escolar, o vice-reitor da UBI continuará
a defendê-lo, mas não conseguiu convencer os opositores.
De fora parecem estar - anuncia Carrilho - quer calendários
diversificados para as diferentes UCP's, quer a possibilidade
do sentido do voto dos estudantes, no referendo, vir a determinar
a decisão final.
Luís Carrilho, vice-reitor da Universidade
da Beira Interior, é um dos promotores do projecto "Organização
Escolar UBI 2000", que comporta a alteração
de vários pontos relativos ao ensino na UBI. Aquele que
levanta mais polémica é, sem dúvida, o que
se refere ao novo calendário escolar sequencial o qual,
caso a proposta vá por diante, substituirá o clássico.
Segundo Luís Carrilho, "esta alteração
visa fundamentalmente melhorar o sucesso escolar, apenas com
a deslocação dos exames de recurso de Setembro
para o fim de cada semestre". A necessidade desta alteração,
defendem os promotores, "é decorrente do baixo nível
de aproveitamento que se tem verificado ao longo dos anos na
época de recurso", e que apresenta números
de desistência e reprovação na ordem dos
40%, nas várias Unidades Científico - Pedagógicas.
"Através da sequencialidade do calendário
consegue-se que os alunos resolvam a sua situação
escolar no devido tempo. Arrumam as cadeiras por semestre, e
não têm que voltar às mesmas matérias
passados vários meses, desistindo na grande maioria"
- defende aquele responsável.
O argumento de que este novo esquema de avaliação
põe toda a comunidade escolar sob grande pressão
não colhe perante o autor da proposta, "a aprendizagem
também se faz pela repetição, e com este
modelo os alunos passam a ter quase dois meses para serem avaliados.
Podem optar por obterem aprovação por frequência
ou num dos dois exames que se seguem."
Novo calendário exigirá
adaptações
Quanto aos docentes, "têm de
saber adaptar-se à nova situação, e respeitar
os prazos de correcção e afixação
de notas. É claro que isto vai exigir deles uma maior
racionalização do trabalho, nomeadamente na gestão
dos programas".
No entanto, é sabido que nem sempre os serviços
administrativos conseguem dar resposta às solicitações
dos alunos, principalmente em alturas de matrículas e
inscrições para exames. Estarão os Serviços
Académicos preparados para duas fases de inscrições
por ano? "Por certo que tudo farão para conseguir
eficiência suplementar nestes períodos. Mas, não
nos podemos esquecer que agora vão lidar com a situação
em dois momentos, metade de cada vez."
Quanto à crítica de que com o início das
aulas nas primeiras semanas de Setembro os professores não
têm tempo para preparar os programas das disciplinas, o
vice-reitor da UBI garante que o início do período
de leccionação terá lugar apenas na segunda
ou terceira semana do mês, havendo sempre tempo para os
docentes investigarem e participarem em congressos.
Referendo meramente indicativo
Apesar de todos estes argumentos, a Academia
não parece convencida, e a própria Associação
Académica ainda não definiu a sua posição,
preferindo esperar pelos resultados do referendo que vai promover
entre os alunos nos próximos dias 23 e 24.
Todavia, não é liquido que a opinião dos
estudantes venha a ser seguida no momento de decidir, previne
Luís Carrilho. "O referendo é apenas uma auscultação
que apresenta demasiadas condicionantes, como por exemplo a falta
de informação sobre o que se vai votar. De qualquer
forma, a decisão cabe apenas ao Concelho Científico
e ao Senado e ela deve ir no sentido de melhorar o aproveitamento
e não de responder à vontade dos alunos, que é
sempre transitória. Ainda assim, espero que a vontade
seja de mudança, para melhorar a situação
de todos".
Calendários diferenciados postos
de parte
A hipótese de dois calendários na UBI - o chamado
clássico para a UCP de Ciências Sociais e Humanas,
e o sequencial para as UCP de Ciências de Engenharia e
Ciências Exactas - é prontamente rejeitada pelo
Prof. Carrilho. "Nesta fase da universidade seria prejudicial,
uma vez que ainda não somos suficientemente grandes. Para
além disso não devemos manter exames em Setembro
quando os cursos são quase por completo compostos por
cadeiras semestrais." Também não encontra
as clivagens que geralmente se colocam entre as duas grandes
unidades, afirmando que "não existem grandes diferenças
entre os alunos de ciências sociais e os outros".
O vice-reitor da universidade não tem grandes dúvidas
de que este é um projecto que vai melhorar o aproveitamento
global dos estudantes da UBI. "Há muitos outros pontos
benéficos para os alunos. Temos o regime de tutorado,
que pretende acompanhar os alunos mesmo nos seus problemas pessoais;
para além da possibilidade de fazer seis exames por ano
(três por semestre) impensável num regime de exames
de recurso em Setembro."
Anti-pedagógico e sem soluções
No entanto contra o regime proposto para
o novo calendário escolar algumas vozes, entre professores
e alunos, já se fizeram ouvir. Um dos críticos
é o Professor Luís Lourenço, presidente
do Departamento de Gestão e Economia, que defende que
"o calendário que se quer aprovar é anti-pedagógico".
Segundo este docente da UBI, "qualquer calendário
teria sempre que ter 2 semanas de férias de Natal, e depois
disso teria mais duas semanas de aulas ou então seria
um período destinado à realização
de provas de avaliação (frequências...)"
Para além disso, "alterar as datas da época
de recurso não vai resolver nada, nem melhorar os resultados
dos alunos. O docente não pode ver os exames a correr,
e o aluno não vai preparar o exame de recurso no espaço
de uma semana.", sustenta Luís Lourenço.
Em relação ao 1º ano, este docente afirma
que "não se deve fazer um calendário de excepção.
A UBI deve-se adaptar aos problemas que a entrada tardia dos
alunos de 2º fase acarreta. É necessário que
esta universidade se torne flexível em relação
à própria época de colocações,
e possa acompanhar todo esse processo com a maior atenção."
Questionado sobre as outras medidas que acompanham o projecto
escolar, Luís Lourenço acha que "é
necessário um maior amadurecimento da discussão,
para se acharem as melhores soluções para os problemas
que actualmente afligem a universidade. O calendário escolar,
a ter que ser aprovado, apareceria apenas como conclusão
adjacente a todas estas medidas".
Este professor defende ainda que "as aulas nunca poderão
começar na 2ª semana de Setembro, dessa forma quando
é que os docentes iriam preparar o semestre, talvez no
mês de Agosto?", concluindo que "é mais
do que óbvio que isto não beneficia em nada o trabalho
do professor".
No entanto, Luís Lourenço garante estar "aberto
a alterações, desde que as mesmas sejam benéficas.
Porém, aqui está-se a impor um calendário
escolar, e só depois se discutem os verdadeiros problemas".
Sequencialidade em Letras é inédita
a nível nacional
Outro dos defensores do "não"
é o professor José Manuel Santos, director do curso
de Ciências da Comunicação, que começou
por explicar que "na área das Ciências Sociais
e Humanas não há nenhuma universidade no País
com um calendário de tipo sequencial. Na qualidade de
membro da Comissão de Avaliação do curso
de Ciências da Comunicação visitei seis universidades
com este curso, tendo sondado a opinião dos responsáveis
(presidentes de curso) sobre este tipo de calendário,
e a opinião foi unanimemente negativa".
Para este docente a introdução do calendário
"vai causar enorme stress aos alunos, funcionários
e docentes. Os docentes vão ter que corrigir provas num
curto espaço de tempo. Os alunos vão ter apenas
1 ou 2 dias para se inscreverem nos exames de recurso".
Segundo José Manuel Santos "o argumento de que "se
deve adoptar o novo calendário devido à baixa taxa
de aprovação em Setembro" é falacioso.
O projecto deve ser tomado em consideração para
todas as épocas. Por exemplo nas Ciências da Comunicação,
a taxa de aproveitamento é da ordem dos 80 a 90%, sendo
a taxa de aproveitamento nos exames de recurso da ordem dos 44%.
Tendo em conta a especificidade dos exames, é uma excelente
taxa", defende.
À semelhança do seu homólogo da Gestão,
José Manuel dos Santos considera que "os alunos com
uma nota fraca no exame de época normal não têm
tempo para preparar a matéria para um exame de recurso
que se realiza 2 a 3 semanas após o exame de época
normal. Por outro lado, os alunos que desejem subir nota não
o poderão fazer de modo algum, nestas condições."
Em jeito de conclusão, José Manuel Santos avisa
que "se houver UCP's que achem que o calendário é
positivo, então que se aprove o calendário para
quem estiver satisfeito com ele".
Posição do Pedagógico
O Conselho Pedagógico da Universidade
da Beira Interior ainda não emitiu um parecer sobre todo
este assunto, estando à espera dos resultados do referendo
dos próximos dias 23 e 24 de Fevereiro e de uma reunião
agendada para o final deste mesmo mês; no entanto o Pedagógico
da UCP de Ciências Sociais e Humanas já se pronunciou.
Surpresa? Talvez não. Houve unanimidade nos votos contra.
Rui Lopes e Rodolfo Silva |