Muitos comerciantes não sabem diferenciar o Queijo da
Serra da Estrela de qualquer outro queijo de ovelha curado
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Queijo da Serra da Estrela com novo selo e produção fiscalizada
A tradição já não é o que era
Maus tempos para o famoso Queijo da
Serra da Estrela. Depois da falsificação vem agora o leite espanhol
adulterar as características que fizeram dele um dos melhores queijos
do mundo. Contra a primeira, criou-se um novo selo. Contra o leite,
procura-se ainda a solução.
O Queijo da Serra da Estrela é um queijo
curado de fabrico artesanal, produzido com leite de ovelha bordaleira,
sal e flor do cardo, de acordo com uma técnica secreta que a maioria
dos produtores controla mas não revela. As suas qualidades, aliadas a
factores como o apuro da queijeira, o leite e as condições naturais da
região, fazem dele um dos melhores queijos artesanais do País e,
porque não, do Mundo.
No entanto, este produto está em risco de desaparecer tal como o
conhecemos, devido a adulterações no método de fabrico, que passam
pelo uso de leite espanhol. Proveniente do norte de Espanha, o uso deste
leite deve-se, sobretudo, ao facto de ser muito mais barato que o leite
dos rebanhos da Serra da Estrela. Aos 220 e 225 escudos por litro do
leite serrano contrapõe-se os 65 escudos/litro do leite espanhol. Para
muitos produtores, a escolha não deixa dúvidas.
A preocupação com a manutenção da genuinidade do queijo já não é
recente, estendendo-se aos anos 80. Foi então que os fundos
comunitários começaram a apoiar as queijarias da Serra da Estrela,
para verem cumpridos os requisitos de higiene e método de produção
impostos pela Comunidade europeia. Mas dos 2500 produtores de leite e
1250 fabricantes do concelho, apenas oito por cento se modernizaram e
apenas um quarto têm queijarias certificadas.
Selo "impossível de falsificar"
A par dos problemas que envolvem a
produção, surge a questão da falsificação. A Polícia Judiciária (PJ)
da Guarda apreendeu recentemente uma tonelada de Queijo da Serra
falsificado. As investigações prosseguem, tendo já sido apurada a
presumível falsificação de carimbos de salubridade e de selos de
certificação e a venda ilícita do queijo em grandes superfícies como
se fosse certificado. Segundo a PJ, esta situação terá ocorrido nas
zonas de Seia e Sintra, tendo sido identificados dois comerciantes
presumivelmente envolvidos na fraude. A PJ apreendeu ainda mais uma
toneldada de queijo, carimbos de salubridade falsificados e, numa
tipografia de Viseu, os fotolitos utilizados na falsificação.
As investigações contam com a colaboração da Direcção Geral de
Fiscalização e Controlo de Qualidade Alimentar e da Direcção Central
de Combate à Corrupção, Fraudes e Infracções Económico-Financeiras
da Polícia Judiciária.
Para evitar as falsificações, foi criado um novo selo para o Queijo da
Serra da Estrela, que será entregue no final de Fevereiro. Todo o
queijo produzido na região, que inclui os concelhos de Seia, Manteigas,
Nelas, Mangualde, Tondela, Celorico da Beira, Gouveia, Penalva do
Castelo, Fornos de Algodres e Carregal do Sal, deve possuir um selo de
garantia ou denominação de origem. Só neste caso poderá chamar-se
Queijo Serra da Estrela.
Este selo terá umas marcas idênticas às utilizadas nos cartões
multibanco, "praticamente impossíveis de falsificar", segundo
Jorge Pais, presidente da FAPROSERRA - Federação das Associações de
Queijo Serra da Estrela.
Quanto à certificação do queijo, este responsável refere que é
necessário que os produtores licenciem as queijarias para possuir a
marca de salubridade, que não só dará prestígio ao queijo como irá
garantir ao consumidor que está a comprar um produto de qualidade. No
entanto, reconhece que vai ser difícil levar os produtores a aderir à
certificação, não só devido aos custos que esta acarreta mas
sobretudo porque, tratando-se muitas vezes de produções pequenas, o
produtor vende facilmente os seus queijos a clientes certos, preferindo
não se preocupar com burocracias.
Catarina Moura
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