Os encenadores sentiram-se atraídos pelo entusiasmo e
abertura do Teatr'UBI
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Harvey Grossmann e Ruth Mandel na Covilhã
A arte do movimento
Um cenário que se move durante toda a peça,
conjugado com música, poesia, e mais movimento... Eis a proposta dos
encenadores Harvey Grossmann e Ruth Mandel e do Teatr'UBI.
O Teatr'UBI - Grupo de Teatro da Universidade da
Beira Interior está a preparar uma surpresa para a abertura do IV Ciclo
de Teatro Universitário, a decorrer na Covilhã entre 13 e 18 de março.
São duas as peças que estão, desde Outubro, a ser preparadas por dois
distintos encenadores internacionais: Harvey Grossmann e Ruth Mandel. A
estrear vão estar "Hamlet" de William Shakespeare e "E a
viagem começou" de Ruth Mandel.
Estes dois encenadores trabalham em conjunto há muitos anos, num
percurso que passou pelos Estados Unidos, Bélgica e Portugal,
nomeadamente pela Expo'98, onde apresentaram "A visão dos
Lusíadas"; e por Loulé, no Algarve, onde a encenadora escreveu e
estreou "E a viagem começou". Entretanto, começam já a
preparar uma peça a ser apresentada na próxima expo na Alemanha, em
Hannover, a qual, adiantam, irá contar com a participação de dois
actores portugueses.
Harvey Grossmann havia já dado formação no CENDREV a alguns dos
actuais actores do Teatro das Beiras, e foi através de um deles, Vítor
Correia, que foi convidado pelo Teatr'UBI a fazer uma conferência
acerca do seu tutor Gordon Craig, durante o III Ciclo de Teatro
Universitário da Beira Interior. Daí ao convite para encenar a
próxima peça do Teatr'UBI foi um pequeno passo.
Dinamismo total
O encenador havia desde logo criado uma empatia
especial pelo grupo, o que viria mais tarde a consolidar-se com o
desenrolar dos ensaios: "Toda a gente do Teatro'UBI é, pelo seu
entusiasmo, muito diferente dos que podemos chamar actores profissionais
que fazem tudo muito categoricamente. No Teatr'UBI as pessoas são muito
abertas aos chamados impulsos artísticos, embora digam ser esta uma
forma de trabalhar muito diferente daquela a que estão habituados"-
refere.
A sua encenação para "Hamlet", de Shakespeare, está a ser
orientada segundo a concepção do seu professor, Edward Gordon Craig,
fundador de uma visão muito futurista de teatro.
As concepções de palco e cenário são transformadas em algo que está
em constante movimento, "de tal modo que quando um actor sai de
cena não deixa necessariamente de representar mas começa a contracenar
com o cenário, que se movimenta em simultâneo com os actores. A
intenção é criar um estado de completo dinamismo"- refere
Grossmann. Deste modo, estimula-se em teatro a relação do homem com o
que o rodeia, e que está em constante mudança, tal como acontece na
vida real...
Poesia, música e movimento
em E a Viagem Começou
É também pelo movimento que se caracteriza a
peça "E a viagem começou", mas não só. O espectáculo
resulta da conjugação de três elementos muito importantes: poesia,
música e movimento. Encenadora e poetiza, Ruth Mandel diz escrever em
poesia porque o seu ritmo, o ritmo da música e o ritmo do movimento se
conjugam tornando-se apenas um, de tal modo que actores e público
perdem a noção do que distingue estes três elementos.
A história leva-nos ao início dos tempos e às figuras simbólicas das
profundezas do oceano, representativas da pureza original do mundo, para
entrar, mais tarde, na parábola bíblica da Arca de Noé. É uma peça
cheia de simbolismos que traz para os dias do presente, aquilo que Ruth
caracteriza como a simbólica verdade de todos os tempos. E acrescenta:"
este tema é hoje extremamente actual, especialmente porque estamos a
atravessar um período de mudança que pode trazer muitos aspectos
positivos mas também muitos negativos. Temos que lembrar-nos que apenas
o Homem é único responsável pelo seu futuro"...
Por todas as razões, duas peças a não perder no Teatro-Cine da
Covilhã a 13 de Março.
Sílvia Ferreira
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