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Rede Anti-Pobreza com núcleo na Beira interior
"Idosos precisam de respostas
sociais dignas e justas"
- realça o Provedor da Misericórdia do Fundão
Encontrar respostas que libertem os idosos das dependências sociais
que lhes estão normalmente associadas. Um objectivo que mobilizou quase
300 pessoas em dois seminários diferentes
Défices de saúde, baixo nível de rendimentos e
isolamento. Problemas que nas sociedades contemporâneas tendem a
convergir num único sentido: velhice. Foi com a intenção de abordar
estas e outras questões e de lembrar que 1999, Ano Internacional da
Pessoa Idosa, deve continuar, que duas entidades da região realizaram,
na última sexta-feira, 21, e sábado, 22, duas acções dedicadas à
problemática da Terceira Idade.
A primeira, organizada pela Santa Casa da Misericórdia do Fundão, sob
o lema "A Terceira Idade face ao terceiro milénio", decorreu
na Universidade da Beira Interior. A segunda, da responsabilidade da
Associação de Socorros Mútuos Mutualista, teve lugar na ANIL e foi
subordinada ao tema genérico "No novo milénio, um envelhecimento
em harmonia".
Rede Anti-Pobreza e Misericórdia unidas
Na UBI, como complemento ao seminário, assinalou-se
a criação do núcleo regional da REAPN - Rede Europeia Anti-Pobreza /
Portugal. Uma organização dedicada à solidariedade social, fundada em
território nacional em 1991, e com uma sede em Bruxelas. "Uma
coligação independente de associações, grupos ou indivíduos,
empenhados na luta contra a pobreza e exclusão social", segundo
definição do seu presidente, o padre Agostinho Jardim.
O núcleo da Beira Interior, em actividade desde sexta-feira, deverá
ficar sediado no Fundão. O Provedor da Santa Casa da Misericórdia
fundanense, Manuel Antunes Correia, um dos elementos fundadores da REAPN,
avança com todo o apoio: "Estamos completamente abertos a
disponibilizar tudo o que estiver ao nosso alcance, no interesse de toda
a região, de forma a que a sede possa ser no Fundão".
Mas o importante, afirma o Provedor, é mesmo o arranque da delegação.
"Estamos numa das mais idosa regiões do País, e como nada na vida
se pode fazer isoladamente, a Rede é uma excelente oportunidade para
todas as entidades com projectos na área da solidariedade social, os
apresentarem e desenvolverem. Todos não somos demais", realça
Manuel Antunes Correia. O presidente da REAPN complementa: "A
primeira coisa que se pretende com a abertura deste núcleo é que as
instituições comecem por se encontrar entre si, de forma a encontrarem
respostas globais. Em que os pobres, os desempregados e os excluídos se
possam rever". Respostas que Agostinho Jardim não quer
tradicionais, como a esmola ou a assistência pontual, mas sim "libertadoras".
"Que os coloquem na vida activa sem remendos. De uma forma
definitiva, digna e justa. Sem dependência de subsídios", defende.
Ruy de Carvalho: "Um idoso não deve ir
abaixo"
A sessão de encerramento dos trabalhos contou com
a presença, entre outras individualidades, do secretário de estado
Adjunto do Ministério d Solidariedade, Segurança Social,
Qualificação e emprego, Rui Cunha, e do actor e presidente da
Comissão Nacional para o Ano Internacional das Pessoas Idosas, Ruy de
Carvalho. Segundo este último, o balanço das comemorações que
decorreram durante todo o ano passado só devem aparecer em Março. O
presidente da Comissão, no entanto, adianta já um saldo extremamente
positivo: "Portugal foi o país europeu onde se realizaram mais
acções no âmbito do ano Internacional do Idoso. O que me enche de
alegria e me faz sentir que estou a encarnar um papel que me faltava: o
de ser útil ao meu semelhante".
O actor recordou ainda as ligações à Covilhã, onde fez o ensino
primário e onde, pela primeira vez, pisou um palco e interpretou uma
peça. No final, deixou uma mensagem: "Um idoso não deve ir abaixo.
Temos de viver a vida intensamente até ao fim".
Preparar o envelhecimento
O secretário de Estado, depois de uma análise
das políticas governamentais implementadas nos últimos anos "para
minorar os problemas impostos à Terceira Idade", sintetiza a ideia:
"A par do papel insubstituível do Estado, há que apostar em três
outras vertentes de forma a que o idoso esteja integrado em toda a sua
abrangência social. Na responsabilização da família mais próxima,
na educação de crianças e jovens, alertando-os para os princípios
que sustentam a sociedade e, por último, na necessidade de prepararmos
o nosso próprio envelhecimento". Uma medida relacionada não só
com a adopção de hábitos e estilos de vida saudáveis, mas também
com a interiorização da ideia de que a dignidade da vida humana tem o
mesmo valor à nascença como na velhice.
Sérgio Felizardo/NC
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