Mais um ano lectivo iniciou e com ele a chegada de novos alunos à universidade, alguns com vontade de conhecer a tão famosa praxe, muitos outros apenas com vontade de estudar, e encarar uma nova etapa no seu percurso estudantil.
Entrar na universidade é quase sempre sinónimo de ser praxado, mas aceitar este costume adoptado pelos estudantes fica ao critério de cada um, pois pode escolher-se ser praxado ou não. Mesmo quando se quer ser praxado, deve-se ter em conta o código de praxe de cada academia.
Na Universidade da Beira Interior, e segundo o código de praxe, praxar consiste em “todo e qualquer uso ou tradição existentes, praticadas por estudantes da UBI ou decretadas pelo Fórum Veteranum”. Já o Artº 2 do Código de Praxe define o que não é praxe: “Não constitui Praxe Académica todo e qualquer acto de cobardia e/ou violência gratuita, praticado por qualquer estudante da UBI, ou qualquer tipo de coação com objectivos de obter benefícios de cariz financeiro”.
Segundo Pedro Guimarães, Praxis Imperatorum, (é uma categoria honorífica da Praxe, atribuída pelo Fórum Veteranum a antigos Imperatorum), a “praxe Ubiana, é uma praxe muito intensa e curta, e tem como principal objectivo a integração dos caloiros. O ponto mais alto desta praxe é a latada, onde os caloiros e demais membros da Academia demonstram o orgulho pelo seu curso e interagem com as pessoas da Covilhã”.
Mas o que para muitos é o momento mais aguardado assim que sabem o resultado das candidaturas, para outros é um tormento. Catarina Sebastião entrou este ano na Ubi, e as praxes são algo que sempre a preocupou. Catarina diz que “quando chegou o dia da matrícula e fui recebida com berros e exigências, decidi logo não aparecer. Não assinei nada, simplesmente nunca fui a nada de latadas nem nada dessas coisas, acho que não preciso da praxe para me integrar”, defendeu. Já Telmo Mota encara a praxe como algo desnecessário, “uma vez que já vinha de outra universidade, não vi interesse nenhum em ser novamente praxado, e o facto de serem pessoas mais novas que eu, não me cativou, é triste é só se poder fazer parte de uma turma se fizemos latada e baptismo. O que havia de nos unir são os conteúdos do curso e não o espírito académico que muitos dizem ter e não têm”.
Para Ana Monteiro “a praxe é muito importante para a integração dos alunos no curso, na cidade, e apesar de por vezes ser difícil, e a pressão ser imensa, é muito importante podermos participar”. Na Ubi existem para além dos praxantes de cada curso, as milícias, que como nos diz o Código de Praxe “são grupos de praxantes organizados, e que nocturnamente zelam pelo exercer de forma correcta e adequada da Praxe, pelo espírito e tradição académica, de modo alegre e divertido para todos os intervenientes, e motivando no processo os jovens e inexperientes caloiros a seguir o velho e desactualizado costume estudantil de ficar em casa a estudar”.
Rita Sena membro da Milícia Maleficiis (feitiçaria) declara que “a praxe é bastante importante para a integração uma vez que serve para ajudar os caloiros a conhecer melhor a cidade, melhor os colegas de curso, bem como os de outros cursos. E ajuda-os principalmente a criar uma família, pois vão precisar dela nos anos que se seguem. Aquele mês inicial de praxe é muito bom para isso, porque é um mês em que não param quietos, e assim vão-se habituando à nova cidade sem darem conta, e passado esse mês já conhecem tudo e já têm amigos”.
Apesar de todas as regras que existem, continua a haver pessoas mal intencionadas que praticam praxes abusivas. Segundo José Lourenço membro da Milícia Terrorem Spargere (Espalhar o terror) “é óbvio que praxe abusiva vai continuar a existir ao longo dos anos. Mas a meu ver já começa a existir muito menos devido ao bom controlo que se está a fazer por parte dos responsáveis da praxe. Este abuso acontece muitas vezes porque enquanto caloiros, passamos por várias situações, quer boas quer más, e quando se chega à altura de se poder praxar, muitas vezes o que vem a cabeça são as situações más que se passaram enquanto caloiro, e como tal se "eu" passei os outros também vão passar por elas e se possível fazer ainda pior. Por isso o que se pede é que, quem tenha passado por situações destas, não mande fazer as mesmas a alguém enquanto caloiro.”
Agora na UBI praxe deste ano está achegar ao fim. Na passada quarta feira, dois de Novembro, realizou-se o baptismo, cerimónia em que o curso de Aeronáutica conseguiu o primeiro lugar e o segundo no desfile da Latada, uma vez que o primeiro é ocupado pelo vencedor da Latada do ano anterior, Medicina. Neste baptismo todos os cursos mostraram com muito orgulho as suas coreografias, preparadas ao longo de cinco semanas.
O balanço da praxe este ano «é positivo» e as actividades realizaram-se «sem grandes conturbações». Pedro Guimarães afirma “tal como nos anos anteriores a praxe dos caloiros este ano correu bem, com o habitual espírito de integração e com um grande espírito de entrega, caracterizados também pela realização de eventos de cariz social, realizados por caloiros em Praxe, durante o dia da cidade, como o acompanhamento de pessoas de idade no Lar de S. José e um peditório efectuado para apoiar alunos carenciados”.
É já esta quarta-feira, 9 de Novembro, que se realizada mais uma Latada, em que os caloiros vão mostrar a toda a cidade os carros que durante estas sete semanas se empenharam em fazer, cânticos, animação e coreografias, e que os habitantes podem apreciar nas ruas da Covilhã.