Para chegar ao projeto final foi necessário juntar o conhecimento de três departamentos e da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (UBI). Esse projeto intitulado Doctor Mobille é uma aplicação informática para smartphone ou tablet, destinada à área médica que permite um acompanhamento mais próximo dos doentes com dor.

O trabalho de Nuno Pombo, desenvolvido tendo por base uma tese de Doutoramento defendida na UBI, já este ano, foi ensaiado em pacientes do Hospital Sousa Martins, da Guarda, e agora espera comercialização.

O sistema consiste na criação de uma base de dados personalizada do paciente, que tem como objetivos analisar os parâmetros de dor e servir de alerta para os medicamentos a serem administrados e os contactos necessários com os profissionais de saúde.

“Não visa substituir o médico, antes pelo contrario”, salienta Nuno Pombo, explicando: “Pretende complementar e apoiar as decisões médicas. Por muito que o sistema possa estar configurado e debitar informação, gera conhecimento com base nos dados recolhidos e vai apresentá-lo ao médico para que o possa validar e tomar decisões”.

No teste realizado na unidade de saúde da Guarda, o sistema foi aplicado a 80 pacientes com dor aguda, em fase pós-operatória de intervenções nos membros – mãos, pés e joelhos – e pessoas com doenças musculares, ósseas e geradoras de dor.

Uma das conclusões é que facilita o trabalho ao médico. Ao observar doentes num período de monitorização de cinco dias após intervenções, por intermédio do sistema, o profissional de saúde teve a noção de quais os pacientes que estavam sem dor ou não e a partir daí desencadear, então, o habitual contacto telefónico.

Para chegar ao resultado final, Nuno Pombo aplicou conhecimentos dos departamentos de Engenharia Aeroespacial, Matemática, Informática e da Faculdade de Ciências da Saúde. Destas áreas foram utilizados, entre outros, algoritmos que tratam a informação inserida pelo paciente para auxiliar a decisão médica. A tese foi orientada pelos docentes Pedro Araújo, do Departamento de Informática, e Joaquim Viana, da Faculdade de Ciências da Saúde. Contou ainda com o apoio do portal SAPO e da Portugal Telecom.

Agora, o objetivo passa por conseguir ampliar a abrangência da aplicação. Irá surgir um novo ensaio clínico, desta vez na Covilhã, e depois tentar que o sistema chegue ao mercado. Nesta altura, existem negociações, que Nuno Pombo opta por não revelar. “O segredo é a alma do negócio, mas não só”, esclarece. “Devido à boa relação que temos tido com os nossos parceiros, todas estas decisões têm de ser ponderadas em conjunto. Aquilo que podemos garantir é que vai haver próximos passos e iremos potenciar as vantagens que já detetámos desta aplicação, complementá-las com outras e avançar para o mercado porque achamos que podemos contribuir para uma melhoria da qualidade de vida das pessoas”, conclui Nuno Pombo, licenciado e mestre pela UBI, nas áreas de Matemática e Informática.

O dispositivo tem um potencial mercado de três milhões de portugueses que sofrem de dor crónica, a que se acrescentam cerca de 500 mil intervenções cirúrgicas que obrigam a um controlo da dor aguda.