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Celebrações do ciclo do Inverno
João Figueira · quarta, 1 de janeiro de 2014 · Continuado
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21946 visitas Em meados do século XX, existiam ainda em algumas regiões da Europa, nos países alpinos, gelados e balcânicos, certas celebrações do ciclo do Inverno em que aparecem mascarados. Nos casos mais característicos, estes mascarados representam personagens tradicionais definidas. Por vezes é patente a relação destas personagens, demónios e fantasmas com os mortos, e pode por isso supor-se que elas constituem elementos que em tempos longínquos faziam parte das cerimónias do culto aos mortos. Em Portugal vamos encontrar máscaras deste tipo nas terras do nordeste transmontano. Máscaras integradas nas festas, de rapazes, de Santo Estêvão, do Natal, do Ano Novo e dos Reis e, em casos especiais, do Carnaval. A festa dos rapazes é uma espécie de rito que assinala o ingresso dos moços na classe dos adultos. Rito composto de vários episódios dos quais, em geral, são totalmente excluídas as mulheres. Em Varge e outras aldeias daquela área, essa festa tem lugar no dia de Natal. Os rapazes solteiros, depois da Missa e do beijar do menino, saem em grupo e alguns vão vestir então os fatos de mascarados. Aqui não representam quaisquer personagens definidas, são apenas uns diabretes irreverentes e travessos aos quais se liga uma ideia difusa de diabolismo inofensivo. Ao sair da Igreja, dirigem-se para o largo da Aldeia e colocam-se à entrada das ruas de modo a encurralar o povo que chega da missa para os obrigar a ouvir as “loas”, longas tiradas em verso, em forma de crítica dos acontecimentos do ano com uma marcada acentuação humorística e mordaz, preparados e ensaiados meses antes pelo poeta da aldeia. Findas as loas, tem lugar a ronda que percorre toda a aldeia, precedida pelos gaiteiros, definindo os seus passos simbólicos. Mordomos e mocidade visitam todas as casas da aldeia dando as boas festas, em troca recebem as oferendas que são colocadas nos ramos festivos. Os mascarados mais atrevidos roubam chouriços dos fumeiros, nesta ocasião tais liberdades são consentidas pela tradição. Nas festas de Santo Estêvão, a 26 e 27 de Dezembro, representam a fusão de elementos religiosos cristãos e pré-cristãos, mágicos e profanos. Constam, além das cerimónias religiosas habituais, de uma refeição coletiva e abençoada, a mesa de Santo Estêvão instalada no largo da aldeia para a qual todos contribuíram e na qual todos tem direito a participar. Os mascarados também não representam aqui quaisquer personagens definidas, são os mesmos diabretes, elemento ritual autónomo excluídos dos atos santificados. |
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