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José Sócrates apresenta obra sobre tortura em democracia
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 18 de dezembro de 2013 · @@y8Xxv O antigo primeiro-ministro veio à Covilhã defender que não há espaço para a tortura em democracia. Na terra que considera sua, falou-se apenas de filosofia política |
José Sócrates apresentou a obra perante uma plateia onde reviu muitos amigos |
21964 visitas Uma reunião de amigos, mas também com a presença de adversários políticos, que quiseram estar presentes. A caracterização foi de José Sócrates ao dar início à apresentação de “A confiança no Mundo – Sobre a tortura em democracia”, livro que resultou da dissertação de mestrado do antigo primeiro-ministro nos anos passados em Paris, após a saída da chefia do Governo português em 2011. E assim foi. O auditório da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (UBI) esteve praticamente cheio, com muitas figuras da política regional, apesar de não se ter falado de política. Ou não tivesse Paulo Serra, um amigo dos tempos de liceu encarregado de apresentar a obra, estabelecido desde logo o propósito do encontro. “Este é um ato académico e não um ato político, embora no caso de José Sócrates seja difícil dissociar o académico do político. Vou centrar-me no académico e deixar o político para outras andanças”, disse o presidente da Faculdade de Artes e Letras da UBI. O José Sócrates que esteve na Covilhã foi então o investigador, autor de uma obra que analisa o fenómeno da tortura na atualidade. Ainda se referiram algumas obras que o antigo governante conseguiu para a região onde viveu, mas apenas de passagem. O momento era de reflexão em torno daquilo que leva os Estados a introduzir uma prática que há muito estaria abandonada na relação do poder com os indivíduos. E o autor lança a questão: “Como é possível que nos últimos 60 anos a democracia se tenha esforçado por banir a tortura e o tema tenha regressado no século XXI como um tema aceitável. Foi este espanto que me levou a interessar-me pelo assunto”. O tema, trabalhado numa dissertação, apresenta, porém, uma tese que para Paulo Serra reflete o pensamento e, simultaneamente, o tal percurso político do antigo secretário-geral do Partido Socialista. “Não consigo desligar o José Sócrates político do José Sócrates autor de uma obra de filosofia. Este livro só podia ter sido escrito por alguém que tivesse a sua formação humanista”, explicou o docente que avançou logo com a ideia central: “É defendido que em nenhum caso a tortura pode ser instituída como lei numa democracia. A tortura é um mal absoluto”. Da análise da Argélia, nos anos 1950, aos Estados Unidos, do pós 11 de setembro, o percurso argumentativo aponta para a rejeição da tortura com um trajeto combinado pela história, moral e teoria democrática. Em vários momentos, ao longo de aproximadamente uma hora, Sócrates usou todos os argumentos para reforçar a rejeição dessa prática. “Uma democracia em tortura não vive em paz consigo própria. Não se reconhece”, afirmou durante a apresentação. Antes de se falar da obra, coube ao reitor da UBI abrir a sessão para convidar José Sócrates “a recolher-se à Covilhã para encontrar o espaço para a redação de outros livros”. Antes, certamente, o antigo governante virá à Universidade para tomar posse como novo membro do Conselho Geral da UBI, depois de ter aceitado integrar o órgão. António Fidalgo agradeceu a anuência e Sócrates confessou-se emocionado: “Aceitei imediatamente. Não há nada melhor do que ser estimado na própria terra”. |
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