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CUBO: Madeiro e mesa farta em época de partilha
João Gaspar de Gonçalves · quinta, 27 de dezembro de 2012 · Continuado O Natal é uma época festiva repleta de tradições, usos e costumes. No Cubo, uma aldeia às portas da Guarda, o Natal faz-se de madeiro, de Missa do Galo e com a família reunida em redor da mesa. |
Espaço decorado por uma das vinte escolas que aderiu à iniciativa de embelezamento da cidade da Guarda com motivos natalícios, construídos por alunos, professores e pessoal não docente. |
22005 visitas As festividades natalícias no Cubo começam logo no início do mês de dezembro com um torneio de sueca entre os membros da povoação, este ano realizado no dia 8. No dia 24, noite de consoada, era habitual a população reencontrar-se à volta do tradicional madeiro, local onde as pessoas conviviam, partilhavam experiências, cantares e memórias. Mas esta tradição acabou há três anos. Alexandre Pissara, 28 anos, habitante da povoação, explica que “a adesão das pessoas reduziu-se significativamente e acabou por se desistir de tal evento”. Carlos Moreira, 48 anos, habitante da aldeia, relembra que os jovens se agrupavam por volta das 14 horas do dia 24 de dezembro, com um carro de bois para recolherem a lenha para fogueira nos pinhais da região. Horas depois, os habitantes juntavam-se para acender o madeiro no Terreiro do Cubo, situado atrás da Capela da Nossa Senhora da Póvoa. Para a cerimónia, cada um levava uma bebida, desde chocolate quente a bebidas alcoólicas, partilhando-as com os demais. Em redor da fogueira conversavam e distribuíam bebidas para aquecer. Depois do madeiro se apagar, cada um regressava a sua casa, para consoar junto da família. Ali perto, em Mata de Lobos, a queima do “toro” reúne em redor do madeiro todas as pessoas que vão cantarolando a expressão “arda o tóro, viva o Nóro”. O Nóro foi um aldeão que, numa noite de consoada, subiu para um tronco do madeiro, enquanto ele ardia saudando as pessoas, num ato de coragem. O espírito natalício beirão é repleto de tradições bem enraizadas nas gentes egitanienses. Na noite de consoada, em Almofala, Figueira de Castelo Rodrigo, os habitantes tinham como costume “cantar as festinhas”. Assim, após a ceia, as crianças batiam de porta em porta para cantar músicas transmitidas de geração em geração, gritando: “cantamos as festinhas?”. Terminadas as cantorias, recebiam algumas oferendas, tais como figos, nozes, amêndoas e enchidos. As casas que se negassem a oferecer estes “presentes” tinham como resposta alguns versos menos simpáticos. Após percorrem a aldeia juntavam-se em redor da lareira para distribuir as ofertas. Na mesa da consoada reina o típico bacalhau com todos, bem como o polvo e alguns doces tradicionais como o arroz doce. No dia 25, o cabrito assado toma o lugar de destaque no almoço de Natal. As famílias juntam-se em redor de uma mesa farta para viver o espírito natalício, numa partilha de experiências, vivências e histórias. Em algumas terras, como em Freixedas, após a Missa de Natal, cantam-se alguns versos: “À tua choupana fria. Vimos hoje cantar. E com anjos jubilosos. Cheios de amor a suplicar. Do sepulcro Tu saíste, Qual potente vencedor, Tu do mundo serás Da paz o defensor.” Já em Mata de Lobos, os homens cantavam alguns versos a que as mulheres retorquiam: “Bendito e louvado seja. O Menino Deus nascido, E o ventre que O trouxe, Nove meses escondido. Bendito e louvado seja. O Menino Deus nascido em Belém. Batizado no rio Jordão. Foi crucificado em Jerusalém. E Vós, ó Virgem Maria, Mãe de Deus e Virgem Pura, Dos anjos sejais louvada, E por toda a criatura.” Na cidade da Guarda, as decorações de Natal foram, este ano, imbuídas pelo espírito natalício, num ato de entreajuda e de entrega de alunos, professores e pessoal não docente. Mais de 20 espaços da cidade foram decorados com motivos natalícios e muita criatividade, recorrendo à reutilização de materiais. A iniciativa envolveu as escolas da cidade, a Câmara Municipal da Guarda, a Associação Comercial da Guarda e a Agência para a Promoção da Guarda, entre outras entidades. Na Aldeia Viçosa, no dia 26 realizou-se mais um “Magusto da Velha”. Esta tradição consiste na distribuição de 150 quilos de castanhas e 150 litros de vinho, após o almoço, no Largo da Igreja. O “Magusto da Velha” resulta de uma dádiva com base numa herança, de uma mulher abastada, conhecida por “velha” na região. Desde 1698, até aos dias de hoje, a Junta de Freguesia recebe trimestralmente uma renda perpétua de 14 cêntimos. A única exigência desta benemérita foi que os populares orassem um Pai-Nosso pela sua alma. Na manhã de dia 26, realizou-se mais uma missa em seu nome. Para além das muitas tradições que tornam o Natal uma data tão especial, aqui e ali começam a surgir novidades marcadas pela criatividade. Uma das mais marcantes na região foi organizada pela Junta de Freguesia de São Pedro, em Celorico da Beira: o concurso “Couves de Natal”. A Missa do Galo também tem as suas particularidades. Se na maioria dos locais decorre à meia-noite de 24, na povoação do Cubo esta tradição espera até ao dia 25 para se concretizar: pelas 12 horas, na Igreja de Nossa Senhora da Fumagueira, Maçainhas, beija-se o menino Jesus. |
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