Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Décimas
· quarta, 15 de agosto de 2012 · Continuado
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21957 visitas OS MEUS DOIS ENTES MAIS QUERIDOS
OS MEUS DOIS ENTES MAIS Q’RIDOS ESTÃO NA MESMA SUPULTURA REPRESENTAM PARA MIM A AMIZADE MAIS PURA
1. Meu pai foi muito infeliz, Teve uma triste doença, Só teve de recompensa Quem o lamenta e o diz. Tudo o que pude lhe fiz, Sempre vivemos unidos, Ainda não estão esquecidos, Recordo-os com saudade, Já estão na eternidade OS MEUS DOIS ENTES MAIS Q’RIDOS.
2. Meu pai penou, sofreu muito, Faz-me recordar Jesus, Carregou com uma cruz Enorme no seu conjunto. Sei como foi, não pergunto, Dos meus pais a desventura, Recordados com ternura Por mim serão sempre aqueles, Por morte juntem-me a eles ESTÃO NA MESMA SEPULTURA.
3. Não julgo pagar –lhe tudo, Quanto lhe devo não sei, Só sei que os não desprezei E trabalhei desde miúdo. Além disso não me iludo, Que outros não sejam assim, Do princípio até ao fim Tive-lhe afeto profundo, O que há de melhor no mundo REPRESENTAM PARA MIM.
4. Ambos me deram a vida, De facto a coisa mais linda É pena não ter ainda Meu pai e minha mãe querida. Mas a lei está definida, Partimos na nossa altura, Embora com amargura São tudo regras que aceito, E venero com todo o respeito A AMIZADE MAIS PURA.
Em 1976, quando a sua mãe morreu.
A MULHER TINHA RAZÃO
A MULHER TINHA RAZÃO QUANDO DIZIA NÃO FUMES TU TOMA-ME OPINIÃO DEIXA-TE DESSES COSTUMES
1. Certa manhã acordei Pensei logo no tabaco, Reconheci que era fraco Contra mim me revoltei. Muitas vezes me humilhei Por não tomar atenção Aos conselhos que nos dão Sobre este grande inimigo, Sempre que ralhou comigo A MULHER TINHA RAZÃO.
2. De manhã é só tossir, À noite já respiro mal, E d’uma maneira tal Que me evito sair. E a mulher a insistir, Dizendo quero que t’aprumes, Não quero qu’em ti avolumes O mal que já se revela, Muita razão tinha ela QUANDO DIZIA NÃO FUMES.
3. Também bebo os meus copinhos Mas é de tempos em tempos, Talvez que os meus sofrimentos Provenham dos cigarrinhos. São perversos são daninhos, Mas dão-nos satisfação E diz-me a mulher da bem não: Se me quiseres ver contente Deixa o tabaco para sempre TU TOMA-ME OPINIÃO.
4. Por vezes tenho tentado Esquece-lo, mas não há meio, Zango-me e não o odeio, Está um trabalho engraçado. Quando vou p’ra qualquer lado Lembra-me mais qu’aos perfumes E a mulher com azedumes Diz-me assim: grande maroto, Já vais acender outro, DEIXA-TE DESSES COSTUMES!
2002, quando tentava deixar de fumar.
CONHECI MUITOS POETAS
CONHECI MUITOS POETAS NASCIDOS NO MEU CONCELHO ALGUNS DO QUE EU MAIS REUINS A OUTROS, NEM ME ASEMELHO
GLOSAS 1. Em Ferreira e Montes Juntos Houve artistas do melhor Que sabem isto de cor Ainda existem muitos. Daqueles que em vários assuntos Tinham obras completas Até pareciam profetas No seu jeito de rimar, Que devemos recordar CONHECI MUITOS POETAS.
2. Na aldeia de Carneira E em Santiago Maior Há quem faça a pormenor Versos que davam dinheiro. Nos Orvalhos o primeiro Que o recordar aconselho, As suas obras são um espelho Não lhe conheci defeitos, Foi talvez um dos mais perfeitos NASCIDOS NO SEU CONCELHO.
3. Na freguesia de Terena Jerónimo e Joaquim Catita A sua arte é tã bonita Que os engrandeço sem pena. O que é bom não se condena, Ganham aos de Capelins, Versos deles a quaisquer fins Ouvirem-se é um regalo, Há outros de quem não falo, ALGUNS DO QUE EU MAIS RUINS.
4. Na minha aldeia, em Ferreira, Há agora um indivíduo De valor reconhecido Francisco Ferreira Moreira. Tem uma linda carreira, Eu sei que não o emparelho, Perante ele me ajoelho, Ser como ele não consigo, É com justiça que digo: A OUTROS NEM ME ASEMELHO.
REMATE Das outras terras distantes Não falei mas podem crer, Foi por não os conhecer, Até serão interessantes. Quero que sejam tolerantes, Não fiz com má intenção, Eu quero paz, quero união, Não quero brigar com ninguém Poe isso é que me convém De todos eles o perdão.
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