Que futuro?

Para Pedro, Edgar e Tiago o negócio tem corrido da melhor maneira. Fazem, maioritariamente, fotografia e vídeo de casamentos e sentem que têm a melhor profissão do mundo. A maneira de gravar e fotografar este tipo de eventos já não se assemelha aos cânones tradicionais. Primam pela descontracção, tentam que tudo pareça o mais natural possível e, para isso, optam por fazer sessões antes do grande dia, para que todos se conheçam e as coisas fluam. Por vezes, são o suporte de quem os contrata e daí nascem boas relações de amizade.

Num dia fazem registos de um casamento, no futuro chegam a fazer sessões com familiares ou amigos que estavam presentes nesse mesmo casamento. São, sobretudo, os mais jovens que requisitam os seus serviços e não é só por Portugal que vão captando momentos – também já receberam várias propostas vindas de outros países europeus. “Aquilo que antigamente era uma treta, ser fotógrafo ou videógrafo de casamentos, hoje em dia é a coisa mais fixe do mundo. E eu digo isto pela quantidade de pessoas que o estão a tentar ser. Os casamentos cresceram de uma forma que, hoje em dia, parece ser muito fixe. Mais do que isso, eu adoro estar com as pessoas, conhecer a história delas e no fim-de-semana seguinte acontecer tudo de novo”, diz Edgar que sente ainda que a sua evolução como videógrafo, como diz, foi muito rápida: “Eu não esperava nada, eu podia continuar a trabalhar para outros fotógrafos, podia nunca chegar a usar o meu nome, isto podia nunca ter acontecido. Ou seja, a evolução foi gigante. Poder ter agora trabalho, orgulhar-me um bocadinho dele ou não ter vergonha dele é a minha maior conquista”.

“É uma área um bocadinho complicada de gerir, porque é muito sazonal, então temos de ter alguma gestão do volume de trabalho e, obviamente, do dinheiro que vem daí para depois conseguir gerir fora dos meses em que não há tanto trabalho. Mas tem corrido bem, tenho tido boa aceitação, tenho conseguido chegar a pessoas que têm gostado do meu trabalho e acabam por me contratar, fazendo com que eu possa neste momento viver só disto”, avalia Tiago Pinheira.

Pedro Lopes nota muitas diferenças dos tempos em que começou para os de agora. Consegue mesmo destacar diferenças da primeira para a segunda metade de cada ano. “Os preços que eu pratico subiram muito e as pessoas (foto) a que chego mudaram. Chego a pessoas mais descontraídas, menos cerimoniosas, que querem divertir-se no dia, não querem só agradar aos pais e aos avós. Pelo menos essa é a minha luta, é cada vez ter mais desses casais”, destaca.

Ser freelancer não dá certezas: “Sabemos que tudo isto pode acabar se não nos mexermos, mas eu gosto da responsabilidade acrescida. Sinto que estou a lutar para mim”, como diz Edgar. E certezas são coisas que quem trabalha em lojas convencionais de fotografia também não tem. “As lojas, aos poucos, vão fechando e, se calhar, daqui a 15 anos já não há nenhuma. Os serviços fazem-se pela net… Se não houver uma voltazita grande, acaba por desaparecer o fotógrafo com a porta aberta. Antes tínhamos uns dez ou doze fotógrafos e hoje temos para aí duas lojas. E depois há os tais freelancer”, conta Filipe Pinto.

Nas instalações da ILFoto, ainda se fazem algumas fotos de família e sessões fotográficas com bebés. Mas os tempos, efectivamente, mudaram: “Antes éramos nove a trabalhar aqui e agora somos dois. Nos casamentos, quando é só fotografia, vai só um, porque não compensa ir dois e com esses fotógrafos de fim-de-semana vão três ou quatro para um casamento, pois, mesmo dividindo o pouco que ganham, ainda dá para dividir. Não pagam impostos e se ganharem pouco é melhor do que não ganharem nenhum”. Foi preciso contornar a quebra que se verificou e, para tal, começaram, por exemplo, com a personalização de produtos: “Ajuda. Tem de haver outras formas. Desde que tenha a ver com a imagem, por que não?”. Mas será que a salvaguarda do futuro será esta?

“Já há máquinas que fazem esses serviços de personalização. Acho que as lojas vão desaparecer, pelo menos o conceito que vemos agora. Podem é reabrir como estúdios”, sugere Pedro Lopes. Edgar acrescenta: “Talvez tudo passe pela internet. O site x personaliza-te a foto, tu mandas a foto, centras na caneca e mandas vir a caneca”.

Seja como for, contadores de histórias através de imagens vão continuar a existir. Seja em lojas, em estúdios ou em casas. Quem vive do tradicional, como José Pereira, deixa o conselho: “Temos de fazer com que as pessoas percebam que as melhores lembranças que se deixam para daqui a uns anos são as fotografias. Podemos deixar para os nossos filhos, para os nossos netos… Não tirando o valor às outras coisas, mas é a fotografia que nos faz recordar o passado”.

E como conselhos nunca são de mais, quem é fotógrafo freelancer também tem o que dizer, como Pedro Lopes: “Eu gostava que as pessoas respeitassem mais, que dessem valor. Já há muito tempo que não ouço aquela coisa do ‘é só carregar no botão’, mas… Nos casamentos, por exemplo, não se metam à nossa frente com o telemóvel ou com o iPad. Que haja mais noção…”. “Noção de que somos profissionais, como se fossemos de outra área qualquer.

Às vezes há um certo desrespeito por aquilo que estamos a fazer, como se fosse fácil. Era bom que olhassem para nós como se fossemos engenheiros, às vezes, e outras vezes como pessoas que criam coisas para os surpreender. Que criam alguma coisa para os comover. Nós trabalhamos muitas horas e há pessoas que pensam que não estamos a fazer mais do que a nossa obrigação. Tu tens de estar desde às 7h, quando a noiva se começa a preparar, até às 6h com o DJ a bombar. Quem mais trabalha tantas horas seguidas?”, questiona Edgar.

As verdadeiras montras já não estão por detrás dos vidros das lojas de rua. Estão por detrás dos ecrãs do computador, do smartphone, do tablet. A velocidade com que tudo se processa é cada vez maior, e a vontade de seguir em frente é uma constante, e é o que move estes profissionais. Em lojas, em estúdios, em casas, a magia da imagem, a eternização dos momentos, vai continuar a acontecer. Em papel ou em formato digital, são estes pedaços de memória os registos das nossas vidas, o verdadeiro testemunho das nossas vivências.

Voltar

A fotografia mudou

Modelos de negócio