Covilhã: uma cidade
para além da neve


Com cada vez mais notícias sobre o crescimento do turismo em Portugal, é natural perguntar: “e no interior, também?”. “Terão as pequenas cidades do interior a mesma sorte que as do litoral?”


Ana Beatriz Jacinto
Carina Fernandes
Cristina Graça
Mariana Costa

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Muitos, ao ouvir o nome Covilhã, pensaram no frio da serra, e em fazer bonecos de neve. No entanto a Covilhã não vive só no inverno, existe toda uma cidade ao longo da encosta da Serra da Estrela, da qual muitos se esquecem quando fazem uma visita ao ponto mais alto. O centro histórico talvez seja a parte mais esquecida, no entanto, é também aquela que tem mais para contar. Durante este trabalho encontrámos na zona antiga da cidade pequenos negócios que dão vida e que cada vez mais fazem com que os turistas alterem as suas rotas de viagem. 

Mobirise

A Tentadora

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A Casa das Muralhas

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Pura Natureza

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Mr. Cone


A Tentadora

A Tentadora, um negócio recente e com uma abordagem inovadora, tem um sucesso crescente, tanto entre habitantes da Covilhã como, e cada vez mais, entre turistas nacionais e estrangeiros. Este estabelecimento, com cerca de 83 anos, localizado numa rua escondida, tornou-se cada vez mais conhecido. Com um nome extremamente original, que remonta de 1935, A Tentadora, antiga mercearia, de há quatro natais para cá tem instigado a curiosidade e o interesse de todos os que passam naquela rua. Abriu com a intenção de ser um espaço de co-work, no entanto, funciona hoje como espaço de workshops, clube de leitura e, claro, de loja que vende o que de melhor existe na área da gastronomia e artesanato, não só na Covilhã, como no resto do país. Conhecida por ser bastante acolhedora e rodeada de simpatia, ultrapassa todas as dificuldades trazidas pela sua localização, “As pessoas ainda não estão habituadas a vir para esta zona”, diz-nos a proprietária Elisabet Carceller e acrescenta: “É evidente que em outra localização teríamos muito mais gente”, no entanto, defende que “a loja não são apenas as prateleiras, tem toda uma história que não pode ser levada para nenhum outro lugar”.  

De tudo o que se vende na loja, são os produtos alimentares, em geral, que prendem mais o público, principalmente as bolachas de cerveja, típicas da Covilhã e que são constantemente reinventadas com novos sabores, como canela, amendoim, chocolate e até gengibre. Segundo a proprietária, graças a este e outros produtos já conseguiram fidelizar bastantes clientes. Relativamente ao turismo da zona Elisabet explica que apesar de já terem clientes regulares, “cada vez vem mais gente de fora visitar o centro histórico, muitos pela arte urbana e pelo Wool (festival de arte urbana)”. “As pessoas gostam do conceito e encontram coisas diferentes, sabem que estão a ajudar pequenos produtores e valorizam isso”. Este foi o grande motivo apontado pela proprietária para a crescente afluência de turistas nacionais e estrangeiros.
A utilização de produtos locais foi um ponto comum que encontrámos noutros negócios da zona, como, por exemplo, a Casa das Muralhas e a Pura Natureza. A primeira, é dedicada à hotelaria e a segunda privilegia o comércio de produtos naturais e biológicos. Posto isto, é de notar que os produtos regionais e, consequentemente, os pequenos produtores têm sido favorecidos em relação às grandes corporações.


A Casa das Muralhas

Inspirados por viagens e pelo estrangeiro e o que de melhor se lá faz em termos de hotelaria, Jaime Rendeiro, e os seus pais, tios e um primo, tornaram escombros de uma casa abandonada, naquilo que é uma “casa”, no verdadeiro sentido da palavra, a Casa das Muralhas. Uma “casa” pois privilegiam o conforto de quem os visita. Nota-se toda uma atmosfera acolhedora e um ambiente familiar, quer pela simpatia do staff, quer pelo próprio espaço, que pauta pelas rústicas paredes de pedra, imperfeitas mesmo, preservadas para manter o caráter do edifício que, como diz o proprietário, “tem muita história”.

Também eles optam por aquilo que é local, pelos produtos nacionais, e trabalham muito com o que é da época para confecionar verdadeiros petiscos. Um dos pratos com mais saída é, precisamente, algo muito português, o javali. Jaime nota que cada vez mais turistas estrangeiros visitam o seu espaço, principalmente, visitantes de origem brasileira, fascinados pela Serra da Estrela, portadora de algo que eles não têm, a neve! Posto isto, o proprietário salienta que considera a sua localização favorável, estando perto da estrada de acesso à serra e do centro da cidade, mas também, de murais e arte urbana. Também os vizinhos espanhóis marcam, cada vez mais, a sua presença. 


Pura Natureza

Apesar destes fatores favorecerem uns, parecem passar despercebidos para outros, como nos revelam Alexandra Silva e Carina Sousa, da loja Pura Natureza. Cada vez mais é possível notar a adesão das pessoas a hábitos e escolhas de vida saudáveis. Por isso mesmo, vários pequenos negócios têm nascido e crescido em volta desse conceito, como é o caso da já loja Pura Natureza que, a elementos de mercearia, junta ainda produtos de cosmética e higiene e, também, terapias e workshops. “Tinha necessidade de alterar a minha alimentação”, começa por nos dizer a proprietária Alexandra Silva, quando questionada acerca da razão que a levou a seguir este ramo de negócio. A isso juntou-se o facto de ser uma área que precisava de ser desenvolvida na região, sendo que “a alimentação e a saúde estão na base de tudo”.

Cada negócio tem um toque único e, no caso da Pura Natureza, as colaboradoras apostam essencialmente no atendimento personalizado, capaz de satisfazer as necessidades de cada cliente. Também neste negócio são valorizados os produtos endógenos biológicos, cada vez mais procurados devido ao seu valor cultural e ao bem que fazem à saúde. Por ainda ser um mercado em crescimento, a proprietária mostrou-se surpreendida por existir tanta opção de escolha na Covilhã e no distrito de Castelo Branco, “já há muitos produtores biológicos, ao contrário do que pensávamos”, informa-nos Alexandra.  Esta procura, por parte dos clientes, de produtos regionais é uma das causas para o facto de, na Pura Natureza, se venderem mais produtos da parte da mercearia, isso e também o facto de se tornar mais económica a compra a granel. O único ponto menos forte apontado pelas colaboradoras foi, precisamente, a localização no coração do centro histórico da Covilhã. “Não tencionamos ficar por aqui”, afirmam depois de explicarem que tinham achado o espaço e localização adequados já que iam funcionar como mercearia, mas tal não se verificou.  

Para contornar estas adversidades, apostam nas redes sociais, como o Facebook, em workshops nas instituições e escolas, feiras e, sobretudo, no bom atendimento que tem como consequência imediata a publicidade “boca a boca”. A proprietária afirma que muitos clientes surgem porque “ouviram falar do espaço”. Esses clientes apresentam-se diversos, apesar da maioria ser estudante, a maior parte deles são de outras cidades. Para além disso, há uma aposta grande em turistas que se interessam pelo conceito e acabam por visitar o pequeno espaço. Mesmo com a pequena desvantagem associada à localização, a Pura Natureza e as suas trabalhadoras fazem de tudo para conseguirem vingar na área do comércio local, seja com a inovação do conceito, ainda em crescimento e expansão em Portugal, seja pela sua hospitalidade e bom atendimento ao público.


Mr. Cone

Falando de localização e para terminar, deslocamo-nos um pouco mais para perto da Universidade da Beira Interior (UBI) e fomos conhecer o negócio de um casal de brasileiros, que abriu há sensivelmente um ano e que foi batizado de Mr. Cone, devido ao conceito do negócio, o inovador e diferenciador formato da pizza, em cone. Conceito esse que segundo o proprietário, surgiu através da inspiração do negócio de um amigo no Brasil.  O antigo aluno da UBI confessa-nos que, apesar de todos os ingredientes serem comprados a fornecedores da Covilhã, os mesmos têm origem nos mais diversos pontos do país. No entanto, nem tudo é nacional neste estabelecimento, o exemplo disso são as caixinhas que servem para transportar comida, que são importadas do seu país de origem, do Brasil. Quando questionado sobre a localização do estabelecimento, o proprietário demonstrou o ponto de vista de que não haveria melhor local, pois está bastante próximo do pólo principal da universidade, o que atrai essencialmente estudantes, o seu público mais afluente.

Apesar de estar a ter um enorme sucesso junto dos mais jovens, cada vez mais existem pessoas de uma faixa etária superior que os procuram, quanto mais não seja pela curiosidade. O Mr. Cone é um ótimo exemplo daquilo que cada vez mais se vê hoje em dia na cidade neve, cada vez mais jovens que estudaram na UBI acabam por se implementar a longo prazo e investir em negócios, alguns dos quais bastante inovadores.  Finda a aventura que foi descobrir ou revisitar todos estes pequenos negócios, podemos dizer que em muito contribuem para o dinamismo da cidade, para a promoção do que é nacional, e primam pela qualidade. São estes corajosos proprietários, corajosos pois investem no interior, que atraem visitantes e curiosos e que lhes concedem serviços personalizados, produtos únicos e, acima de tudo, fazem-nos sentir bem acolhidos na “cidade neve”, formando a identidade da Covilhã.  

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