Voltar à Página da edicao n. 523 de 2010-01-26
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      Edição: 523 de 2010-01-26   Estatuto EditorialEquipaO Urbi ErrouContactoArquivo •  
A Serra acolhe todos os anos milhares de viajantes em busca de aventuras e lazer

Estrelas da Serra

A neve augura a chegada do Inverno... Mas ela traz também a oportunidade para a criação de actividades desportivas e de lazer. A Serra da Estrela é o palco destes acontecimentos e guardiã de inúmeras "histórias da neve".

> Ricardo Fernandes
> Ana Pereira
> Filipe Valente
> Sara Figueiredo
> Joana Oliveira

"A neve caía do azul cinzento do céu, branca e leve, branca e fria… Há quanto tempo não a via! Passa gente e, quando passa, os passos imprime e traça na brancura do caminho”. Para Fernando Pessoa, a neve foi uma fonte de inspiração; para centenas de portugueses, ela é um desporto. Por lazer, por profissão ou em competição, os desportos de Inverno praticam-se sobretudo na Serra da Estrela. As encostas verdejantes, agora cobertas pelo tapete branco do Inverno, contam as histórias de quem desliza nelas.

Alexandre Travanca tem 23 anos e o snowboard é uma das suas paixões. Foi em Andorra que se estreou na prática de desportos de neve, mas já esteve também na Serra da Estrela. “Come-se muita alegria. É preciso gostar de apanhar frio, mas é uma sensação de liberdade e alegria que só experimentando mesmo é que se conhece”. O jovem de Leiria pratica com os amigos por lazer, mas nem por isso leva o desporto menos a sério. Comprar equipamentos não é mesmo brincadeira: 500 euros é o que se gasta, em média, para obter o mínimo indispensável. Na Covilhã, existem poucos locais especializados em equipamentos: a Sport Zone, no Serra Shopping, e a J.Hermínio, na rua Ruy Faleiro, junto ao centro da cidade são dois exemplos. Prancha ou esquis e bastons, capacete, roupa com isolamento térmico e óculos são o essencial para uma prática segura e confortável. Para Alexandre, o perigo é o ingrediente essencial da diversão e “é um azar ainda não ter tido nenhum acidente”.

Ó meu coração, torna para trás. Onde vais a correr desatinado? Vergam da neve os olmos dos caminhos. A cinza arrefeceu sobre o brasido. Noites da serra o casebre transido…” Palavras de Camilo Pessanha são memórias para Alexandra Lãzinha. Com menos adrenalina no sangue, mas repleta de nostalgia, recorda os 25 anos em que esquiou na Serra da Estrela. “Sentia uma descontracção e uma leveza que me proporcionavam uma grande sensação de liberdade. Adorava ir esquiar à noite, à luz dos holofotes.” Alguns anos depois de ter sido mãe, decidiu deixar o desporto para se dedicar à vida familiar, mas já passou à filha o gosto pelo esqui. Alexandra é natural da Covilhã e conheceu a Serra em cima dos esquis. Deixou a actividade com 35 anos e hoje, aos 44, nota uma grande mudança nos hábitos dos esquiadores: “antes era um desporto de família. Ao fim de semana ia muita gente da Covilhã lá para cima praticar. Hoje, é um desporto de elite e é muito mais caro.” Nunca teve grandes gastos, até porque para ela “o talento natural é o melhor equipamento para praticar”, mas lembra que algumas pessoas faziam os próprios esquis em madeira.

Esculpida num processo de milhares de anos, a Serra da Estrela é hoje património dos distritos da Guarda e de Castelo Branco e é um santuário de espécies animais e vegetais. Com um clima de altitude extremamente irregular, a Serra não perdoa os visitantes de Inverno, sujeitos a temperaturas negativas, ventos fortes e terrenos íngremes. Mas são estes factores que a tornam o único local de Portugal Continental onde é possível praticar desportos de neve. Nas suas encostas estão o Skiparque, recentemente encerrado, e a Estância Vodafone, onde é possível ter aulas de desportos de neve e requisitar equipamentos. A produção de neve artificial assegura a possibilidade de prática durante todo o ano.

Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável, Porque para o meu ser adequado à existência das coisas, o natural é o agradável só por ser natural.” A metáfora de Alberto Caeiro é levada à letra por grande parte dos desportistas de Inverno que se lançam à aventura sem consideração pelos perigos que o frio, a altitude e o próprio desporto podem representar. Uma viagem à montanha pode ser extremamente perigosa e mesmo com um espírito aventureiro, as aulas são uma opção para quem se quer iniciar na prática de desportos de neve.

Pedro Matias é instrutor de esqui há nove anos e está habituado a muitas quedas… dos alunos. “O esqui é um desporto elegante, em que se desliza e requer estilo além de técnica. Não é difícil de aprender, mas também não é fácil de praticar correctamente”, explica o professor. Para Pedro, as noções de adequação dos equipamentos e responsabilidade precedem as lições técnicas, até porque nos últimos anos tem notado a adesão das faixas etárias mais jovens, cuja segurança é um factor prioritário. “Uma escola em ponto grande” é a descrição que Pedro faz da Estância Vodafone, onde dá aulas actualmente. “É um local de aprendizagem adequado, desde que as pessoas tenham consciência dos riscos de lesão inerentes à prática deste tipo de desportos”, adverte. Ainda assim, apela à prática de desportos de neve por serem diferentes, garantindo que “com três ou quatro aulas, já toda a gente dá uns toques”. O médico Albino Sousa confirma os perigos que o instrutor refere: fracturas, entorses, queimaduras solares, hipotermia e o mal das alturas são perigos a ter em conta para quem quer ir para a neve fazer desporto. Cobrir bem as extremidades do corpo, ingerir líquidos, usar protector solar por causa da radiação solar reflectida na neve e estar correctamente equipado para o desporto são as recomendações do especialista.

O sangue ferve nos meus ossos, rubro e grito e eu me desfaço em gozo e dor. Preciso ir ao fundo dos tempos que virão, para me encontrar e transformar meu sangue em sangue irmão, em amor”. Para Geraldes de Carvalho, uma ode ao Amor e à Dor; para os desportistas de alta competição, uma determinação constante em ir mais longe e prolongar a sensação de realização pessoal. É o caso do jovem esquiador Micael Florêncio. Começou a praticar aos sete anos e hoje, com 18, já entrou em inúmeras competições. Ser competitivo e adorar o desporto são as características que considera fundamentais para quem queira entrar no mundo da competição em desportos de neve. Val d’Isère (França), Candachu e Baqueira-Beret (Espanha), Andorra e Itália são apenas alguns dos locais onde já competiu. Micael diz mesmo que iria a qualquer parte do mundo: “resumindo, onde haja neve. Um bom esquiador consegue esquiar em qualquer lado”. O atleta recorda com satisfação todas as provas em que já participou, mas destaca as nacionais, onde obteve quase sempre os três primeiros lugares. Actualmente, encontra-se a recuperar de uma rotura de ligamentos cruzados no joelho, mas em Junho regressa aos treinos com o Canadá e a Áustria como próximos destinos em mente.

Na Covilhã está sediada a Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDI), uma instituição cuja missão é acolher os clubes, organizar as provas a nível nacional e fazer as inscrições dos atletas a nível internacional. Arménio Matias, um dos colaboradores da Federação revela-se satisfeito com a situação de Portugal na prática de desportos de neve. “É uma grande vitória podermos competir em alto nível, nacional e internacionalmente. Apesar de termos apenas uma pequena estância, temos atletas em provas pela Federação Internacional de Esqui (FIS) ”. Apesar disto, não esquece os obstáculos para os praticantes: “o grande problema deste desporto é que os locais de treino ficam longe dos dois grandes centros, Lisboa e Porto, por isso as deslocações ficam muito caras. Além disso, os apoios estatais são poucos”. Matias adverte os jovens aspirantes à alta competição em desportos de Inverno que não é uma vida fácil e são muitos os sacrifícios de um atleta de alta competição. “Os atletas abdicam de muitos momentos da sua vida privada para treinar. É preciso profissionalismo, disciplina e muitas horas de treino”.

Com medo do frio, encosta-se a nós. Dei-lhe café quente, senão perde a voz. Velho, velho, velho, chegou o Inverno”. Como Eugénio de Andrade, também as unidades hoteleiras que funcionam em torno do turismo e do desporto na Serra da Estrela vêem com satisfação a chegada do Inverno. Os meses de Dezembro a Março constituem geralmente as épocas altas, segundo informações do posto de Turismo da Serra da Estrela. A procura da neve, mas também de um enorme conjunto de actividades na montanha motivam as centenas de turistas em busca de aventura, descanso e paisagens únicas... ou simplesmente da prática do Sku. Passeios a pé e em motas de neve, aulas de esqui e descidas nocturnas da encosta são alguns dos serviços incluídos em pacotes com opções de alojamento e restauração pelos múltiplos serviços de hotelaria  na Serra.

Acorda! Acorda! Está um anjo na neve. Sem lanças ou redes, sem o medo da morte, atravesso os céus…do sempre e do agora na carícia suave das suas penas”. As palavras de Maria João Mesquita ecoam nas vertentes da Serra da Estrela e nas mentes dos apaixonados pela neve. É uma paixão que já deu início a muitos pedaços de histórias. Há quem deslize por prazer e quem se aventure em competição, há quem desafie a paisagem e quem a contemple, quem arrisque a vida por desporto porque faz do desporto a sua vida. São histórias da neve contadas pela montanha. E ela guardá-las-á para sempre…

> a22517 @ ubi . pt em 2010-02-07 21:49:55
Vocês não brincam em serviço, um trabalho bem eleborado.Parabens

> oliveira @ ubi . pt em 2010-02-03 10:06:07
Gostei dos videos e das fotos. Já agora, podiam ter mais destaque. Foi uma sorte clicar nos links. É uma sugestão. Obrigado. Marco

> cristinavalente10 @ hotmail . com em 2010-02-03 19:33:01
Gostei muito do "encaixe" dos excertos dos poemas. Continuem...


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Data de publicação: 2010-01-26 00:00:01
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