PENAFIEL: Pena de não haver mais vezes, Fiel à tradição

As luzes do pinheiro, as batatas com o bacalhau e o abrir das prendas à meia-noite são banalidades de uma casa nortenha que este ano teve um Natal diferente

Em Penafiel não existe nenhuma tradição local. A época natalícia é apenas assinalada com iluminações e enfeites espalhadas pelas ruas. Até a música de outros anos deixou de existir. Na Rua do Carmo nem música nem iluminações, apesar de ser uma das ruas mais antigas da cidade. Mas o Carmo teve este ano um Natal diferente, na casa da família Ferreira.

Dimitri, Irina, Nikita e Daniel Girin juntaram-se a mais 11 “Ferreiras” num festejo que se tornou especial pelo cruzamento de culturas. Os Girin não jantaram com os “Ferreiras” pois preferiram jantar em casa “com as coisas da Rússia por causa dos mais pequenos. É para não perderem as tradições da terra mãe” afirma Irina. Porque são Ortodoxos, os Girin festejam o Natal no dia 7 de Janeiro, por isso o facto de festejarem no dia 25 de Dezembro já é uma coisa nova, refere Dimitri. No lado português também há novidades: Joaquim Ferreira prova pela primeira vez vodka. Em 57 anos nunca tinha experimentado a bebida russa, mas não parece ter ficado rendido ao sabor, preferindo o típico Vinho do Porto. Já Dimitri diz apreciar bastante o vinho português, considerando-o bom para acompanhar as conversas neste tipo de convívios.

Os mais novos, ainda sem idade para beber, divertem-se com as prendas oferecidas pelos pais e pela família Ferreira. Para Nikita e Daniel tudo é diferente daquilo que Dimitri e Irina contavam sobre o Natal na Rússia. O tradicional jogo de Bingo a meio da noite foi a maior das novidades para Daniel, o filho mais novo. Enquanto os mais velhos jogavam, Daniel ouvia atentamente o ”tio” Ezequiel Ferreira que explicava as regras do jogo. Para o irmão Nikita, outra das novidades foram os doces natalícios portugueses. Os bolinhos de abóbora-menina foram os que mais agradaram: “talvez por nunca ter provado abóbora” diz o pequeno russo num português fluente.

Há nove anos que os Girin moram em Portugal. Uma vez por ano, Dimitri faz uma viagem à Rússia “para matar saudades do país, da família que lá ficou e para trazer recordações aos amigos de Portugal”, desabafa o russo natural de Bryansk. Apesar da distância, a família está feliz em Portugal e não pensa voltar à Rússia nos próximos anos. “São momentos como estes que nos fazem sentir cá bem, especialmente depois das dificuldades que já passámos”, acrescenta Irina. Mas ao mesmo tempo lamenta que só nestas épocas seja tradição este tipo de convívios.

A família Girin despede-se dos “Ferreiras” com um feliz Natal em russo e com o desejo de voltarem no próximo ano, ou de levarem a família portuguesa a experimentar uma festa diferente: um Natal russo.