Voltar à Página da edicao n. 470 de 2009-01-20
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“Graças às novas tecnologias há mais jovens com vontade de criar”

> Eduardo Alves

Urbi@Orbi – Veio falar para alunos de Moda, de Comunicação, para criadores. Veio falar para artistas que podem vir a afirmar-se pela diferença das suas criações em relação ao que está instituído. Mas quem lhes fala é uma pessoa, e esta é uma leitura minha, que também diz vivermos num tempo de padronização, de uniformização e produção em série. Como vê esta contradição? Afinal, acha que ainda espaço para arte, para a criação, para a diferença?
Gilles Lipovetsky –
A minha resposta é um grande e ruidoso SIM (risos). Está certa a questão e também aquilo que tenho vindo a dizer, mas também é uma certeza minha que cada vão existir mais lugares para as novas criações para a diferença. Isto porque, hoje não estamos num capitalismo de produção, mas sim, num capitalismo de consumo e os consumidores compram facilmente objectivos úteis e desenvolvem-se cada vez mais objectos marcados por um design próprio, por qualidades estéticas. E hoje consumimos também, cada vez mais, cultura, música, filmes, exposições que nos permitem falar mesmo dum certo capitalismo cultural. Daí pensar que vão existir cada vez mais alianças entre as indústrias do consumo e os criadores. Graças às novas tecnologias temos também cada vez mais jovens com vontade de criar, de fazer coisas diferentes. O capitalismo parece não estar em crise, mas sim em mudança.

Urbi@Orbi – Nesse aspecto, disse há bem pouco tempo que “quem compra luxo não está em crise”, certo?
Gilles Lipovetsky –
Um bom exemplo disso é a indústria do luxo, sem dúvida. Mas também esta mudou e que teve de recorrer aos criadores para lançar os seus produtos nos grandes mercados. Teve de envolvê-los em design, arquitectura, mesmo em publicidade. Veja-se que actualmente os grandes rostos do cinema estão também já a fazer publicidade, isso quer dizer alguma coisa. Deixámos de ter pequenas empresas que faziam algumas coisas de quando em vez para passara a ter grandes casas de criações que realizam trabalhos formidáveis, nestas áreas. Há uma homogeneização, um pensar estandardizado, mas começam também já a existir muitos pontos de diferenciação nos produtos, na cultura.

Urbi@Orbi – Há quem o considere o “filósofo da moda”. Como vê isso?
Gilles Lipovetsky –
com muito orgulho, até porque penso que a moda é um “sujeito” bastante difícil. A moda é uma espécie de festa, mas no bom sentido, que não é nada fácil de compreender. Muitos dizem que a moda é superficial. Até pode ser superficial, mas também esse conceito deve ser explicado. Nós não podemos de falar de um detalhe da moda, das transformações desta ou daquela colecção, mas sim, de toda a lógica que envolve este campo. Porque é que existe a moda? Como é que esta funciona? Isso sim é a verdadeira filosofia da moda. E é um verdadeiro sujeito a analisar, até porque, a moda está em tudo, nos telefones, nos óculos, nas montras, no desporto, na cozinha. A moda invadiu todos os sectores do consumo e por isso não é um sujeito minoritário, não é um sujeito periférico. Os filósofos tendem muito a enveredar por teorias platónicas onde a moda é vista mais como uma imagem e por isso não tem valor. O Ocidente inventou a racionalidade, mas também a frivolidade. Sistemas que temos de ver como se articulam entre si e como evoluem.

Urbi@Orbi – Penso que terminou já dois livros nos quais trabalhava há algum tempo. Como estão a sair-se?
Gilles Lipovetsky –
Em Outubro de 2007 publiquei o “L’écran Global que é uma reflexão sobre o cinema na civilização moderna. Faz a evolução histórica do cinema e o papel que desempenham os ecrãs na civilização contemporânea. Temos a Internet, a televisão, os telemóveis, os aparelhos de GPS, estamos a entrar numa civilização do ecrã. Este livro ainda não está editado por nenhuma entidade portuguesa, mas é já publicado no Brasil. É uma reflexão filosófica e social do mundo do cinema e do ecrã.
Publiquei também agora em Outubro de 2008, um livro intitulado “La culture monde – Réponse à une société désorientée”, para o qual tenho já um contrato de tradução e edição em Portugal. É um livro que faz uma reflexão sobre o estado da cultura numa época de globalização. O que podemos entender por cultura num mundo dominado pelos media, pelo capitalismo, pelo consumo, pela individualização. Como vamos pensar a cultura neste novo universo é o que ali tento dizer.

Perfil de Gilles Lipovetsky

A sociedade atravessa uma crise de ideias



"Desenvolvem-se cada vez mais objectos marcados por um design próprio"


Data de publicação: 2009-01-20 00:00:00
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