David Belle

Em 1996 David Belle praticava um certo número de exercícios que implicava uma enorme destreza física, para ultrapassar obstáculos como portões e muros altos, pular por cima de bancos, de carros e saltar entre edifícios. À soma de exercícios que tinha de fazer para conseguir ultrapassar esses obstáculos chamou-lhe Parkour. Belle, hoje com 29 anos, criou um desporto radical à sua medida.
O ex-militar e bombeiro sempre gostou de exercícios que implicam agilidade física e acrobacia, associados à rapidez de movimentos. Alguns desses exercícios podiam ser encontrados em desportos de combate, mas estavam muito longe de serem envolvidos tão directamente num cenário quotidiano e real, experimentando sensações que vão além das que qualquer miúdo viveu horas a fio num videojogo. Apesar de “Yamakasi – Les samourai des temps moderns” (2001) de Luc Besson, ter sido o primeiro filme a abordar directamente o Parkour, a sua popularização deveu-se ao aparecimento de David Belle numa reportagem no horário nobre da BBC um ano mais tarde. Todos os ingleses puderam ver o francês acrobata a sair de um escritório de Londres percorrendo o topo dos edifícios até chegar a um apartamento para assistir ao seu programa televisivo favorito. O que viram parecia retirado de um filme de acção e aventura, sem qualquer efeito especial ou corte como acontece normalmente no cinema.
O impacto foi tremendo e David Belle convidado para inúmeras reportagens, nomeadamente para a TF1 francesa onde explicava os princípios do Parkour. Também aparece no cinema como principal actor no filme “Banlieue 13”. Grande parte dos excertos destes filmes estão disponíveis na internet ao lado de muitos outros pequenos filmes onde figuram mais elementos ligados ao inicio do Parkour. De facto, é fácil obter informação junto da net sobre o desporto e sobre grupos que já praticam a actividade. Estão organizados por comunidades, todas identificadas por um nome, assim como os seus membros. A partir desses dados é fácil traçar uma hierarquia que vai desde os fundadores até novas comunidades impulsionadas por alguns dos discípulos. O Parkourenche o imaginário de qualquer um, a sua popularização saltou para os filmes publicitários, como a última campanha da Nike ou a campanha da Toyota Scion. Nem mesmo o 007 quis ficar atrás da onda, e no filme Casino Royal temos cenas de parkour.
A rápida adesão à modalidade das camadas jovens é susceptível de explicação: quem o vê pela primeira vez tem a sensação de estar a ver um filme de aventuras, mas sem duplos. Implica então uma maior responsabilidade e um grande poder de concentração aliado ao conhecimento pessoal, que um indivíduo comum geralmente não desenvolve. O objectivo é adquirir autoconfiança e capacidade de ultrapassar barreiras criadas essencialmente pelo medo. Sem grandes recursos vive-se o heroísmo, um valor que David Belle procura incutir nos seus seguidores, num período em que se vive essencialmente uma exacerbação do individualismo obscuramente dominado pelas diferentes instituições do poder. Na verdade o Parkour quebra a lógica da circulação dada por qualquer plano urbanístico abstracto, centrando-se nas necessidades reais de circulação de cada um.

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