Voltar à Página da edicao n. 428 de 2008-04-08
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

O telemóvel e a escola

> José Geraldes

A questão do telemóvel da aluna do Porto e a filmagem da cena com a professora  ganhou uma relevância mediática de primeiro plano, quer nos jornais, quer nas televisões, quer na Internet. O problema que revela, não é novo. E vem pôr ao de cima a indisciplina nas escolas. Aliás, a aluna não pertence aos chamados bairros problemáticos mas provém da classe média. E este dado devia merecer uma grande reflexão, o que parece não acontecer.
A dimensão do problema não só preocupou o Procurador-Geral da República como o próprio Presidente, Cavaco Silva. E quem tem responsabilidades educativas não pode, de forma alguma, assobiar para o lado.
A indisciplina nas escolas tem muito a ver com a desautorização dos professores. Se o professor não aparece investido de autoridade, então os alunos numa idade de rebeldia podem cometer tropelias sem fim. E, neste ponto, muitos pais não cumprem os seus deveres. As agressões a professores são, a este respeito elucidativas. No caso vertente, a mãe da aluna até declarou que não foi esta a educação dada à filha e concordava com o castigo infligido.
Numa primeira análise à questão, culpam-se os pais pelo tipo de educação que dão aos filhos. Educação que tudo permite aos meninos sem qualquer reprimenda. Os professores dizem que é o clima social que torna os alunos indisciplinados.
Ambos os argumentos têm a sua dose de verdade. Mas, enquanto não houver uma boa colaboração da família com a escola, torna-se difícil alcançar os objectivos de serenidade nas aulas. Não se trata de ter os alunos arrumadinhos como num quartel mas de um ambiente de participação necessário à aprendizagem e ao desenvolvimento de valores como a responsabilidade, a tolerância, a obediência e o respeito. E os pais, se bem que muito ocupados com o seu trabalho, não podem depositar os filhos na escola sem assumir em pleno as suas responsabilidades educativas. Sobretudo a autoridade em casa para os filhos respeitarem a autoridade dos professores. E estes devem impor-se nas aulas sem medo.
Os telemóveis não podem nem devem ser permitidos nas aulas. Mesmo no silêncio o telemóvel torna-se elemento perturbador. Nem vale o argumento daquele psicólogo que diz ser o telemóvel um “prolongamento do corpo do jovem”.  O presidente do Conselho das Escolas reconhece que o uso do telemóvel está associado a problemas de indisciplina. É uma evidência de La Palisse.
O novo Estatuto do Aluno que substitui o de 2002 e entrou em vigor em finais de Janeiro, precisa já de ser revisto. Não se pode admitir que aluna do Porto seja só punida com dez dias de suspensão e transferência para outra escola.
Cabe na cabeça de alguém que um aluno não possa chumbar por faltas? E os professores  não têm mais que fazer do que sucessivas provas de recuperação dos alunos? E é concebível um estatuto em que as faltas de mau comportamento não sejam distintas das restantes?  E não reforce a autoridade dos professores?
É o facilitismo em todo o seu esplendor. Por isso, impõe-se arrepiar caminho. Quanto mais se deixa medrar a indisciplina, mais depressa irrompe a violência.
A escola existe para preparar homens responsáveis, não futuros delinquentes.
O Governo promulgou nova lei sobre a renovação das cartas de condução. O objectivo insere-se no sentido de diminuir os perigos da estrada. Louva-se o objectivo. Mas a lei não respeita o cidadão. Porquê? A guia que é entregue até à chegada da nova carta, só é válida para território nacional. Então, se um cidadão por qualquer motivo precisa de ira de carro ao estrangeiro, não pode circular. E quem paga os prejuízos? E há direito de limitar assim o cidadão nos seus movimentos?


Data de publicação: 2008-04-08 00:00:00
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