Voltar à Página da edicao n. 427 de 2008-04-01
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Uma mulher

> José Geraldes

Chama-se Chiara Lubich. A sua morte ocorrida a 14 de Março, aos 88 anos de idade, teve uma programação especial da RAI (Radiotelevisão Italiana) e mereceu um destaque de primeira página no diário de maior tiragem em Itália o Corriere della Sera.
Mais de 40 mil pessoas de todos os quadrantes sociais e políticos e das várias confissões religiosas participaram no seu funeral em Roma a que presidiu o Secretário de Estado do Vaticano.  Bento XVI fez-lhe um elogio comovido, apelidando-a de “mensageira da esperança e da paz”. Políticos e dirigentes religiosos testemunharam a universalidade do seu ideal e  João Paulo II quando visitou o Centro Internacional do Movimento que fundou em 1984, viu nele o retrato da Igreja do Vaticano II.
Chiara Lubich recebeu o Prémio Unesco para a Educação para a Paz, o Prémio dos Direitos Humanos do Conselho da Europa e uma série de doutoramentos “honoris causa”. Mas quem foi e o que fez esta mulher para ser objecto de tanta veneração ?
Chiara Lubich não viveu da exposição mediática. A sua vida foi silenciosa. Os bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial sobre a sua cidade de Trento acordaram-no para uma descoberta que ela classifica de “fulgurante”. Ao ódio e à violência da guerra era preciso responder com outra arma. Essa arma seria  mais forte do que as bombas da guerra : o amor.
Em Trento, Chiara partilha os bens com os pobres dos bairros mais carenciados de Trento. E procura roupas e mantimentos para aliviar populações abandonadas. E para responder às divisões que deixam traumas e sofrimento, a jovem de 23 anos inicia o movimento chamado  Focolares.
Focolar é uma primeira comunidade com um novo estilo de vida composta por leigos que se comprometem a viver com radicalismo a mensagem evangélica. O ideal atrai jovens e famílias, operários, profissionais de todos os ramos, políticos, intelectuais, padres e  até bispos.
A espiritualidade de Chiara Lubich centrada na resposta radical a Deus Amor e encarnação do Evangelho atinge foros de universalidade. A santidade está ao alcance de todos . A busca da verdade torna-se a busca de Deus sempre com o objectivo da unidade.
Daí parte o diálogo entre os católicos, com os cristãos ortodoxos, os anglicanos, os luteranos, os evangélicos, os não crentes. E não só. Chiara fala a dez mil budistas num templo budista, a três mil muçulmanos numa mesquita de Nova Iorque e inicia contactos com hindus na Índia.
Aos políticos no Parlamento Europeu, esta mulher propõe os valores da solidariedade, da fraternidade, da justiça, da paz e unidade entre pessoas, grupos e povos. Ao mundo da economia apresenta a experiência da economia de comunhão. Aos autarcas e presidentes de câmara e personalidades da política europeia fala do espírito de fraternidade na política, como chave da unidade da Europa e do mundo num compromisso social. Aliás, para concretizar os seus objectivos, Chiara funda nos anos 90 o Movimento Político para a Unidade que se baseia exactamente na fraternidade como categoria política tendo em vista o bem comum. Fraternidade que anda  a milhas do discurso político moderno.
Chiara Lubich, uma mulher que reconciliou vidas, famílias, crentes e ateus e deu razões de viver para jovens e inspirou políticos e pessoas da cultura. Chiara não se produziu nas televisões mas serviu de modelo no quotidiano da vida para corações de homens e mulheres de todo o mundo. Uma verdadeira mulher que não precisou do Dia Internacional para se impor à sociedade.


Data de publicação: 2008-04-01 00:00:00
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