Voltar à Página da edicao n. 423 de 2008-03-04
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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> <strong>João Leitão</strong><br />

A teia paralisadora do Empreendedorismo Individual

> João Leitão

Diversos factores que não constam dos textos clássicos de empreendedorismo podem ser apontados como condicionantes do fomento da iniciativa empresarial, nomeadamente, a falta de cultura e gosto social pelo risco, a incompetência técnica e humana, a repartição assimétrica do rendimento disponível, os esquemas de estratificação social, as redes de influência, a corrupção institucionalizada, e os mui portugueses: peso do apelido e inveja.
De facto, a teia paralisadora de factores determinantes que cristalizam, tanto a iniciativa individual, como a capacidade inovadora e empresarial é, excessivamente, densa no terreno para que possa ser ultrapassada apenas por via da intervenção supervisora do Estado, designadamente, através da implementação de políticas públicas orientadas por critérios economicistas.
Na verdade a promoção da natureza empreendedora do indivíduo continua a ser punida, fortemente, pelas estruturas organizacionais públicas e privadas a braços com crises orçamentais forçadas por determinações nacionais e europeias orientadas por critérios de validação da performance económica das organizações, o que obriga a cortes cegos em sectores estratégicos para o desenvolvimento sustentável das nações, tais como, o Educativo, o Cultural e o Social.
Nesta conjectura pouco empreendedora e ineficiente, o custo de oportunidade por accionar a escolha ocupacional de ser empreendedor, por conta própria, ou por conta de outrem, é, incomensuravelmente, mais elevado do que a melhor opção alternativa de integrar o sistema, sem entusiasmo e sem a postura necessária de superação diária.
Aliás, não deve haver no mundo, um indivíduo tão empreendedor quanto o português, no sentido de que usa e abusa de mecanismos de sinalização trocados. Por exemplo, mostra ser um mouro de trabalho, quando na verdade passa grande parte do seu dia a destruir a iniciativa pró-superação que possa estar a surgir na vizinhança. O outro, o verdadeiro empreendedor individual, não passa o dia, mas a vida a ser acusado de predador e, por esse motivo, tem de pagar a respectiva factura. Esta atitude, infelizmente, tão portuguesa, surte um efeito claramente negativo nas medidas de performance não económica, relacionadas com o grau de satisfação dos colaboradores (internos e externos), em particular, e dos stakeholders das organizações, em geral.
Como modificar então os efeitos da teia paralisadora dentro das organizações? Num estudo realizado, recentemente, por mim próprio, João Leitão e, também Mário Franco, que foi seleccionado para apresentação pública no âmbito da Interdisciplinary European Conference on Entrepreneurship Research (IECER), na Universidade de Regensburg, Alemanha, apresentam-se algumas respostas a esta questão que em seguida se sintetizam.
Existe uma necessidade latente de desenhar programas formais orientados para o reforço da propensão para o desenvolvimento de actividades inovadoras, num contexto organizacional, mas focados no indivíduo, quer seja colaborador interno, quer externo.
Para promover a performance não económica das organizações, os responsáveis pela gestão das organizações devem apostar no fomento do entusiasmo colocado no trabalho, bem como na criação de incentivos internos para a discussão interdisciplinar e para o diálogo crítico e respeitador pelas diferenças.
Além disso, os responsáveis devem evitar a entropia que, por vezes, tem origem na realização de reuniões de carácter inter-departamental e na adopção de práticas de gestão participativa que contemplam os interesses dos indivíduos ou de grupos, mais ou menos organizados, mas não os interesses institucionais, nem tão pouco os verdadeiros interesses individuais de superação diária da performance da organização.
Em termos futuros, interessa ainda explorar as relações entre outros tipos de capital (como por exemplo, o director, o relacional e o ideológico), pois, a meu ver, assumindo a veia neo-Schumpeteriana que carrego dentro de mim, a destruição criativa da teia paralisadora do Empreendedorismo Individual só pode ser conseguida através do reforço da capacidade cognitiva e social, e da performance económica e não económica das organizações tendo por objecto primordial o indivíduo, entenda-se como, o empreendedor individual.

João Leitão é professor auxiliar na Universidade da Beira Interior, e investigador integrado do Núcleo de Estudos em Gestão, na Universidade do Minho, edita o New Economics Papers e coordena a edição da Revista de Gestão e Economia.


Data de publicação: 2008-03-04 00:00:00
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