Voltar à Página da edicao n. 420 de 2008-02-12
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A região produzia cerca de 90 por cento do tabaco português

Produção de tabaco atinge novo mínimo na região

O futuro desta cultura preocupa a Associação de Produtores. Nos últimos anos, nos campos da Idanha, Castelo Branco e Fundão, de onde sai 90 por cento da produção nacional, a colheita tem vindo a baixar sucessivamente.

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A Associação de Produtores de Tabaco está preocupada com o futuro desta cultura e alerta para o impacto que isso terá na economia local. Nomeadamente nos concelhos de Idanha-a-Nova, Castelo Branco e Fundão, de onde sai 90 por cento da produção nacional, da variedade Virgínia.
Nos últimos anos a quantidade da colheita tem vindo sempre a baixar e no ano que terminou bateu novo mínimo. Se há seis anos foram colhidas seis mil toneladas, em 2006 já só foi de 2500 toneladas. Em 2007 a produção não ultrapassou as 1300 toneladas.
“Os custos de produção subiram, até porque somos grandes consumidores de gás para secar a folha e o petróleo subiu. Por outro lado, o preço tem estado deprimido no mundo”, lamenta-se António Abrunhosa, que representa 108 associados e vê a rentabilidade congelada.
Numa altura em que muito se fala nos malefícios do fumo e nos novos hábitos a que a nova Lei do Tabaco vai obrigar, este responsável sublinha que “o consumo nada tem a ver com a produção”. António Abrunhosa frisa que o consumo na Europa tem aumentado e “se não houver aqui, vão abastecer noutro lado”. Um cenário que, para o presidente da APT, terá consequências sociais e económicas na região.
António Abrunhosa lembra que o tabaco é cultivado sobretudo em chamadas “zonas deprimidas”, onde o emprego não abunda. “Tem-se registado uma queda radical no emprego. Muita mão-de-obra acaba por ir embora”, realça.
A partir de 2010 as ajudas comunitárias directas à produção de tabaco serão transferidas, até 2013, para a reconversão da plantação. Actualmente, do financiamento já são retirados 15 por cento para campanhas de prevenção e o Governo retira dez por cento. De acordo com António Abrunhosa, isso representa 60 por cento do preço comercial do tabaco.
O futuro, alerta, tem de passar por uma correcta reconversão da cultura. Mas o representante dos produtores critica a falta de orientação da tutela nesse sentido, ao contrário do que tem acontecido noutros países, onde diz já se está a trabalhar nessa mudança. “Nós estamos no deserto, não sabemos de nada”.
“Vamos ver o que o Governo define para a reestruturação do sector. Vamos ver como se vão canalizar verbas destinadas ao tabaco, que foi a cultura que mais ajudas comunitárias recebeu, com três milhões de contos por ano”, sublinha.
António Abrunhosa lembra que se trata da “cultura agrícola que mais mão-de-obra gasta”. Por outro lado, observa que qualquer cultura alternativa será de alta mecanização, excepto a aposta no queijo e na ovinicultura. O que poderá reduzir ainda mais o número de postos de trabalho.
Outra preocupação é a necessidade de grande investimento por parte dos produtores para se reestruturarem. Tarefa difícil para produtores que estão endividados e descapitalizados. “Só no distrito devem dez milhões de euros”, ilustra António Abrunhosa.
Para além da indefinição do Governo em apontar caminhos, como acusa este responsável, outro lamento prende-se com a ausência de estudos. “Os que há sobre culturas alternativas fomos nós que os fizemos”. As análises apontam para o investimento em culturas hortícolas, no olival, queijo, fruta e gado. A maioria tradicionais na região.
No distrito, onde está cerca de 90 por cento da produção nacional, cultiva-se essencialmente a variedade Virgínia, tabaco curado artificialmente em estufas aquecidas a gás ou electricidade. O resultado é depois exportado para a Polónia, desde que a única fábrica de transformação do Continente encerrou. Na zona Oeste é cultivada a qualidade Burlay, plantada em solos férteis e de pequena dimensão.
A planta começou a ser cultivada por cá depois da independência das antigas colónias, em 1975. No final dos anos 80 a cultura do tabaco começou e receber ajudas, inicialmente com o objectivo de combater a desertificação de terrenos marginais.


A região produzia cerca de 90 por cento do tabaco português
A região produzia cerca de 90 por cento do tabaco português


Data de publicação: 2008-02-12 00:05:00
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