Voltar à Página da edicao n. 420 de 2008-02-12
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Professores, Lobo Antunes e Deus

> José Geraldes

Os professores são a profissão em que os portugueses mais confiam e também aquela a quem confiariam mais poder no País. Esta é a opinião dominante de uma sondagem para o Fórum Económico Mundial que soma 42 por cento do universo inquirido.
E muito acima dos intelectuais, dos dirigentes militares e policiais, dos jornalistas, dos líderes religiosos e políticos que reúnem apenas 7 por cento de confiança, seguindo-se as estrelas desportivas e de cinema com 6 por cento. Ressalve-se que, a nível mundial, na mesma sondagem, os professores apresentam o conjunto de opiniões mais favoráveis.
Para lá do valor da sondagem, o resultado constitui um acréscimo de auto-estima para uma classe tantas vezes injustamente criticada e culpada de todos os males da escola. Mas também lhe confere um grau de responsabilidade mais consciente no exercício das suas funções.
Ser professor nos tempos que correm não é tarefa fácil. Exige, para além da preparação científica, uma atenção redobrada aos alunos e ao meio envolvente, sem esquecer fazer a ponte com os pais. Como diz o velho ditado, para ensinar o João, é preciso primeiro conhecer o João.
É sinal positivo esta confiança. Mas os pais muitas vezes não colaboram com a escola. E não raro desautorizam os professores, com intuito de esconderem falhas dos filhos. Ora sem uma colaboração activa e eficiente dos pais e professores, não há educação que resista.
Muitos professores sentem-se traumatizados exactamente porque os pais não dão a atenção devida aos seus filhos e não prestam atenção às recomendações dos professores.
A procura de Deus é constante nos escritores, filósofos, poetas, artistas. Mesmo que não o digam expressamente, essa procura está lá. Dois exemplos recentes confirmam-no, cada um a seu modo.
Em 30 de Setembro de 2007, António Lobo Antunes, escritor que não precisa de apresentações, deu uma extensa entrevista ao Diário de Notícias onde afirmava: “ A ideia de Deus é cada vez mais óbvia para mim.” E, citando o provérbio húngaro de que na cova do lobo não há ateus, diz: “O nada não existe na física ou na biologia e quando se lêem os grandes físicos entende-se como eram homens profundamente crentes, que chegaram a Deus através da física e da matemática e que falavam de Deus de uma maneira fascinante. A minha relação é a de um espírito naturalmente religioso, cada vez mais, não no sentido desta ou daquela igreja mas porque me parece que a ideia de Deus é óbvia.” E a seguir: Não acredito quando as pessoas dizem que são agnósticas ou ateias.”
Philip Groning é um cineasta, autor do filme O Grande Silêncio que dá a conhecer o quotidiano dos monges da Grande Cartuxa de Grenoble em França. Esteve, no ano passado, em Portugal, para o lançamento do livro O Segredo da Cartuxa sobre os monges de Évora.
Numa entrevista ao Público a 20 de Dezembro explica as razões por que ia aos mosteiros. E responde: “Procuro Deus. Viver num mosteiro foi uma experiência muito boa e muito forte. Mas não sou turista de mosteiros.” Sobre os monges diz: “Não é necessário ser-se útil para se ser feliz. A sedução da vida como a deles está em que se trata de uma vida incrivelmente radical e concentrada numa verdade. E não, se comprei o Mercedes certo ou se ganho dinheiro suficiente ou se me visto bem.”
À pergunta se era mais católico hoje do que antes de passar seis meses na Grande Cartuxa, a resposta foi taxativa: “Muito mais. Antes tinha muitas dificuldades. Pensava que a Igreja Católica se concentrava demasiado nas questões da confissão, da culpabilidade, do pecado. No mosteiro percebe-se que, para os monges, o importante é o sentido da graça, da felicidade. Para eles, é um facto extraordinário que haja vida. Vivermos é uma graça, um presente de Deus.”
Estes dois testemunhos falam por si. E podem ser um bom convite à reflexão nestes tempos de Quaresma.


Data de publicação: 2008-02-12 00:00:00
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