Blogosfera, ano 2008

> João Canavilhas

Em 2003, a blogosfera portuguesa fervilhava. Todos os dias nasciam novos blogues, todas as semanas chegavam novas figuras mediáticas à blogosfera, todos os meses se publicavam notícias sobre a matéria, e com isso novos blogues eram criados. Para além da novidade, a possibilidade de criar facilmente um espaço de opinião impulsionou também o crescimento da blogosfera de forma explosiva, tornando-a num dos acontecimentos mais interessantes do ano.

Porém, quem escreve fá-lo com uma intenção: ser lido. O aparecimento de ferramentas que permitem contar as visitas veio demonstrar que muita da prosa vertida na blogosfera acabava perdida na imensidão da web, independentemente da sua qualidade. Muitos perceberam rapidamente que uma coisa é o acesso a um “palco” e outra bem diferente é a capacidade de atrair "público". Salvo raras excepções, os blogues mais prestigiados pertenciam a figuras mediáticas e eram estes quem tinha o poder de promover outros blogues para a ribalta blogosférica. Esta realidade transportou a blogosfera para uma nova fase onde, em simultâneo com o aparecimento, se registava um rápido desaparecimento de blogues. Alguém resumiu de forma dura, mas verdadeira, esta realidade, quando disse “nunca tantos escreveram para tão poucos”.

Cinco anos após o grande boom, a blogosfera portuguesa estabilizou. Os meios de comunicação, que outrora viam o fenómeno como um potencial inimigo, incentivam agora os seus profissionais e leitores a criarem blogues, oferecendo mesmo esse serviço. A imprensa está hoje mais atenta à blogosfera, e muito casos – como o da licenciatura do primeiro-ministro – chegaram à comunicação social através da blogosfera. De certa forma, os blogues são uma enorme rede de correspondentes a custo zero e por isso o relacionamento entre mediasfera e blogosfera mudou de forma radical.

Depois da comunicação social foi a vez de empresas e escolas olharem mais atentamente para o fenómeno e por isso os blogues são hoje uma importante ferramenta para empresários, professores e estudantes. Os partidos políticos também entraram na blogosfera, mas parece que ainda não perceberam o seu potencial. Um bom exemplo desta falta de sensibilidade para o fenómeno são as queixas apresentadas em tribunal contra alguns bloggers, algumas das quais completamente absurdas.

Mais madura, mais mordaz e com mais qualidade, a blogosfera portuguesa actual é vista como um espaço de liberdade onde uma parte significativa da população jovem procura a opinião descomprometida com o sistema.

 

Data de publicação: 2008-02-05 00:00:01