Voltar à Página da edicao n. 418 de 2008-01-29
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 

A Senhora da Água

> Vânia Rodrigues

Parece um conto para crianças, mas levanta questões profundas, como, por exemplo, o propósito de cada um no mundo. À partida, isso pressupõe um recuo até àquilo que temos de mais puro em nós: a infância e a capacidade de acreditar, explorando profundamente os nossos medos mais íntimos.
Uma fábula escrita pelo realizador M. Night Shyamalan, considerado um dos cineastas americanos mais importantes da actualidade, e transformada posteriormente em filme pelo próprio. “A Senhora da Água” conta a história de Story, uma bela e misteriosa ninfa, que vive nas passagens debaixo da piscina de um complexo de apartamentos.
Com uma fragilidade que quase comove, uma rainha entre os da sua espécie, esta “narf” representa a metáfora perfeita para as histórias, e é o tesouro do filme, o bem precioso pelo qual vale a pena assistir esta obra. Ameaçada por forças maléficas, a ninfa procura refúgio em Cleveland Heep, o administrador do condomínio, que terá de desvendar a sua história e desvendar os segredos do “Mundo Azul”. Ao descobrir que ela é uma personagem de uma fábula, o administrador tenta, com a ajuda dos seus vizinhos, ajudar a misteriosa jovem a voltar para o seu mundo, lutando contra criaturas mortíferas que tentam impedir o seu regresso a casa.
Apesar de ter desiludido muitos adeptos devido a algumas falhas técnicas pouco desculpáveis (surgem várias cenas em que os micros sobre as cabeças dos actores aparecem no plano de filmagem) e à fantasia presente na obra, não podemos deixar de apreciar a originalidade de Shyamalan em cada obra que produz. A obra é descrita pelo próprio realizador como uma "história de embalar filmada". As histórias de embalar têm de ser explicadas às crianças, neste caso nós, o público. Temos de regressar à infância para entender a intenção do filme. Depois disso, desse salto de pensamento, podemos apreciá-lo. As imagens são carregadas de beleza numa fusão entre o mundo real e o mundo mitológico, fazendo-nos sonhar com um mundo melhor e mais subjectivo. É normal, actualmente, encontrar alguém que se deixe embalar por uma história impossível; é bom depois de um dia normal, que nos exige uma grande dose de responsabilidade e seriedade, voltar ao mundo da infância por umas horas.
Ele envolve personagens humanas, pessoas banais, comuns, meros habitantes de um vulgar prédio mas únicas, especiais, e deixa que a Humanidade nelas viva para tentar salvar esta estranha criatura e, desta forma, a elas mesmas. “A Senhora da Água” acaba por ser mais um filme sobre o reconhecimento da Humanidade e da sua singularidade em todos aqueles que nos rodeiam, assim como também salienta a nossa desatenção e despreocupação relativamente aos tempos em que vivemos.
História simples e fácil de seguir, o filme reúne muitos detalhes que não devem passar despercebidos: pretende elogiar a capacidade do homem de se mover em comunidade, e recorda-nos que talvez o sentido da vida seja compreendermos melhor os nossos papéis nos diversos mundos em que nos inserimos.






Data de publicação: 2008-01-29 00:00:00
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