Voltar à Página da edicao n. 416 de 2008-01-15
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> <strong>José Silva Rosa</strong><br />

Entre «Spe Salvi» e a «Boceta de Pandora»

> José Silva Rosa

«Spe Salvi», «salvos na esperança». Foi com esta expressão da Carta de São Paulo aos Romanos (8, 24), que o Papa Bento XVI, no terceiro ano do seu pontificado, durante o Advento de 2007 e antes da natalícia bênção Urbi et Orbi (i.e., à Cidade [Roma] e ao Mundo), se dirigiu aos cristãos como que a formular os seus “melhores Votos” para 2008. Para estes, como se sabe, a esperança é a segunda das três chamadas virtudes teologais: as outras são a fé e a caridade. Assim, à luz da esperança, a expressão «Ano Novo, Vida Nova» exprime como que a «certeza antecipada» de que o ano 2008 começa a estar ganho…
É significativo que Bento XVI, depois das polémicas beatificações espanholas, comece a sua Carta Encíclica com modelos de esperança que vêm de África (Josefina Bakhita, uma escrava do Darfur, no Sudão, que depois de sofrer inúmeras atrocidades, se tornou irmã canossiana, tendo sido depois canonizada por João Paulo II) e do Oriente (o Pe. Paulo Le-Bao-Thin e o Cardeal Nguyen Van Thuan, mártires no Vietname), como se o actual chefe da Igreja Católica, o teólogo alemão J. Ratzinger, através dos exemplos vindos de outros quadrantes, concretamente da África e da Ásia, quisesse indicar novos caminhos às Igrejas europeias do velho mundo.
É sabido que o pensamento grego desconfiou profundamente do papel da fé (pistis) e mais ainda da esperança (elpis) no âmbito das coisas humanas. A esperança foi até considerada uma entre as múltiplas ilusões contidas na «Boceta de Pandora». E é bem sabido ainda que a dúvida, mormente a dúvida metódica, tem desempenhado desde então um papel fundamental no avanço do conhecimento.
Talvez por isso, e apesar das muitas promessas do Ministro Mariano Gago, apenas três instituições de Ensino Superior público (ISCTE, Univ. de Aveiro, Univ. do Porto) decidiram, e ainda assim muito cautelosamente, iniciar um processo de negociações com o Ministério no sentido de poderem virem a adoptar o modelo de Fundação que o novo Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES) prevê. «Antes que cases, olha o que fazes». Prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Nisto a UBI esteve bem: esperar para ver como é que ficam as barbas do vizinho.
E há poucos dias, depois de uma verdadeira entronização que o «êxito» da Presidência Portuguesa da União Europeia lhe conferiu, afirmava o Primeiro-ministro José Sócrates que «o verdadeiro problema de Portugal é o défice de qualificações»; mas que as coisas vão e estão a mudar. O programa «Novas Oportunidades» não é já uma qualquer ilusão saída da dita «Caixa de Pandora», mas uma realidade a avançar no terreno. É, pois, preciso ter esperança. Os portugueses irão interiorizar (?) que a escolaridade mínima terá de ser o 12º ano de Escolaridade. É este o «patamar mínimo da esperança no sucesso», concluía José Sócrates ao entregar os primeiros 100 Diplomas de «Certificação de Competências» obtidos ao abrigo daquele programa. E até ao fim deste ano 2008 a esperança é de que sejam «salvos» da iliteracia mais cerca de 50.000 portugueses. «Inch-Allá!» É uma bela esperança. E oxalá também a Avaliação das «Novas Oportunidades» que, entretanto, o Eng.º Roberto Carneiro vai começar a implementar não venha «descertificar» as competências adquiridas e pôr em causa o processo que tem vindo a ser seguido. É que se as cristianíssimas fé e esperança são muito importantes na aquisição de saber, não podemos apenas ser «cientes na espera», especialmente naquela esperteza que apenas aguarda o dia do «dá-me cá o Diploma!».
Com efeito, «um indicador revelado recentemente pela OCDE (To what Level Have Adults Studied? Chapt. A, Indicator A1, 2005 – Education at a Glance 2007) mostra que Portugal é o país com maior atraso no que toca à população com Ensino Secundário, na faixa etária dos 45-54 anos (cerca de 19%) atrás da Turquia, do México ou do Chile» (in RC, ‘07 Outubro, p. 11). «Spe salvi». De novo, os melhores exemplos vêm do Oriente: Estónia (> 90%), Coreia (100% para escalão etário 25-34), etc.. Mas seria de esperar algo diferente face aos valores do PIB que o nosso governo investe em Educação? Prometem-nos, entretanto, que para o próximo ano é que vai ser: finalmente, depois de vários anos em curva descendente, o Orçamento para a Educação, concretamente para as Universidades, irá crescer. Vamos ver, como diz o cego. Mas não será o QREN uma espécie de novo «ouro do Brasil»? Gostaríamos de poder acreditar que começamos a estar «salvos na esperança». A fé escatológica de São Paulo dizia-lhe que «a esperança não decepciona». Mas nós, imersos no tempo e como que saídos da «Caixa de Pandora», ainda seremos capazes de esperar?

P.S. - Para os alunos: em 2008 estudem! Porque «em esperança» ainda não passaram.


Data de publicação: 2008-01-15 00:00:00
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