Voltar à Página da edicao n. 413 de 2007-12-25
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

O ramo de amendoeira do Natal

> José Geraldes

A Palestina passa por momentos conturbados com ameaças de invasão de outros povos. A idolatria campeia. A situação política agrava-se cada vez mais. Os reis não conseguem resolver os problemas das populações.
A Babilónia surge no horizonte como a grande potência dominadora. O povo atravessa uma crise de desorganização total. Jerusalém é destruída. Estamos no século VI a. C. O desespero medra com um vigor imparável. Não se vislumbram sinais de esperança. A sensação de abandono ultrapassa todos os limites. E os sintomas da desagregação do povo crescem a olhos vistos. Sucedem-se as deportações. E as dúvidas geram confusão sobre a identidade do povo.
O profeta Jeremias é a voz que vai dar confiança a todos. Deus faz-lhe a pergunta : “Que vês, Jeremias ? Vejo um ramo de amendoeira. Viste bem, Jeremias”.
O bispo D. António Couto que se socorreu deste diálogo na sua ordenação episcopal, explica a mensagem: “A amendoeira é das poucas árvores que floresce no Inverno. Ao responder “vejo um ramo de amendoeira Jeremias já levantou os olhos da invernia e da tempestade, da catástrofe e da morte que tinha pela frente e já os fixou lá longe na frágil-forte flor da esperança que a amendoeira representa. Deus manifesta a sua aprovação, dizendo : “Viste bem, Jeremias, viste bem. Bem diz-se em hebraico tôb, que significa também belo e bom. Jeremias vê, portanto, bem, belo e bom.” E o bispo auxiliar de Braga comenta que a árvore do Messias havia de ser o ramo de amendoeira”.
As sociedades modernas não são as do tempo de Jeremias. Mas há sintomas que são semelhantes. Hoje, proliferam novos ídolos. O dinheiro fácil tornou-se um desejo permanente de muitos. O que importa é a fama. O poder aparece como uma tentação que espreita a cada momento nas esquinas da vida. E quem o consegue não o usa para serviço dos outros mas para alcançar os seus interesses muitas vezes duvidosos.
A fidelidade aparece como uma palavra desprovida de sentido. E manter a palavra dada equivale mais a uma miragem do que a uma certeza. O compromisso dá lugar à fuga às responsabilidades. Não se assume aquilo que antigamente bastava ser selado por um aperto de mão.
A hipocrisia criou um certo estilo de vida para determinadas pessoas. A verticalidade nas opiniões depende dos cata-ventos em que o oportunismo se sagra como rei. A moral não é uma regra de comportamento mas usa-se conforme as ocasiões. O materialismo decide opções existenciais. E a mediocridade vai de par com o egoísmo.
A indiferença perante Deus cria um clima de intolerância. Gozar a vida no sentido pior da palavra transformou-se num lema. E muitos princípios éticos foram para o baú da História.
Em face deste panorama, haverá lugar para o optimismo ? O ramo de amendoeira de Jeremias dá a resposta. A esperança renasce em tantos gestos de bondade e de amor. E aparece concretizada no sorriso do Menino-Deus no presépio.
O Natal é a esperança luminosa que nos indica o caminho do bem, do belo e do bom. Esperança “como chama inatingível que nem o sopro da morte consegue sufocar”, segundo a expressão de Charles Péguy.
O poeta provoca uma interpelação : “Que esta gente veja tudo como hoje se passa e creia que amanhã irá melhor”.
É a estrela do Natal que nos guiará para tornar este mundo mais fraterno e solidário e melhor.


Data de publicação: 2007-12-25 00:00:00
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