Voltar à Página da edicao n. 410 de 2007-12-04
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Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 

Valorizar o associativismo estudantil

> João Canavilhas

Duas listas candidatam-se este aos vários órgãos da Associação Académica da UBI. No sábado, os cabeças-de-lista discutiram numa rádio local os seus projectos. Deste debate retive cinco ideias fortes: a situação financeira está controlada, o que é excelente. Os candidatos estão cientes de que a AAUBI deve aproximar-se dos problemas reais dos estudantes, o que é muito bom. Há interesse em normalizar as relações com a reitoria e a Câmara Municipal, o que é bom. No essencial os dois estão de acordo, o que não é muito bom. Mas francamente mau foi perceber que um dos candidatos parecia não fazer a mínima ideia do que é o RJIES, perguntando se isso era Bolonha.

Longe vão os tempos em que as eleições eram disputadas por três, quatro e até cinco listas, com as organizações de juventude dos partidos completamente envolvidas nas campanhas. Progressivamente, as novas gerações têm vindo a afastar-se do associativismo, perdendo-se assim uma das escolas de formação de políticos.

O fraco dinamismo do movimento associativo actual é o resultado de uma acentuada degradação da sua imagem junto da comunidade. Para muita gente, entrar numa associação de estudantes é apenas uma forma de conseguir o Estatuto do Dirigente Associativo, o que permite faltar às aulas e ter épocas especiais. Mas a realidade não é essa. A agenda de um dirigente associativo é exigente e os compromissos são muitos: entre reuniões nas escolas e nos ministérios, contactos com associações congéneres e encontros com patrocinadores, o tempo voa. A tudo isto é preciso juntar ainda os assuntos correntes, como o acompanhamento dos problemas dos alunos, a organização de eventos ou a gestão diária de uma estrutura com funcionários e colaboradores pagos. É muita coisa para uma pequena equipa que raramente ultrapassa as dez pessoas. Este ritmo obriga os alunos envolvidos nas associações a faltar às aulas. O querer fazer mais pela academia acaba por se impor ao interesse pessoal e as faltas sucedem-se.

O normal seria que as escolas reconhecessem este esforço, mas, infelizmente, não é isso que acontece. Embora o Estatuto do Dirigente Associativo defenda os estudantes, os intervenientes no sistema de ensino desvalorizam este tipo de intervenção social e, mais tarde ou mais cedo, os alunos acabam por ceder às pressões familiares e abandonam o associativismo. O resultado está à vista: poucos candidatos aos lugares, redução do número de eventos culturais e desportivos, intervenção cívica dos jovens quase inexistente.

O responsável pelos recursos humanos de uma grande empresa, que durante anos participou em actividades estudantis, confessava a dificuldade da sua empresa em encontrar profissionais com determinadas características. “Os licenciados que participaram em associações de estudantes topam-se à légua. São autónomos e estão muito atentos à realidade que os rodeia. Infelizmente, cada vez tenho mais dificuldade em encontrar antigos dirigentes estudantis”, dizia com alguma amargura.

A situação é má e tende a piorar. Os jovens viraram costas ao associativismo estudantil e enquanto o sistema de ensino continuar a penalizar aqueles que abdicam do seu tempo livre em prol do bem comum, o ciclo não se inverterá. Desta forma, perde a sociedade, perdem as empresas e perdem as próprias instituições de ensino.


Data de publicação: 2007-12-04 00:00:01
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