Voltar à Página da edicao n. 407 de 2007-11-13
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Os responsáveis pela freguesia mostram-se contra a instalação destes postes

Linhas e postes provocam “alta tensão” no Ferro

As três linhas de muito alta tensão instaladas na vila provocam incómodos aos moradores. A junta pretende receber uma compensação de meio milhão de euros, impedir que sejam implantadas outras e exige que junto às casas sejam enterradas.

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Há 30 anos que João Xavier mora na mesma casa no Ferro, desviado do centro da localidade, perto da residência de outros familiares. Aquilo que era uma zona sossegada, começou há cerca de cinco anos a ficar diferente, com a instalação de redes de muito alta tensão que passam ao lado da habitação.
“Somos muito prejudicados, já nem posso fazer vida do lado de trás da casa, porque o barulho incomoda todo o dia”, lamenta o engenheiro electrotécnico. Para além do ruído, que sobe de intensidade quando há mais humidade ou quando chove, suspeita que sejam as radiações a provocar interferências na ligação da Internet e no telefone.
“Não fiz nenhum estudo científico nem tenho como o provar, mas parece-me que as cerejeiras plantadas por baixo da linha não estão tão desenvolvidas como as outras”, acrescenta, sem ter a certeza sobre uma relação directa entre as duas coisas.
Mais abaixo, José Martins trata da lida da sua quinta, onde começou a construir uma moradia ao mesmo tempo que instalavam os postes de alta tensão ali perto. Ao contrário de João Xavier, João Martins não se mostra tão preocupado. “Preferia que não estivessem cá, mas só me incomoda mais a nível estético, porque era uma serra bonita e agora está cheia de cabos e postes”.
Quanto à possibilidade de fazer mal à saúde, não se mostra muito preocupado. “Parto do princípio que tem alguma protecção”, realça. Nos dias de trovoada, os raios que caem nos postes a poucos metros de casa, “até assustam”. No entanto, salienta que a estrutura acaba por funcionar como pára-raios e não tem receio.
As três linhas de muito alta tensão partem da subestação do Ferro para três destinos. Quem mora no centro da vila, não se mostra muito preocupada com o assunto. O mesmo não acontece com as dezenas de residências nos arrabaldes e com os habitantes do bairro Monte Serrano.
Embora não cruzem o tecto das casas, passam alguns metros ao lado e os cabos e postes que funcionam como veículo de energia são recorrentemente assunto de conversa entre moradores. Sobretudo quando chove e o barulho se intensifica. “Nós notamos a radiação electromagnética, por exemplo no telemóvel. Quando se passa por baixo ouve-se mal”, conta João Raposo, à porta de casa, com a mulher e a filha pequena ao lado.
Na quinta os cabos passam por cima da sua propriedade e é mais “incomodativo”. No Monte Serrano não tanto. Embora se questione sobre os eventuais efeitos nocivos para a saúde. “Pode não estar provado, mas nós sentimos os efeitos e não há certezas. Quem é que nos garante que não faz mal?”, sublinha.
“Eu por mim preferia ver isto longe das casas”, frisa João Raposo, que entende que as linhas “têm de passar em algum lado”. Só não percebe porque isso não foi feito mais desviado das casas. “Se estivesse mais para lá, não apanhava casa nenhuma”, observa.
Paulo Tourais é o presidente da Junta de Freguesia há dois anos e também defende que, a construir, o que preferia que não tivesse acontecido, devia ter sido numa extremidade da vila, para evitar estas situações e minorar os impactos.
Há oito anos, quando a Rede Energética Nacional manifestou a intenção de instalar a subestação do Ferro e os postes de muito alta tensão (mais de 220 kw), foi aberta a obrigatória discussão pública, que “passou despercebida” à maior parte da população. Até porque as vozes críticas de agora não se ouviram na altura.
“A mim nunca me consultaram, eu não vou ao centro para ver os editais e muita gente nem sabe ler”, critica João Raposo. Paulo Tourais explica que na altura os responsáveis da REN garantiram à população que não havia qualquer problema e negociaram individualmente com as pessoas, a preços interessantes, a instalação dos postes.
“Na altura o que as pessoas queriam era ter lá os postes, para receberem o dinheiro [cerca de mil euros cada], confirma João Xavier, que também recebeu 1500 euros “apenas” para lhe cortarem umas mimosas no terreno.
Por outro lado, salienta o presidente da junta, quando se fala em abstracto num projecto destes, “é difícil ter a percepção exacta do que vai ser na realidade”.
Na altura, para além dos acordos particulares de utilização dos sítios onde estão implantados os postes, não há registo de qualquer contrapartida para a junta. Actualmente, Paulo Tourais tem a ideia que legalmente a REN não tem de o fazer, mas reclama o ressarcimento da freguesia, colectivamente, “pelos prejuízos causados”.
O autarca acentua que os terrenos onde passam as linhas estão desvalorizados, o aspecto e os postes “impedem que se aposte no turismo ambiental”, em alguns desportos, como a asa delta e considera os postes “lanças cravadas no coração da freguesia”.
“Estes equipamentos são importantes para o desenvolvimento do País e, agora, não posso exigir o desmantelamento”, diz Paulo Tourais. Exige, contudo, à REN, que não instale mais nenhuma linha, que enterre as que passam junto às casas e pede que a freguesia seja compensada pelo incómodo, para melhoramentos na vila.
Há dois anos que Paulo Tourais iniciou contactos com a REN. Inicialmente pediu uma verba de 500 mil euros para ajudar a arranjar o caminho até Monte Serrano, “que os camiões da subestação deixaram em mau estado”. Ofereceram 325 mil euros e depois só 50 mil em investimento eléctrico. Oferta que Tourais não considera justa. “Isso nem dá para dois postos de transformação”. Entretanto, já foi diminuído o impacto visual de algumas luzes na subestação, que perturbavam os condutores na estrada e foram plantadas árvores junto ao espaço, para mais tarde reduzir o impacto visual.
O “valor justo” pedido pela junta “seria no mínimo meio milhão de euros”. “O que pretendemos é que digam um valor que consideremos que tenha dignidade que nós administraremos em função das necessidades da população”, pede Paulo Tourais. Uma verba que seria, por exemplo, para a “criação de um parque infantil e equipamentos para a cultura ou recuperação de imóveis degradados”.
Neste momento, a REN, segundo a Junta do Ferro, “adoptou uma postura de força, de irredutibilidade”. “Espero que eles tenham consciência que podemos estar a entrar num processo um bocado complicado”, avisa Tourais, que sublinha andar há dois anos a tratar do assunto. “Não é porque agora está na moda estar contra as linhas de alta tensão”, garante. O próximo passo a dar vai ser decidido numa Assembleia de Freguesia extraordinária a realizar este mês.


Os responsáveis pela freguesia mostram-se contra a instalação destes postes
Os responsáveis pela freguesia mostram-se contra a instalação destes postes


Data de publicação: 2007-11-13 00:00:00
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