Voltar à Página da edicao n. 406 de 2007-11-06
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 
> <strong>José Geraldes</strong><br />

Saudade e dor

> José Geraldes

Todos os anos, nos dias 1 e 2 de Novembro, multidões enchem os cemitérios para recordar os seus entes queridos. Um ramo de flores, uma oração, uma visita silenciosa expressam a saudade dos que partiram.
Se bem que o dia 2 seja propriamente o Dia de Finados, as pessoas aproveitam também o dia 1 por ser feriado para homenagear os seus mortos. Aliás, no Brasil, o 2 de Novembro é feriado nacional.
Já no século II, os cristãos visitavam os túmulos dos mártires para rezar por eles. Tertuliano testemunha o facto. No século V, a Igreja tinha um dia anual para rezar por aqueles de quem ninguém se lembrava. A partir do século XI, a tradição impõe-se definitivamente.
O Antigo Testamento dá-nos conta em várias passagens do culto dos mortos. Cite-se o Livro dos Macabeus: “Judas Macabeu mandou oferecer um sacrifício de expiação pelos mortos, para que fossem libertos do seu pecado.” O Novo Testamento está cheio de referências sobre a vida eterna. João, no seu Evangelho, escreve: “Vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos, ouvirão a minha voz. E aqueles que tiverem feito o bem, deles sairão para a ressurreição que conduz à vida.”
A morte é um mistério com o qual todo o ser humano se confronta. E ninguém lhe pode fugir. Neste mundo, somos apenas hóspedes de passagem à espera da “irmã morte” como lhe chamou Francisco de Assis. Todos desejamos o encontro com a morte o mais tarde que puder ser. Pois o apego à vida faz parte do ser humano.
Muitos dizem não ter medo da morte mas a expressão do famoso cineasta americano Woody Allen representa, decerto, o sentir geral: “Eu não tenho medo da morte mas preferia não estar lá quando ela chegasse.” O importante, pois, é dar um sentido à nossa vida.
Mas este sentido depende do conceito que temos da morte a cujo enigma se deram muitas respostas. A filosofia, as ciências humanas e a história das religiões procuraram explicar o nosso fim biológico. A pergunta final que surge diz respeito ao que nos espera no fim da linha: que há para além da morte? O vazio ou Deus? A reposta depende da crença de cada um.
Para os que têm fé cristã, a morte representa “uma passagem” para a vida sem fim, uma vida eterna em comunhão permanente e infinita com Deus. Daí que na expressão de Henri J. M. Nouwen, conhecido autor de livros de espiritualidade, educador em clínicas de toxicodependência depois de ter sido professor em Harvard, “o acto de morrer seja um acto de amor, um acto que nos leva até ao abraço eterno de Deus cujo amor é eterno.” E Saint-Exupéry, autor de o Principezinho, escreve em carta a um amigo que morreu: “É verdade que, agora, nunca mais vais estar comigo, mas nunca estaremos separados.”
O Dia de Finados coloca-nos perante nós mesmos lembrando os que já partiram. É a nossa vida que passamos em revista e o futuro que desejamos antever em esperança renovada. Um encontro com a eternidade por um ramo de crisântemos e, porventura, uma lágrima pelos que tanto amámos e cuja saudade nos invade o coração.


Data de publicação: 2007-11-06 00:00:15
Voltar à Página principal

2006 © Labcom - Laboratório de comunicação e conteúdos online, UBI - Universidade da Beira Interior