Voltar à Página da edicao n. 398 de 2007-09-18
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Evocações necessárias

> José Geraldes

Lembrar as personalidades que marcam as regiões, ainda vivas ou que já partiram para a eternidade, constitui um dever a cumprir. A capacidade humana para o esquecimento é muito grande. Por isso, importa, de vez em quando, proceder a este exercício.
A Beira Interior tem um cardeal em Roma que ocupa o lugar por onde passam todas as acções conducentes a declarar um cristão para ser venerado nos altares. Esse cardeal é D. José Saraiva Martins, natural de Gagos, aldeia do Jarmelo, concelho da Guarda. Um cardeal que tem orgulho nas sua raízes.
Numa longa entrevista ao jornal A Guarda, D. José
reitera que “ se tivesse que nascer outra vez, queria nascer nos Gagos.” E quando tem de preencher formulários, diz que sublinha sempre o nome da sua terra.
Por ocasião dos seus 50 anos de ordenação de padre, o bispo da Guarda D. Manuel Felício tomou a iniciativa e bem de assinalar esta data em Gagos e na Guarda com a presença, para além do povo, da autarquia e representantes do poder central. Tratou-se de um acontecimento que atingiu projecção nacional.
O Cardeal dos Gagos que foi para o seminário contra a vontade do pai, é uma personalidade multifacetada envolvida por uma humildade afirmativa. Irradiando simpatia, tem um discurso que denota um homem que acompanha a evolução da sociedade. Reitor da universidade durante 18 anos, cativa-nos pela sua simplicidade.
Quando fala dos problemas, não os mascara. Interrogado sobre a situação actual da família, declara, sem rodeios : “Os governantes, em vez de gastarem dinheiro em tantas coisas, deviam empregá-lo numa política da família autêntica.” E sublinha : “O problema, antes de ser da Igreja ou da Religião é um problema da subsistência do homem ou da sociedade porque senão nascem filhos, a nação desaparece ou diminui”.
Na homenagem prestada ao nosso cardeal, figurava uma visita ao túmulo de outro grande beirão D. João de Oliveira Matos que havia sido bispo auxiliar da Guarda e cujo processo de canonização foi apresentado já em Roma. Natural de Valverde, concelho do Fundão, desempenhou funções de coadjutor na paróquia de Santa Maria na Covilhã.
D. João percorreu toda a diocese da Guarda, ficando semanas nas aldeias e vilas e cidades a realizar o seu trabalho. Fundou a da Liga dos Servos de Jesus, obra marcante na educação dos jovens, das crianças, na imprensa e nos serviços paroquiais e diocesanos.
O Cardeal Saraiva Martins emocionado, ao lembrar a sua vida, sintetizou : “Curvamo-nos perante o testemunho e a obra de um homem que deu tudo e deu-se todo, para que aquilo que caracterizava o reino de Deus impregnasse a vida de todos quantos sofriam alguma necessidade”.
Uma personalidade com justiça a evocar também é o Professor Lúcio Craveiro da Silva, padre jesuíta, natural do Tortosendo, que a morte nos roubou, aos 92 anos, em Agosto passado. De alto gabarito intelectual, grande filósofo, membro da Academia de Ciências, prestigiado internacionalmente, tinha uma empatia humana contagiante.
Primeiro reitor eleito em Portugal, elevou a Universidade do Minho ao nível de que hoje desfruta. O seu nome foi dado à Biblioteca de Braga.
Deixando uma obra importante de pensador, marcou, de forma determinante, o mundo da cultura. E também com uma humildade própria dos espíritos de selecção.
As evocações têm o mérito de avivar a nossa memória. Aqui as deixamos como modelos de humanidade e de valores permanentes.


Data de publicação: 2007-09-18 00:00:00
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