Voltar à Página da edicao n. 393 de 2007-08-14
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Director: João Canavilhas Director-adjunto: Anabela Gradim
 

Há país para além do litoral!

> João Canavilhas

Um estudo realizado pela empresa de consultoria Coface revela que o número de empresas falidas no primeiro semestre de 2007 diminuiu em relação ao período homólogo de 2006. Boas notícias para o país? Talvez, mas não para todo o território. De acordo com o referido estudo, nos distritos do interior - Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança - o número de falências continuou a aumentar. Estes números são mais uma consequência das políticas de litoralização do país desenvolvidas pelos últimos governos. E o processo não pára: a actual reorganização das forças de segurança vai encerrar postos da Guarda Nacional Republicana em localidades do interior. A reorganização do sistema de saúde encerrou maternidades, urgências e Serviços de Atendimentos Permanente. Por fim, jardins-de-infância e escolas do Ensino Básico têm vindo a ser progressivamente encerradas. Onde? No interior.
O argumento para estes encerramentos é sempre o mesmo: redução da despesa pública. Curiosamente, enquanto faltam recursos para manter determinados serviços no interior, os governantes discutem a localização de mais uma ponte sobre o Tejo, se o país precisa de um novo aeroporto ou basta melhorar uma estrutura já existente, ou quantas linhas deve ter um TGV que, vendo bem, o país nem precisa.
Um estudo recente da Marktest mostra que o saldo entre depósitos bancários e crédito concedido é positivo no interior do país e negativo no litoral. Ou seja, no interior os depósitos excedem o crédito, ao passo que no litoral se verifica exactamente o contrário. O que poderia ser um bom indicador é, afinal, mais uma prova das dificuldades vividas por estas paragens. O reduzido volume de crédito concedido acontece porque uma parte da população local não tem condições para recorrer ao crédito, enquanto outros nem sequer pensam em créditos pois não sabem se a empresa onde trabalham estará aberta por muito mais tempo. O elevado volume de depósitos não resulta da poupança, pois o baixo nível dos salários não o permite, mas das remessas dos emigrantes, ou seja, dos que se viram obrigados a abandonar a região para conseguirem melhores condições de vida. Senhores governantes, caso não tenham reparado, há país para além do litoral!

 


Data de publicação: 2007-08-14 00:00:00
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