Voltar à Página da edicao n. 387 de 2007-07-03
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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O empreendedorismo é hoje um dos conceitos mais em voga no Parque de Ciência e Tecnologia

A chave do empreendedorismo

A expressão parece não enquadrar da melhor forma no dicionário português. Também na prática, a resistência a esta ideia de espírito empreendedor parece ser bastante. Mas, depois do conceito começar a ser introduzido por um grupo restrito de docentes nas cadeiras universitárias, os primeiros resultados começam a surgir.

> Eduardo Alves

Cavaco Silva, Presidente da República, visitava as empresas presentes no Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã com a rapidez que caracteriza estas visitas de figuras de peso da máquina estatal, as tecnologias de ponta foram sendo apresentadas. Sistemas de informação geográfica, energias alternativas e outras tecnologias da nova era.
Mas foi no espaço da Consispro, a segunda empresa a instalar-se no Parkurbis, que o chefe de Estado fez uma pausa mais prolongada, fruto do pedido que lhe estava a ser feito. José Carlos Correia é um dos sócios fundadores desta empresa de “diagnóstico e concepção de soluções integradas” que fornece serviços inovadores de base tecnológica em redes, sistemas de informação e conteúdos e explica a surpresa do Presidente da República “quando lhe foi pedida a impressão digital para ser feita a chave do Parkurbis”. Uma chave “que não passa de um cartão, tipo multibanco, e onde está contida toda a informação referente ao portador e à empresa onde este trabalha”. Um sistema que é desenvolvido por esta empresa a funcionar há dois anos no Parque de Ciência e Tecnologia da Covilhã e “que é um dos muitos exemplos de novas tecnologias que podemos oferecer aos nossos clientes”.
A história “exemplifica bem até que ponto as pessoas, neste caso o próprio Presidente da Republica, ainda mostram alguma surpresa face às muitas potencialidades das empresas de base tecnológica”. E são as novas tecnologias a dominar as ideias empreendedoras dos projectos que agora vão surgindo à luz do empreendedorismo.
Mário Raposo, vice-reitor da UBI e docente no Departamento de Gestão e Economia da instituição foi um dos primeiros a introduzir este conceito nas suas aulas. Este responsável pela ligação da instituição de Ensino Superior ao meio empresarial explica que “o empreendedorismo surge da tradução de um termo inglês, que na altura e em alguns casos gera confusões, porque o empreendedorismo serve para tudo e mais alguma coisa em Portugal. Não só para a criação de empresas, que é mesmo isso, mas também para a formação de mentalidades e de formação das pessoas”. O docente começa por explicar que “o empreendedorismo é para criar empresas. Tudo aquilo que se faz na formação de pessoas, de atitudes, de comportamentos, tem como objectivo a criação de empresas, é essa a finalidade do empreendedorismo”.
E foi exactamente à luz desta ideia que surgiu a Consispro. José Carlos Correia lembra os tempos em que ainda frequentava as salas da UBI para se licenciar em Engenharia da Produção e Gestão Industrial (EPGI). Com mais dois colegas, de Matemática/Informática, que consigo partilham a liderança da empresa de base tecnológica, faziam site para empresas e mais algumas ferramentas na área da Informática. “A ideia de agarrar a oportunidade de integrar um primeiro conjunto de empresas no Parkurbis veio por arrasto”, conta José Carlos. Por entre risos adianta que a sede da empresa “passou de nossas casas para uma sala de 30 metros quadrados”. Nos primeiros tempos, “achávamos o espaço razoável, mas depressa começou a ficar pequeno e no ano passado tivemos de passar para uma sala com o dobro do tamanho”. Neste que é já o terceiro ano de actividade da empresa “comprámos a Omnisys, aquela que foi a primeira empresa do Parkurbis e juntámo-la à Consispro, que foi a segunda”. Neste momento a equipa ocupa um espaço total de 90 metros quadrados e tem nos seus quadros 11 licenciados “dez dos quais são licenciados na UBI”.
Ao falar da sua experiência pessoal, José Carlos Correia não se cansa de lembrar que “há pessoas fantásticas nesta região a desenvolver o empreendedorismo. Sobretudo o Gabinete de Apoio a Projectos e Investigação, coordenado pelo professor Mário Raposo, a própria Câmara Municipal da Covilhã, que fora as questões políticas, tem tido um trabalho assinalável nesta área e como é óbvio o próprio Parkurbis”. Contudo, este jovem empresário é também o primeiro a levantar a questão das mentalidades e da enorme falta de espírito empreendedor entre os licenciados. “O problema não está na falta de ideias, mas sim no facto de que quando alguém tem uma ideia, uma ideia que pensa ser muito boa e só sua, existe um milhão de pessoas a ter a mesma ideia. A diferença está no facto de sermos nós a dar o passo em frente e a arriscar para passar essa ideia do projecto e do papel para algo sério e verdadeiro”.
O vice-reitor da UBI confessa que “os jovens ainda não estão balançados para isto”. O responsável lembra que desde o Poder Central, a fundações e instituições de renome “estão envolvidos em processos que pretendem estimular o empreendedorismo”. Isto porque “durante muitos anos foi-nos vendida a ideia de que a nossa carreira passava por tirar um curso e ser empregado por conta de outrem. Todas as pessoas tinham o sonho de trabalhar numa empresa média, ou grande, onde tivessem um emprego para toda a vida e lhe fosse assegurado um salário estável. Essa era a formação que se transmitia às pessoas”. As novas regras dos mercados e o aparecimento de novos condicionalismos sociais “vieram alterar tudo”. Com estas alterações que existem a nível da sociedade, “com o facto da pressão competitiva nos fazer pensar de que não há emprego estável para toda a vida, penso que o ser empreendedor é só mais uma das alternativas que se colocam às pessoas como credível”. Este docente acrescenta mesmo que “o empreendedorismo tem de ser visto como um processo de aprendizagem, não é uma coisa que se faz e nunca mais se aprende. Uma vez tenta-se e falha-se, mas aprende-se com o falhanço. Veja-se o caso dos próprios Estados Unidos da América, onde esta temática está mais desenvolvida, as estatísticas apontam para que mais de 90 por cento das novas empresas falham ao fim de dois anos de vida, mas depois volta-se a tentar e a procurar o sucesso”. Raposo acrescenta que “é este ‘estigma do falhanço’ que temos de tirar da nossa sociedade. Quando se falha, encara-se isso como algo mau, mas não deve ser assim”.
A Consispro, que agora inclui já a Omnisys, é apenas um exemplo de um projecto que materializa o conceito de empreendedorismo. Os responsáveis por esta entidade estão confiantes quer no futuro da empresa, quer no futuro do Parkurbis e esperam continuar com as parceiras já feitas com empresas semelhantes localizadas na área da Marinha Grande e Leira e que levou já à constituição “de uma carteira de 60 a 70 clientes distribuída por todo o País”. Desde o desenho e concepção de software por medida, passando pela resolução de problemas pontuais das empresas, “fazemos de tudo e a todas as horas”. José Carlos Correia faz questão de sublinhar que “nesta área não temos limites. Se um cliente me pede um determinado programa com características específicas temos de fazê-lo, ou se um outro me telefona às 4 da madrugada porque o computador que gere a empresa não está em condições temos de ajudá-lo e resolver-lhe, nesse instante o seu problema”. Mas é com estes desafios que os funcionários desta empresa gostam de lidar. Para além “de estarmos no Parkurbis e rodeados por empresas concorrentes”. O que à partida poderia parecer um cenário negativo, “acaba por se tornar um dos aspectos mais bem conseguidos”. Este membro fundador da Consispro lembra que “ao vermos empresas da nossa área conseguirem atingir os seus objectivos nós temos a tendência de colocar a fasquia ainda mais alta e superar a concorrência”. É uma forma “de estar sempre a empreender”, sublinha.
Outra das áreas “em que vamos apostar e que para nós representa um nicho de mercado é a de produção de software para gestão de lagares e queijarias”. Para além disso, a Consispro está, neste momento, “a promover uma ferramenta que se destina aos comerciantes da região e que passa por um software próprios para os pequenos comerciantes com o qual podem também promover campanhas de pontos e de fidelização de clientes com este tipo de cartões e de programas informáticos simples”, adianta.


O empreendedorismo é hoje um dos conceitos mais em voga no Parque de Ciência e Tecnologia
O empreendedorismo é hoje um dos conceitos mais em voga no Parque de Ciência e Tecnologia


Data de publicação: 2007-07-03 00:00:00
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