Voltar à Página da edicao n. 386 de 2007-06-26
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Autoridade e má educação

> José Geraldes

“Autoridade, moral, respeito”. Foi com estas palavras que o presidente da França, Sarkozy marcou o seu discurso de tomada da posse. Palavras malditas nestes tempos, abandonadas por muitos pais e educadores, banidas do vocabulário de políticos por complexos recalcados.
Ora estas palavras traduzidas para a vida no seu sentido autêntico deram origem a grandes homens que foram pilares das democracias e, inclusive, a santos que a História regista.
Cite-se só de passagem De Gaulle e Churchill e São João Bosco, educador dos jovens e, entre nós, o Padre Américo, fundador da Obra dos Gaiatos.
Se não houver autoridade, moral e respeito, a sociedade transforma-se, a breve trecho, numa selva onde o mais poderoso impõe o terror aos outros e gera o caos.
A responsabilidade desaparece. E actos não desejados surgem imediatamente. Como a violência e o vale tudo desde a libertinagem nos costumes, ao êxito fácil e ao consumo sem rei nem roque.
A maioria das famílias está em crise por deficiência de autoridade dos pais que se demitem completamente das suas funções.
Recentemente reuniram-se em Valência (Espanha) especialistas em educação a debater o tema sobre a família e escola como um espaço de convivência. Uma das conclusões do congresso dizia precisamente que o aumento da violência escolar se deve, em parte, à crise de autoridade familiar pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.
Uma das palestras que prendeu o auditório e marcou o congresso foi do conhecido e prestigiado filósofo Fernando Savater. As suas palavras exprimem verdades como punhos que as famílias deviam assumir como guião para a educação dos filhos.
“As crianças não encontram em casa a figura de autoridade” sublinha o filósofo. E Fernando Savater observa: “As famílias não são o que eram antes e, hoje, o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão”. E certeiro: “Quando os professores tentam aplicar a disciplina, são os próprios pais que não tiveram a autoridade sobre os filhos, a exercê-la sobre os professores, confrontando-os”.
Fernando Savater adverte que a liberdade tem uma componente de disciplina. E que “a boa educação é cara mas a má educação é-o muito mais”.
As famílias têm que assumir em pleno as suas responsabilidades.
As crianças não são mais violentas ou indisciplinadas do que antes –continua o filósofo. O problema é “que têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos”. E “deixaram de ver os adultos como fonte de experiência e de ensinamentos para os passarem a ver como fonte de incómodo. Isto leva-os à rebeldia”.
Mas não é Savater o único a lançar o grito de alerta. Também Javier Urra, Provedor do Menor em Espanha, no livro intitulado O Pequeno Ditador- Da Criança Mimada ao Adolescente Agressivo que só na primeira edição vendeu 180 mil exemplares, confirma a situação. Urra diz que os pais desculpam os filhos por coisas absolutamente inadmissíveis como o caso de uma jovem violada por cinco adolescentes.
Mas os jovens não se sentem bem e têm tudo. Javier Urra revela que em Espanha, a juventude suicida-se cinco vezes mais do que há 20 anos.
O que falta aos jovens? Responde o Provedor do Menor: “Falta-lhes sentimento de transcendência, objectivos, motivação”.
Em Portugal, o problema também apresenta contornos semelhantes. Não se podem alimentar ilusões. É urgente arrepiar caminho.
Os pais não podem deixar de enfrentar com realismo e frontalidade a educação dos seus filhos. O seu futuro bem merece a sua dedicação por maiores sacrifícios, incómodos e cansaço que isso possa trazer para as suas vidas.


Data de publicação: 2007-06-26 00:00:00
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