Voltar à Página da edicao n. 380 de 2007-05-15
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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> <strong>José Geraldes</strong><br />

As pedras que se vão para Espanha

> José Geraldes

A conservação do património é um acto de cidadania que incumbe a todos nós. Quer a nível individual, quer a nível colectivo. E igualmente às instituições quaisquer que elas sejam: autarquias, juntas de freguesia, igrejas, associações culturais e outros organismos de carácter público.
O património representa a memória do que foram ou como viveram ou se expressaram os nossos antepassados. Daí o maior cuidado em preservar as obras que nos deixaram e que constituem a história viva do quotidiano das suas vidas e dos valores que norteou a sua existência.
Por esse Portugal fora muitos atentados foram cometidos contra o património nacional. A Beira Interior não fugiu a esta investida. Para não já falar nas casas dos emigrantes “à francesa” que descaracterizaram completamente as nossas aldeias.
Deve dizer-se com justiça que houve excepções. Citemos os casos de Sortelha, Castelo Novo, Marialva, Almeida, Castelo Rodrigo.
A criação do conceito de aldeias históricas desencadeou um movimento de uma nova sensibilidade que deu os seus frutos em todos os sentidos. Hoje já não se verifica a desatenção ao património que acontecia há anos. Trata-se de uma nova mentalidade cultural que urge manter, custe o que custar. E só temos que nos regozijar com este facto.
Na Covilhã está a fazer-se um grande esforço para evitar atropelos cometidos no passado sem pretendermos proceder a um inventário rigoroso. Mas foi pena o Castelo ter desaparecido. E o Pelourinho não ter ficado com o aspecto antigo que nos documentam registos fotográficos. Da muralha resta o possível.
As antigas fábricas de lanifícios têm merecido uma atenção especial. Os projectos previstos pela autarquia e a recuperação dos edifícios pela UBI para instalar os seus serviços denotam um empenho que calorosamente devemos incentivar.
Mas há um movimento que não pode passar desapercebido. Movimento que se verifica em toda a Beira Interior sobretudo na zona da raia e também nos concelhos da Cova da Beira. Trata-se da venda de pedras usadas na construção de prédios rústicos e casas de habitação nas aldeias.
Nota-se uma vaga de espanhóis que andam a comprar essas pedras que depois em Espanha são utilizadas na construção de vivendas. O esquema é simples: compra-se a casa, numa noite é destruída e as pedras viajam, num abrir e fechar de olhos para Espanha. Mas não só casas são vendidas. Também os muros em que essas pedras eram utilizadas antigamente.
A Câmara Municipal da Covilhã já teve de intervir para que uma casa típica construída com pedra trabalhada numa aldeia do concelho não fosse vendida a um espanhol. A autarquia utilizou os mecanismos legais para evitar a venda, o que seria uma perda para o concelho.
Aqui está uma acção que exige a vigilância de todos. Não podemos tolerar que os valores patrimoniais que temos sejam delapidados. As câmaras municipais podem e devem, como no caso covilhanense, actuar para protecção do património que é um bem colectivo.


Data de publicação: 2007-05-15 00:00:00
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