Voltar à Página da edicao n. 378 de 2007-05-01
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A figura de Zeca Afonso foi recordada nesta iniciativa

Memórias de Abril, 33 anos depois

> Igor Costa

Crianças de cravo na mão, referências à liberdade, a alegria espontânea de quem estava preso às cadeiras e o inevitável “Grândola Vila Morena” evidenciaram o espírito da revolução no TMG. O “sonho da revolução”, como referiu Luís Pastor, dirigindo-se aos presentes: “Tendes de vos sentir muito orgulhosos, pois sois dos poucos que viveram uma verdadeira revolução no século XX”. João Afonso guarda ainda as memórias de um 25 de Abril em Moçambique, com o tio Zeca a entrar em casa dizendo que havia uma revolução em Portugal.
Do tio herdou o gosto pela música e inúmeros companheiros de profissão, que hoje o acompanham. “Pessoas que são para mim importantes referências, como Benedito Garcia, Pete la Serra, Luís Pastor, Sérgio Godinho ou José Mário Branco”, refere o músico. Como muitos destes, João Afonso é hoje convidado a actuar no feriado nacional. “Cantar no 25 de Abril é, primeiro, uma honra, um orgulho, especialmente quando é em salas fechadas como esta, em que há uma certa atmosfera e uma ligação às pessoas do outro lado. Depois, não esquecer de facto que é para nós uma referência histórica fundamental. A conquista da liberdade, da democracia em que felizmente vivemos, e uma liberdade que, à medida que os anos passam, nos obriga a pensar por nós próprios e a sermos independentes”.
“A verdade é que sempre que chega Abril, desde a época em que o Zeca estava doente, que comecei a fazer-lhe homenagens por minha conta”, lembra Luís Pastor. O músico olha para o 25 de Abril e não esquece a força que a revolução transpirou para o lado de lá da fronteira. “Sentimos que essa revolução que vivemos, a vivemos em cada 25 de Abril, cada vez que agitamos os cravos, cada vez que cantamos canções do Zeca Afonso”, revela o espanhol.
Para João Afonso, o 25 de Abril obriga os portugueses de hoje a uma responsabilidade maior: “Isso significa sermos mais educados, mais respeitadores, mais honestos, mais profissionais. Creio que estamos a precisar de uma revolução na educação, e isso com certeza que vai acontecer neste universo que é a democracia”. Luís Pastor olha para o mundo de forma mais abrangente. O espanhol acredita numa História feita de ciclos, e vê no início deste século um decalque do anterior. “Vivemos outra vez no geminar da barbárie. A barbárie e a violência imperam. Hoje em dia as armas são uma ferramenta que levantam economias de países, e que sustentam economias de países, e fazem-se para matar. Se não há guerras, inventam-se. Se não há inimigos, inventam-se. Ou dá-se-lhes uma dimensão para além da que têm”, denuncia o músico. E lança um repto, em jeito de desafio: “Se queremos que o futuro seja diferente daquele que se anuncia, temos de nos definir e mobilizar-nos”.

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A figura de Zeca Afonso foi recordada nesta iniciativa
A figura de Zeca Afonso foi recordada nesta iniciativa


Data de publicação: 2007-05-01 00:00:00
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