Voltar à Página da edicao n. 378 de 2007-05-01
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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> <strong>Mário Raposo</strong><br />

A UBI é o motor do desenvolvimento e da revitalização da cidade da Covilhã

> Mário Raposo

No corrente ano de 2007, a Covilhã assiste ao passar dos 33 anos da instalação do ensino superior na cidade. Primeiro com o Instituto Politécnico da Covilhã, mais tarde transformado em Instituto Universitário da Beira Interior, e finalmente com a criação da Universidade da Beira Interior, a partir de 30 de Abril de 1987.

Tendo eu nascido neste concelho, e estando ligado desde muito cedo ao Ensino Superior na Covilhã, primeiro como aluno desde 1976, depois como docente até ao presente, as linhas de texto que aqui desenvolvo constituem além de um testemunho, uma visão do que tem sido a evolução da cidade da Covilhã, desde a implementação do ensino superior.

A cidade ao longo dos últimos 33 anos modificou-se radicalmente. Ao longo de todo este período, a cidade sofreu os efeitos da reconversão industrial do sector têxtil, o que provocou o encerramento de grande número de empresas do sector e uma alteração dos padrões de competitividade. De um sector baseado em mão-de-obra intensiva e baixos custos de produção, passou-se para um sector de capital intensivo onde a inovação e a diferenciação marcam a diferença.

As marcas desta reconversão fizeram-se sentir na cidade a vários níveis. Nos anos 80, encerramento de grande número de empresas, desemprego, imigração e perda de população. Nos anos 90 deslocalização de empresas para fora da cidade, para zonas industriais entretanto criadas, e dotadas de modernas infra-estruturas, o que possibilitou uma melhoria da sua competitividade. Como consequência um pouco por toda a cidade, foram ficando abandonados enormes edifícios fabris, que a certa altura proporcionaram uma imagem de decadência. Para alguns arautos da desgraça, a cidade estava condenada a definhar, a murchar e a perder definitivamente o estatuto de principal centro urbano do interior do país.

Mas eis - nos em 2007, a cidade está plena de vitalidade, inverter o decréscimo populacional está em nova fase de crescimento, a nível urbanístico a cidade abandonou o exclusivo da encosta da serra e cresceu para o vale, onde a geografia do terreno possibilitou outro tipo de ordenamento urbanístico e a criação de novas infra-estruturas (não é meu objectivo comentar aquilo que foi feito a este nível).

A cidade, hoje em dia, tem um sector de serviços emergente e em crescimento, com a instalação de modernas superfícies comerciais, a criação de novas unidades hoteleiras, e a abertura de escritórios de todo o tipo de serviços. A Covilhã dispõe de infra-estruturas de saúde, de ensino, desportivas, culturais, sociais e recreativas de qualidade reconhecida. Existem duas zonas de localização industrial de excelência e um parque de Ciência e Tecnologia, para a promoção de strat-ups de base tecnológica.

A nível urbano, as novas áreas da cidade oferecem alternativas de qualidade para os vários públicos-alvo, enquadradas por grandes zonas verdes. A nível ambiental, a despoluição das ribeiras de Goldra e da Carpinteira e a construção de zonas de lazer na sua envolvente, trouxeram uma mais valia considerável. A cidade está plena de vitalidade com muita juventude, muitos acontecimentos, atraindo investidores e visitantes.

No casco antigo da cidade, a maioria dos antigos edifícios fabris abandonados, deram agora lugar a modernas instalações de ensino superior, outros foram transformados em modernas habitações. A cidade inspira confiança, segurança e qualidade de vida. Não admira pois que ainda recentemente a cidade fosse considerada, por um jornal nacional, como uma das cidades com melhor qualidade de vida para se viver no país.

Mas a que se deve esta mudança? O que ocorreu ao longo deste período de 33 anos? Não querendo menosprezar nem melindrar outros agentes, não posso deixar de afirmar que a resposta é a Universidade.

Foi de facto a Universidade a principal responsável pela mudança qualitativa ocorrida na cidade. Foi a Universidade o motor do desenvolvimento económico e da revitalização da cidade. Foi a Universidade a grande responsável pela atracção e fixação de população jovem, e de quadros altamente qualificados. Foi a Universidade a principal dinamizadora de reconversão urbana da cidade, seja no casco antigo, através da recuperação dos edifícios fabris para as suas Faculdades, seja pela procura de habitação, pelos seus alunos, funcionários e docentes, que levou à explosão de oferta de habitação. Foi a Universidade que proporcionou à cidade a possibilidade de aceder a novos eventos, sociais, culturais e científicos. E também foi a Universidade que proporcionou o aparecimento e desenvolvimento de novas infra-estruturas científicas, tecnológicas e de saúde.

Após esta breve reflexão, fomos assaltados por uma dúvida, será que a nossa pertença, a comunidade universitária enviesou o nosso pensamento? Estaremos a olhar demasiado para o nosso próprio umbigo? Será que o que se passou na Covilhã não tem semelhança noutros locais do país, ou até do mundo? Convenhamos que fiquei preocupado e pensando se deveria ou não publicar estas minhas reflexões.

Mas eis que encontrei a resposta às minhas interrogações, num recente estudo desenvolvido pelo Prof. Michael Porter, Professor da Universidade de Harvard, reconhecido mundialmente pelos seus estudos e publicações relacionados com a competitividade dos países, regiões e cidades. Este especialista foi responsável pela implementação nos EUA, de um estudo denominado “Initiative for Competitive Inter City”, que pretendeu estudar e analisar o modo de revitalizar e animar os centros urbanos de 100 cidades Norte-Americanas. O estudo é bastante vasto, ainda decorre e pode ser explorado por qualquer um na Internet. Mas o que mais me interessa comentar são algumas das suas principais conclusões que têm a ver precisamente com o papel desempenhado pela Universidade na revitalização daquelas cidades.

Assim e segundo Michael Porter, passo a citar:

Historicamente é um facto real que as Universidades e colégios têm apresentado um importante contributo para o progresso das cidades a vários níveis; social, educacional e de cuidados de saúde. Mas estas instituições constituem-se também como um poderoso motor para o desenvolvimento económico das cidades. Com uma estratégia adequada os colégios e Universidades, podem assumir um impacto fundamental na revitalização económica das cidades, sem necessidade de recorrer a investimentos avultados. Neste processo, as Universidades e colégios constituem-se eles próprios como verdadeiros campeões da competitividade

Afinal, parece que lá como cá, são também as Universidades que contribuem significativamente para o desenvolvimento das cidades, apesar do assunto, quer lá, como também por cá, ainda não tem merecido a atenção que lhe é devida.


Data de publicação: 2007-05-01 00:00:00
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