Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 377 de 2007-04-24 |
Traços de Liberdade
A pintora Maria Helena Vieira da Silva pintou um conjunto de seis quadros relativos ao 25 de Abril, obras de referência que retratam a liberdade. Os originais foram entregues ao PCP que fez chegar dois à “Vila Vermelha”.
> Eduardo AlvesDe entre as muitas localidades da Beira Interior que se destacaram no combate ao regime salazarista, o Tortosendo sempre foi uma referência. Um elevado número de operários e uma forte presença do Partido Comunista Português (PCP), na fase da clandestinidade, foram alguns dos motivos que levaram o regime salazarista a considerar esta vila como uma das mais activas no combate ao Estado Novo.
É nestes dias que mulheres e homens percorrem as principais artérias da “Vila Vermelha”, na manhã de 25 de Abril e entoam alto a “Grândola, vila morena”. Mas é também por alturas das comemorações do Dia da Liberdade que se vão buscar às memórias, episódios, acções e histórias que fazem parte de um passado colectivo.
De entre as menos conhecidas, mas nem por isso, menos importante, está a história de dois quadros que Maria Helena Vieira da Silva pintou sobre o 25 de Abril e que alguns altos dirigentes do PCP nacional quiseram que as referidas obras viessem para a vila operária.
A história era contada por José Amaro Mendes, proprietário de um dos quadros, de forma breve e concisa, garante os familiares. Segundo o “Zé dos Óculos”, como era conhecido no Tortosendo, Vieira da Silva pintou um conjunto de seis quadros que compunham uma colecção sobre “O dia da liberdade”. Quadros esses que são depois oferecidos a uma funcionária do PCP. No período conturbado que se segue à “Revolução dos Cravos”, as obras soa mantidas numa das primeiras sedes dos comunistas, na capital.
Com o passar do tempo e com a construção da actual sede do PCP em Lisboa, este conjunto de obras faz nova viagem. Tempo aproveitado para serem feitas algumas cópias que posteriormente vão contribuir para a divulgação deste trabalho. A proprietária dos quadros decide então homenagear um dos militantes comunistas tortosendenses mais activos durante o período da ditadura. José Amaro, o “Zé dos Óculos”, como era conhecido na “vila vermelha”, recebe um telefonema de Lisboa onde uma camarada lhe pergunta se não quer dois quadros sobre o 25 de Abril. O antigo tecelão que por essa altura já vendia os bilhetes de autocarro para a capital acaba por aceitar o desafio nunca pensando nos quadros que o esperavam.
Do conjunto das seis pinturas originais assinadas por Vieira da Silva, duas delas acabaram por vir parar assim ao Tortosendo. José Amaro Mendes ofereceu um dos quadros ao PCP do Tortosendo, que ainda hoje pode ser apreciado na sede daquele partido e ficou com um outro em sua posse. Ambas as obras estão rubricadas pela autora e fazem parte de uma visão diferente do que Abril representa.
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