Voltar à Página da edicao n. 377 de 2007-04-24
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: António Fidalgo Directores-adjuntos: Anabela Gradim e João Canavilhas
 

A cidade e a província

> António Fidalgo

É falsa a razão de que a principal causa da desertificação do Interior em Portugal reside na falta de empregos. Falsa porque muitos empregos que existem são feitos por residentes de Lisboa. Na UBI, por exemplo, em alguns departamentos muitos dos docentes, quando não a maior parte, residem em Lisboa e deslocam-se à Covilhã para aqui leccionar dois ou três dias. Mas a tendência de preferir cidades maiores para residir também se aplica aos que residem na Covilhã e trabalham, em Belmonte, Sabugal ou Penamacor. E por fim, aplica-se também aos enfermeiros e professores que vivem nas sedes de concelho e trabalham nas aldeias.

A preferência pelas metrópoles para residir, quanto maior melhor, não é apenas portuguesa, mas mundial. Há claramente uma urbanização do planeta, com a população mundial a deslocar-se do campo para as cidades, alcançando em alguns casos, como na China, proporções preocupantes. Tal tendência decorre de condições económicas, nomeadamente com a produtividade agrícola, e com o incremento das actividades terciárias. Mas também deriva de uma mudança de valores, com o individualismo social e o hedonismo moral. O homem libertou-se da natureza pela técnica e mergulhou na sociedade por conveniência. A alienação há muito que não advém do trabalho, mas do desejo de gozar a vida e da necessidade de esquecer os problemas da vida.

Pensou-se que a melhoria das comunicações, auto-estradas, telefones, cabo, Internet, levaria ao teletrabalho e à disseminação da população pelo território. Mas verifica-se que é justamente o oposto que está a acontecer. Quanto melhores os meios de comunicação tanto maior a tendência para o viver citadino, de grande densidade demográfica. O desenvolvimento urbanístico da Covilhã mostra isso. A população da cidade concentra-se cada vez mais na zona entre as Estações ferro e rodoviária, o centro comercial e o Hospital.

Até que surjam novos valores e novas gentes imbuídas desses valores, com gosto pela natureza, pelo silêncio, as aldeias continuarão a perder gente. E com elas todo o Interior do país.


Data de publicação: 2007-04-24 09:34:28
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