Voltar à Página da edicao n. 377 de 2007-04-24
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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Um encontro que juntou na Covilhã investigadores ibéricos

Enigmas das relações literárias luso-espanholas

Decifrar os enigmas e desmistificar ideias feitas acerca das relações literárias e linguísticas entre Portugal e Espanha foi o objectivo do congresso final inserido no projecto ibérico RELIPES. O evento juntou portugueses e espanhóis da região transfronteiriça, e culminou com o lançamento do livro RELIPES.

> Cristina Reis

Alunos, docentes, escritores, investigadores e especialistas, todos estiveram reunidos no anfiteatro da parada da Universidade da Beira Interior, nos dias 18, 19 e 20 de Abril, para o terceiro e último congresso do projecto luso-espanhol RELIPES – Relações Linguísticas e Literárias entre Portugal e Espanha desde o início do século XIX até à actualidade.
O colóquio foi o culminar do estudo universitário deste tema, consubstanciado no lançamento do livro RELIPES, obra que apresenta os resultados finais da investigação peninsular que envolveu, para além da UBI, as universidades de Évora e Salamanca.
O livro vem ainda “recuperar as relações linguísticas e literárias entre Portugal e Espanha desde o século XIX até hoje, pois têm vindo a ser esquecidas”, refere Gabriel Magalhães, docente da UBI, organizador do evento e um dos três coordenadores do projecto. “O livro é o ponto de partida, é o começo para uma maior consciência das possibilidades que oferece o estudo das matérias peninsulares feito em conjunto pelas universidades, algo que nunca se fez anteriormente”, explica o docente.
No entanto, na opinião do organizador, alcançar uma visão mais completa e integral da Península Ibérica não é assim tão simples pois “a Península é muito complexa, é um labirinto muito interessante mas complicado, que nós só podemos começar a percorrer”.
A investigação universitária, coordenada por Gabriel Magalhães, Antonio Sáez Delgado e Ángel Marcos de Dios, demonstrou que “ao contrário do que se pensa, sempre houve relações entre os dois países vizinhos, o problema é que elas foram estudadas indevidamente. Estão em estado inconsciente, mas existem, e é importante trazê-las à “luz” para nos entendermos melhor, para nos conhecermos melhor e para no fundo sermos mais aquilo que somos”.
“Por norma, os portugueses não são capazes de ver Espanha, e os espanhóis não são capazes de vez Portugal, ver no sentido profundo da palavra”. Assim, escolha do mote “O outro lado do espelho ibérico” para o último congresso prende-se com a “vontade de querermos passar para lá das visões mais habituais dos espelhos, ver as coisas que normalmente não se vêem, ver as coisas de que se não tem consciência”, justificou Gabriel Magalhães.
Este encontro trouxe à UBI nomes grandes da cultura ibérica como os escritores Mário Cláudio, Possidónio Cachapa, Fernando Pinto do Amaral, Jesús Losada, José Tolentino de Mendonça, Antonio Sáez Delgado, entre muitos outros. Para além da literatura e da linguística, o programa contou com duas palestras dedicadas ao cinema ibérico, representado pelo português Vasco Diogo e pelo realizador espanhol Benito Zambrano.
É opinião consensual daqueles que passaram pelo encontro, que o RELIPES ajuda os portugueses a aproximarem-se dos espanhóis e vice-versa, criando uma nova dinâmica nas relações académicas e culturais dentro do espaço transfronteiriço. Rita Taborda Duarte, escritora e docente do Departamento de Letras da UBI, atribui ao evento “uma enorme importância académica pelo intercâmbio científico que se estabelece. O papel da universidade, mais do que as aulas, é proporcionar estes encontros, proporcionar conhecimento e uma abertura à literatura e aos vários campos de saber, não só na sala de aula”.
António Fidalgo, presidente do departamento de Comunicação e Artes, reconheceu o Português e o Espanhol como “línguas nativas que superam em muito o Inglês”. O docente afirmou, ainda na sessão de abertura, que a “situação de crise por que passam os cursos de letras só tem melhoras com a maior ligação a Espanha, e a UBI só tem sucesso no âmbito das letras se apostar nas componentes da língua castelhana”.
No que diz respeito às traduções luso-espanholas, o escritor Mário Cláudio, numa das sessões conferenciais, alertou os autores espanhóis para a necessidade das suas editoras traduzirem mais os autores portugueses, dando o exemplo de Aquilino Ribeiro não ter uma única tradução em espanhol. Na opinião de Rita Taborda Duarte, isso “deve-se à falta de apoios políticos e económicos para que sejam feitas essas traduções e não por um voltar de costas do lado espanhol. Pelo contrário, estes encontros são a prova do interesse dos espanhóis pela literatura portuguesa”.
Quanto a um próximo encontro Ibérico deste carácter, Gabriel Magalhães explica que “neste momento deve-se abrir um espaço de reflexão para ver as consequências deste enorme esforço dos últimos 2 anos. Feita essa reflexão, poderão surgir novas ideias e novas iniciativas”. O investigador sublinha que “embora o projecto acabe dia 30 de Abril, este prolonga-se por 2007 fora com o processo burocrático, pelo que só em 2008 é que teremos alguma perspectiva para pensar em coisas novas”.
O livro RELIPES, que reúne todos os estudos feitos financiados pelo programa comunitário INTERREG IIIA ao longo de dois anos, encontra-se disponível na Internet desde ontem, dia 23 de Abril, na página oficial do projecto.


Um encontro que juntou na Covilhã investigadores ibéricos
Um encontro que juntou na Covilhã investigadores ibéricos


Data de publicação: 2007-04-24 00:05:00
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