Nada detém Tiago Rodrigues

Uma lesão no ombro afastou-o dos nacionais de Inverno, no final deste mês, mas o nadador covilhanense já treina com vista à prova de Julho. O objectivo é conseguir mínimos para os europeus que se seguem.

A competir pelo CDC Académico dos Penedos Altos, Tiago Rodrigues tem este ano menos uma oportunidade para chegar a uma prova internacional. Depois de ter sido 2º classificado nos 400 metros crawl nos nacionais de Verão do ano passado, o atleta já treina com vista a superar os critérios federativos que o arredaram dos mundiais deste ano.

Para os mundiais de natação adaptada da África do Sul, a Federação Portuguesa de Natação Adaptada obrigava os nadadores a conseguir 80 por cento do record nacional. Poucos o obtiveram, mas Tiago Rodrigues quer superar a marca ainda esta época.

"Os orçamentos são reduzidos, e o Tiago não foi aos campeonatos do mundo na África do sul porque a federação entendeu que deveria tornar os mínimos mais difíceis", explica Francisco Borges, treinador do atleta. Na época passada, o nadador conseguiu os mínimos da federação internacional de natação, mas ficou aquém de conseguir 80 por cento do tempo do 4º melhor atleta mundial na categoria, que é português. Na desportiva, o também coordenador da piscina municipal lamenta: "Infelizmente o critério foi esse e mesmo não concordando temos de respeitar". Os olhos já estão postos na prova de Julho, e a Tiago Rodrigues não falta motivação: "No verão tem de ser. Era bom conseguir mínimos para os europeus. Trabalhar até lá…"

Há seis anos um acidente de viação roubou-lhe uma perna, mas o jovem não desistiu. A natação surgiu por indicação médica, de forma a manter o peso e facilitar a vida com a prótese. Quatro operações depois, Tiago Rodrigues começou a frequentar as piscinas municipais da Covilhã.

Francisco Borges recorda-se do início desta aventura. "No início o que teve de ser feito foi ensinar o Tiago a nadar competitivamente. O Tiago chegou à piscina por questões de saúde e não competitivas, mas ele adquiriu os fundamentos técnicos da natação muito depressa", recorda o técnico. A aventura dura até hoje, sobretudo por gosto, mas com seriedade e dedicação, como revela Francisco Borges: "No crawl a pernada é menos importante em termos de velocidade de deslocamento que a braçada, que assegura a grande percentagem da propulsão. Analisando a amputação, percebe-se que é a melhor disciplina para ele". O clube que representam paga o seguro e a inscrição nas provas nacionais, e a câmara não lhe cobra nada pela utilização da piscina, mas tudo o resto sai do bolso dos dois. O nadador faz as contas de cabeça, e encontra motivação na "força de vontade, porque gosto, e não ando a treinar um ano inteiro para depois não ir. Junto uns trocos e é para isso. Transporte, dormida, alimentação é tudo à nossa conta, são uns 200 euros."

Até ao Verão, Tiago Rodrigues fará uma ou duas provas preparatórias, sem cortar na carga de treino. Um trabalho árduo que, mesmo enquanto amador, leva bastante a sério. "O Tiago é um atleta que treina bastante bem, que é lutador no treino, que faz um esforço tremendo por continuar na natação, com todos os constrangimentos e dificuldades que existem. Ele treina seis vezes por semana, tem de despender três horas por dia, e dá muita da sua disponibilidade", reconhece Francisco Borges.

Mesmo com resultados bastante bons, o treinador acredita que Tiago Rodrigues pode melhorar a sua prestação. Mas tudo depende da possibilidade de treino, da situação profissional do atleta, da disponibilidade do treinador e dos apoios. A médio prazo, o objectivo é competir internacionalmente, para ver as suas prestações cotadas no ranking internacional.