“Müller” em palco no Teatro-Cine da Covilhã

“Projecto Müller”, o mais recente trabalho do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), esteve em cena no Teatro-Cine no passado Domingo. Uma peça que nos leva a uma viagem ao mundo de um dos mais conceituados dramaturgos do século XX.

É numa espécie de caixa negra, onde se juntam actores e espectadores, que toda a peça se desenvolve. Limitar a plateia somente a 30 pessoas e juntá-las todas no palco permitiu que se criasse um ambiente intimista e de enorme cumplicidade entre o público e os actores, ao longo de todo o espectáculo. O objectivo é “o público estar ao pé de nós, ver-nos nos olhos, ouvir-nos respirar, quebrando aquela distância, às vezes fria, de quando estão na plateia. Queríamos que as pessoas vissem de perto as pequenas coisas do que é o teatro e de como se faz”, revela Ana Beirão, uma das actrizes de “Projecto Müller” e do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC).
Foi a partir de obras poéticas e dramáticas, bem como de entrevistas e memórias do escritor e dramaturgo Heiner Müller (1929 – 1995), que nasceu este projecto. Mas por detrás da vida e da biografia do escritor alemão, encontra-se um universo muito mais importante do ponto de vista histórico e que se sente e está presente na interpretação das personagens em palco. “Acontecimentos como a Segunda Guerra Mundial, o muro de Berlim, a divisão do mundo em dois blocos, foram acontecimentos que o Ricardo, o nosso encenador, pretendeu transmitir na peça mas de uma forma criativa e não muito pesada”, referiu Ana Beirão.
Com encenação e dramaturgia de Ricardo Correia, a vida de Müller é interpretada por Ana Beirão, Marlise Silva e Nuno Geraldo. Cada um dos actores interpreta uma das partes da história do dramaturgo: a infância, por Ana Beirão; a idade adulta, por Marlise Silva; e a velhice, por Nuno Geraldo. “Müller não é uma junção de nenhum de nós, pelo que torna-se necessário haver várias pessoas para mostrar a vida de uma só, a de Müller. Esta peça só assim faz sentido”, justifica Marlise Silva. Todavia, os papéis trocam-se e misturam-se entre os actores, gerando-se uma enorme simbiose em palco.
A nova peça do grupo de Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) é resultado do concurso nacional “Palco a novos encenadores”, promovido TEUC para “dar uma oportunidade a alguém com criatividade, com novos projectos e novos objectivos e que chegasse ao TEUC, apresentasse o projecto e pudéssemos trabalhar nele”, salientou Ana. Dos seis projectos levados a concurso foi escolhido em Assembleia Geral o de Ricardo Correia. A experiência de trabalhar com aquele encenador durante dois meses intensivos foi, segundo Marlise Silva, “muito boa, é um encenador fantástico. Para além disso é muito gratificante trabalharmos só três porque dá para trabalhar mais e melhor, sentindo-se uma maior evolução”.
Integrado no 11º Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior, a peça trouxe à Covilhã um espectáculo criativo e inovador que conjuga a vida de um dos mais célebres dramaturgos com uma parte da história do século XX. Tudo isso num momento intimista que se partilha com o público. No final do espectáculo houve ainda espaço para uma pequena conversa com o grupo de teatro universitário de Coimbra, da qual sobressaiu a satisfação e o agrado por parte do público, manifestado através das constantes congratulações dadas aos actores.
“Projecto Müller” saiu pela primeira vez de Coimbra em direcção à Covilhã. A próxima paragem será no Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa (FATAL) que decorrerá entre os dias 17 e 29 de Maio onde estará presente, também, a peça PLAGIAI do Teatr’Ubi.