Eis Bocage no Teatro das Beiras

Bocage regressou á Covilhã, ao Auditório do Teatro das Beiras. Durante quase uma hora, o público disfrutou de momentos hilariantes ao som de composições do grande poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage.

A sala café-concerto do Teatro das Beiras encheu no passado dia 16, para receber a peça Bocage. Foi num ambiente calmo e descontraído que a peça regressa “num espectáculo diferente e irreverente”. A peça tem início com a entrada em cena do músico Gil Alves, que acompanha a representação ao som do clarinete, e de D. Perpétua do Socorro, brilhantemente interpretada pela actriz Paula Só.
D. Perpétua dá-se a conhecer ao público como uma contadora de anedotas e de muitas histórias. Para além desses dotes, é ainda animadora de festas. Toda ela vestida de preto, figura que contrasta com o seu espírito falador, espontâneo e “desempoeirado”. Um dia, D. Perpétua sente um mal-estar, até que alguém lhe diz que esse mal-estar seria provocado por espíritos. Desde então, será através da telepatia e das ciências ocultas que evoca grandes poetas portugueses. Até que lhe surge Bocage.
Esta personagem, interpretada por Francisco Brás, surge do fundo da sala. Uma figura alta, esguia e com ar obstinado. É no declamar de vários poemas seus que Bocage vai satirizando o clero, a política, e desabafando os seus sentimentos de amor. Puderam ouvir-se poemas como “Amar dentro do peito de uma donzela”, “Bojudo fradalhão de larga venta” ou ainda de “Não lamentes oh Nise o teu estado”, todas elas composições de carácter erótico e satírico. Num tom de divertimento, a talentosa D. Perpétua do Socorro acompanha Bocage através da sua expressão corporal, levando o público a participar e a interagir e transformando o momento num serão mágico e poético. Arcade e pré-romântico, Manuel Maria de Barbosa du Bocage foi dos primeiros poetas a anunciar a modernidade em Portugal pela sua controversa maneira de ser e agir.A interacção com o público foi sem dúvida um dos momentos altos da peça e da noite. Numa palavra, os actores descreveram esta peça como divertida. Tratou-se de um espectáculo único, bem divertido e que muitas gargalhadas arrecadou.