Voltar à Página da edicao n. 367 de 2007-02-13
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> <strong>João Leitão</strong><br />

Responsabilidade Social: O Goodwill da Universidade

> João Leitão

A origem da Responsabilidade Social está, directamente, ligada às obrigações que uma determinada instituição de cariz empresarial, ou não, assume para com a sociedade onde actua. Essas obrigações entendidas sob a forma de compromisso devem ser, estrategicamente, integradas na cultura organizacional, na missão e nos valores partilhados por essa mesma instituição. A plena integração do compromisso com a sociedade requer uma filosofia e um compromisso articulados na afirmação da missão, no marketing e nos processos comunicacionais, ao nível das redes institucionais e sociais, de cariz regional e internacional.

Dentro da esfera empresarial, a Responsabilidade Social das empresas diz respeito ao desenho e subsequente implementação de estratégias de sustentabilidade que, para além do desempenho financeiro, contemplam ainda a contabilização dos efeitos sociais e ambientais decorrentes do exercício das suas actividades.

Em termos retrospectivos, a formalização do conceito de Responsabilidade Social teve inicio na Década de 60, sendo de destacar os trabalhos pioneiros de Davis (1960, 1967), McGuire (1963), Davis e Blomstrom (1966) e Walton (1967). A ideia base era a seguinte: o grau de intimidade entre a empresa e a sociedade envolvente deve ser tida em linha de conta pelos gestores de topo à medida que a referida empresa e os grupos relacionados concretizam os objectivos estratégicos previamente delineados.

Na Década de 80 a contribuição de Drucker com especial foco no papel reservado ao Terceiro Sector: o Social; pauta-se pela divulgação da tese de que a rentabilidade e a responsabilidade são noções complementares. Essa contribuição abriu caminhos até então inexplorados, no sentido de se converterem responsabilidades sociais em oportunidades de negócio, que não têm de apresentar, necessariamente, como fim último a maximização do lucro, podendo, sobretudo, transformar-se em outros tipo de problemas duais, designadamente, de maximização dos níveis de habilitações ou de minimização dos índices de pobreza.

A Década de 90 foi bastante rica na introdução de conceitos complementares aos de responsabilidade social, tais como, corporate social responsiveness, corporate social performance,políticas públicas, ética nos negócios e gestão dos relacionamentos estabelecidos entre stakeholders.

Na primeira década do Século XXI, um dos desafios que se coloca à Universidade é exactamente o de abraçar a formalização da sua estratégia diferenciada de responsabilidade social. Essa árdua tarefa, além de urgente, reveste-se de uma importância estratégica fundamental, na medida em que a afirmação da qualidade da sua investigação e dos serviços prestados à comunidade, por parte dos agentes nela directamente implicados, depende em grande parte da definição e comunicação clara da missão da Universidade, tendo presente o entorno regional e internacional onde a Universidade deve estar plenamente integrada.

De acordo com a definição proposta pela Comissão Europeia, a Responsabilidade Social assenta na integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das instituições nas suas operações e na sua interacção com outras partes interessadas.

Por conseguinte, a definição de uma estratégia corporativa de Responsabilidade Social para a Universidade, irá permitir a melhoria da sua capacidade concorrencial, entendida como competitividade.

No sentido de proceder à diferenciação dos seus activos e dos serviços prestados à comunidade empresarial e institucional, em particular, e aos cidadãos do mundo, em geral, é necessário estabelecer redes relacionais que promovam o aumento dos índices de confiança entre os diferentes stakeholders e por consequência contribuam para a melhoria da reputação da Universidade, entendida como goodwill académico e institucional.

A reputação criada por via da aposta nos seus activos intelectuais e no reforço da capacidade de produção científica ao serviço dos stakeholders da Universidade pode, assim, tornar-se num activo importante para o reforço da sua capacidade concorrencial, bem como na forma de determinação das escolhas futuras dos alunos de graduação e de pós-graduação das instituições universitárias.

Existem duas dimensões primordiais da Responsabilidade Social que devem ser importadas das práticas empresariais. A primeira consiste na promoção de uma cultura de Responsabilidade Social, através da organização, recolha e disseminação de quão é socialmente responsável. A adopção desta dimensão implica tornar públicos os critérios de desempenho/performance, bem como informar o público dos seus esforços sociais (por exemplo: nos relatórios anuais) e sobretudo explicitar quais são as pessoas da organização que são responsáveis pela responsabilidade social.

A segunda versa as relações com a comunidade, as quais devem ser, preferencialmente, traduzidas pela cooperação com outras instituições de índole diversa, bem como pela afectação, por parte da gestão de topo, dos recursos para iniciativas de âmbito social e de prevenção de riscos para o meio ambiente.

Parafraseando o ministro poeta e cantor Gilberto Gil, numa recente intervenção, «as universidades, além do papel educacional da difusão do conhecimento etc., têm também o papel de difusão dos valores. Nesse caso, o valor humanitário importante é o da solidariedade».

A implementação futura de um projecto de responsabilidade social na nossa Universidade implica o desenvolvimento de um processo transversal de certificação de qualidade da missão de responsabilidade social da UBI, aqui advogada.

 

Em termos operacionais, diversas acções são requeridas, nomeadamente: (i) a formação de uma equipa responsável pela formalização desta missão; (ii) a realização de um levantamento de necessidades e posterior cruzamento com indicadores de Responsabilidade Social; (iii) a comunicação interna dos resultados do levantamento; (iv) a definição de objectivos e metas; (v) o desenho de um plano estratégico e operacional; (vi) a comunicação dos objectivos e do plano; (vii) a implementação do plano; e (viii) a realização de balanços regulares seguidos de comunicação dos desvios e das medidas correctivas.


Finalmente, a comunicação clara é fundamental para que todos os agentes envolvidos estejam a par e sintam a importância real da missão de responsabilidade social da Universidade, na região e no mundo.


Data de publicação: 2007-02-13 00:00:00
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