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“Em todos estes anos que aqui estou, não posso dizer que conheço este País”

> Eduardo Alves

U@O – Que marca acha que os professores polacos vão deixar na UBI?
A. L. – [Ouvir resposta]
No ano de 1991 vieram seis professores, desse grupo restam três. É claro que vieram mais professores e outros acabaram por partir, mas apenas nós os três estamos aqui desde essa altura. Como disse no início, a decisão de vir para Portugal foi um desafio e julgo que ainda não terminou. Até porque, em todos estes anos que aqui estou, não posso dizer que conheço este País, os hábitos e os costumes dos portugueses. Há ainda muita coisa que me falta descobrir e conhecer. Por isso continuo a apanhar mais informações que são muito interessantes para mim.
Para além disso, tenho aproveitado esta situação geográfica da UBI estar perto de Espanha, na zona da raia fronteiriça. Daí que visite frequentemente Espanha para tentar aprender também coisas novas sobre a cultura romana.

U@O – Estão reunidas as condições para virem mais professores polacos?
A. L. – [Ouvir resposta]
Não tenho a certeza de que isso seja necessário. É claro que para contratar mais professores estrangeiros deve existir uma necessidade que leve a isso, uma falta de quadros portugueses. No início da década de 90, isso foi necessário, para dar algum desenvolvimento e continuação à UBI, mas agora a instituição tem mais de 300 professores.
É verdade que na Engenharia Civil ainda não existe o número suficiente de professores para dar resposta às necessidades do curso. Mas por isso mesmo, nós continuamos aqui, com a nossa missão. Mas se formos ver o caso de outros Departamentos e outros cursos, esta situação terminou definitivamente.
Recordo-me que no final do ano lectivo passado, o último professor estrangeiro que tinha sido contratado para a UBI porque não havia técnicos portugueses para esse lugar partiu para o seu país de origem saiu do Departamento de Electromecânica por causa da nova situação. Aquele Departamento já tem o número de professores suficientes para satisfazer todas as suas necessidades.
Dentro de um prazo bastante curto, também aqui no Departamento de Engenharia Civil, a nossa presença não será necessária. Por isso mesmo, penso que dentro de três a quatro anos, vão ser os professores portugueses a assegurar as necessidades de docência e de investigação no Departamento. Obviamente que há sempre a presença de professores estrangeiros, como também há professores portugueses que vão trabalhar em Universidades fora de Portugal, mas estaremos a falar de casos de programas internacionais, investigações e intercâmbios.

U@O – Como pensa que os alunos classificam os professores polacos?
A. L. – [Ouvir resposta]
É sempre difícil estar a falar sobre a opinião que outras pessoas possam ter do nosso trabalho. Mas durante os anos em que estive em Portugal, a atitude dos alunos, dos políticos, da Universidade, em relação à presença de professores estrangeiros, mudou radicalmente. O que começou por ser uma aceitação plena chegou a atingir alguns pontos de mal-estar, como que uma contrariedade perante a presença de pessoas estrangeiras.
Ouvem-se opiniões negativas relativamente ao facto dos docentes estrangeiros leccionarem em inglês. Os especialistas portugueses devem saber a sua língua para contactar com os funcionários dos estaleiros, das obras e do seu dia-a-dia. Mas a linguagem técnica que têm de utilizar, para quase tudo, está em inglês. Isto são apenas alguns episódios esporádicos e que na minha opinião não são fundamentais. Mas ocorreram outras situações em que senti que a minha presença e dos meus conterrâneos não foi aceite completamente, na universidade e na sociedade local. Esta é uma pergunta que gostaria de deixar sem resposta final. Não me recuso a comentar, mas os meus comentários podem não ser os mais adequados.

U@O – A fazer fé nas palavras de Janusz Rydzykowski, embaixador da Polónia em Portugal, a UBI é a instituição que mais alunos envia, através do programa ERASMUS, para a Polónia – este ano foram 55 estudantes – e também aquela que mais alunos polacos recebe, 72 em 2006/2007. Como vê esta parceria?
A. L. – [Ouvir resposta]
É uma dupla satisfação. Não tinha conhecimento de que tantos alunos portugueses escolhiam a Polónia, nem de que tantos polacos escolhiam Portugal para o seu programa ERASMUS. Isto significa que o isolamento dos nossos países, planeado durante quase meio século pelos políticos, quer polacos quer portugueses, terminou definitivamente. E os jovens têm consciência da necessidade de preencher este buraco criado pelos políticos durante cerca de 50 anos. Isso consegue-se com o intercâmbio e com a curiosidade em saber como se vive aqui em Portugal e lá, na Polónia.
Este intercâmbio ganha ainda mais força com certos casos que conheço em que jovens portugueses vão estudar para a Polónia a acabam por se casar com raparigas polacas e decidem ficar a viver naquele país, e o mesmo acontece aqui em Portugal.

U@O – De que forma se poderia melhorar esta ligação cursos de polaco?
A. L. – [Ouvir resposta]
A ideia de criar cursos de polaco aqui em Portugal é muito interessante e muito importante. A diferença entre as nossas línguas são muito grandes. Agora utilizam-se línguas intermédias para os primeiros contactos, com o inglês a ser a base dessas ligações. Então esse contacto existe, mas sem se conhecer a língua local não é possível aumentar e aprofundar estes contactos. Temos de compreender a cultura e os hábitos locais, algo que não é possível sem se conhecer a língua.
Neste campo há que dizer que não existe um curso de polaco em nenhuma universidade portuguesa, o mesmo não acontece na Polónia. São várias as universidades polacas que têm cursos de língua portuguesa e alguns jovens licenciados já conseguem falar português. Em Portugal, o número de pessoas que fala polaco é quase nulo. Por isto é necessário criar um curso de polaco nas universidades lusas.
Uma prova desta lacuna está no campo dos dicionários “polaco-português e português-polaco”. Até esta altura não existe um bom dicionário para estas duas línguas. Um dos dicionários recentes que existe foi preparado na Polónia, apenas por pessoas polacas. Num trabalho destes é necessário ter uma equipa conjunta. Isto porque, num caso como o meu onde uma pessoa domina ambas as línguas, vê-se a falta da contribuição de especialistas na tradução dos termos.

Perfil

“Existe um sintoma geral de crise nas Engenharias”


“Penso que o caminho seguido pela UBI tem uma direcção bem definida”



"É sempre difícil estar a falar sobre a opinião que outras pessoas possam ter do nosso trabalho"


Data de publicação: 2007-02-06 00:00:00
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