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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Intolerância e vandalismo

> José Geraldes

O vandalismo mais rasca andou à solta na Covilhã, na semana passada. O incêndio do presépio colocado na praça principal da cidade –no Pelourinho e em frente aos Paços do Concelho - local das grandes manifestações colectivas de alegria e tristeza do nosso viver - causou justamente a maior indignação e revolta de todos os covilhanenses.
Os técnicos camarários fizeram a ligação eléctrica com toda a segurança dentro do presépio que estava completamente isolada. Os serviços dos Bombeiros Voluntários habituados a este tipo de situações concluíram que o fogo posto foi a causa do incêndio. Aliás, dias antes, as figuras do presépio apareceram já barbaramente mutiladas de várias formas, como prenúncio deste acto vil, hediondo e baixo.
O incêndio, para além do presépio, podia ter consequências muito graves para o próprio edifício da Câmara Municipal. E ainda causou estragos importantes. Estranha-se como na praça principal da cidade, a PSP não tenha feito o policiamento necessário.
Quem praticou tal crime, não tem o mínimo respeito pelo sagrado, já que nada havia para roubar. E configura um atentado aos valores do Natal. É difícil acreditar que se incendeie um presépio sem se saber o
que se estava a fazer.
Houve uma vontade deliberada de ofender as tradições natalícias. Qualquer criminoso, em seu perfeito juízo, não ia incendiar um presépio por mero divertimento para ver labaredas no Pelourinho.
O facto é motivo de reflexão para certos grupos ditos de república e laicidade que entram num disparatado histerismo por haver símbolos religiosos em lugares públicos. E sempre com o estafado argumento de haver separação da Igreja e Estado. E a República Portuguesa ser laica.
Como andam a semear ventos de jacobinismo, as tempestades de aversão aos símbolos religiosos começam a aparecer. Esta gente não aprendeu nada com a primeira República. Ideia que Mário Soares tem repisado para se não repetirem os mesmos erros.
Uma coisa é a República Portuguesa ser laica. E haver separação da Igreja e do Estado. E é bem que assim seja. Não se contesta o facto. Outra coisa é não ter em conta a religiosidade do povo português e as suas tradições nesta área que devem ser escrupulosamente respeitadas num acto de tolerância.
A este respeito, o exemplo de Jorge Sampaio, em campanha eleitoral, há anos, no Fundão, é exemplar. Sabendo que se celebrava missa ao meio-dia na Igreja Matriz e, para não perturbar o culto religioso, alterou seu programa. E chamou a atenção para a tolerância que se devia praticar.
O incêndio do presépio pode ter sido obra de vândalos. Mas a cruzada que agora é moda, como acentuou Vasco Pulido Valente, contra os símbolos do Natal, começa a ter consequências de fundamentalismo perigoso, arcaico e intolerante. O papa Bento XVI já alertou o mundo para a “guerra contra o Natal”.
Veja-se o que uma dita Associação Herodes (!) fez em Espanha ao premiar uma directora de uma escola por ter deitado para o lixo um presépio feito pelos alunos com o argumento de que num país laico “não são permitidos símbolos religiosos”. E igualmente a supressão de festas natalícias em empresas em Inglaterra que o ministro do Interior considerou completamemte “iniciativa insensata”.
O Conselho Mundial das Igrejas anota o facto negativo de os selos mostrarem renas, bonecos de neve e pais natais sem qualquer imagem alusiva ao nascimento de Jesus.
Assim se quer eliminar a simbologia do Natal. Contra o direito fundamental de cada um ter a liberdade de exprimir as suas convicções religiosas. As lições da História comprovam que não é possível matar a religião na Terra.


Data de publicação: 2007-01-02 00:00:00
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