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> <strong>José Geraldes</strong><br />

Dia de Finados: visita e encontro

> José Geraldes

O 2 de Novembro, conhecido por Dia de Finados, a ninguém passa indiferente. A data é transversal a toda a sociedade. A Igreja Católica concede-lhe uma importância maior. E, em Portugal, o povo celebra-a com muito empenho e devoção.
Crentes ou não crentes lembram nesse dia os seus mortos. Muitos, para além dos acontecimentos ocasionais, entram nas igrejas em memória dos seus antepassados. As campas dos cemitérios enchem-se de flores e uma lágrima de saudade escorre dos rostos que revelam a saudade dos que partiram.
Colocado no calendário na sequência da festa de Todos os Santos, o Dia de Finados evoca a vida para além da morte. E é uma interpelação à condição de peregrino do homem neste mundo.
A Bíblia exprime com uma imagem bela a brevidade da vida : “O homem é como erva que brota e é cortada pela manhã e que à tarde está murcha e seca”. Perante tal condição, o autor do salmo pede a Deus que “os dias sejam ordenados rectamente para se poder entrar pela porta da sabedoria”. E isto em oposição “ao gozo dos bens presentes e (…) à ida para as orgias”.
O Dia de Finados leva, de forma inevitável, a colocarmo-nos em face do enigma da morte. E obriga-nos a pensar sobre o que significa a nossa passagem por este mundo.
A filosofia, as ciências e as religiões apresentaram sempre respostas a este enigma. Que se podem classificar conforme as crenças. Aliás, as respostas dadas condicionam o sentido a dar à vida.
Para uns, a morte é o fim. A que se segue um vazio total. Por isso, a vida torna-se numa “paixão inútil” conforme a máxima do existencialismo à Jean-Paul Sarte. Então, a “náusea” passa a ser uma norma a comandar os actos existenciais. E tudo se resume a um absurdo.
O pessimismo toma conta do quotidiano. E o hedonismo impera, na fórmula da “fúria de viver” de James Dean, de usufruir de todos os prazeres possíveis. Porque a vida é fugaz.
Para outros e, neste número estão os cristãos, a resposta é a imortalidade. Há uma vida nova para além da morte. Que também foi defendida por filósofos da Antiguidade.
Mas a morte do Crucificado é o fundamento da esperança. E a Ressurreição dá o pleno sentido à vida humana.
Na expressão significativa de um texto da liturgia, “a vida não acaba, apenas se transforma”. Então, a fé orienta todo o existir que nada tem de “inútil”. Pelo contrário, o fatalismo desaparece e a vida reveste-se de todo o valor. Parafraseando o título do filme, “a vida é bela”.
Perante a morte, não desaparecem os medos. Francisco de Assis chamava-lhe serenamente “irmã”. E um cineasta conhecido, Woody Allen dizia, na sua linguagem de paradoxos, “não ter medo de morrer” mas só não queria lá estar “quando isso acontecesse”. Aqui é a esperança na vida eterna que tranquiliza.
A palavra cemitério etimologicamente quer dizer dormitório. Se a morte nos causa dor pela separação física, a eternidade consola-nos pelo encontro futuro. De forma diferente como existimos actualmente.
A morte não pode ser um tabu mas uma realidade que nos faz pensar. O culto dos mortos questiona-nos sobre a vida. O Dia de Finados é uma visita aos nossos mortos e um encontro por eles connosco próprios.


Data de publicação: 2006-11-07 00:00:55
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