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> <strong>Tito Cardoso e Cunha</strong><br />

As melhores universidades

> Tito Cardoso e Cunha

Regularmente, os jornais dão conta de rankings internacionais onde se destacam as melhores universidades do mundo e onde alguma portuguesa terá, quando muito, a sorte de ser mencionada imediatamente antes do fim da lista das primeiras 200. E às vezes nem isso.
De entre as primeiras 10, a nível mundial, invariavelmente 8 são americanas e os seus nomes não mudam muito: Harvard, Berkeley, Stanford, MIT, Princeton e algumas mais.
A seriação parece ser o resultado de inquéritos feitos entre docentes e investigadores do mundo inteiro e dos mais variados domínios do saber. Mas que distingue realmente essas universidades daquilo que nós estamos habituados a conhecer na Europa e em Portugal?
É claro que as dimensões e os recursos são incomparavelmente maiores mas isso também é mais uma consequência da excelência do que apenas a causa.
Embora umas sejam privadas, como é o caso de Harvard ou Stanford, outras são públicas. O orçamento da Universidade da Califórnia em Berkeley, por exemplo, depende em parte do financiamento do Estado da Califórnia. Apenas em parte também o financiamento depende das propinas embora estas sejam elevadas. No seu conjunto as fontes de financiamento são as mais diversificadas.
Em todo o caso a vida de um estudante nessas universidades é muito diferente do que conhecemos entre nós. Dada a dificuldade que há em conseguir lá entrar, e não apenas por razões financeiras, o estudante está submetido a um ritmo de trabalho e a uma autodisciplina que nós em grande parte desconhecemos. Um estudante raramente falta a uma aula, chega à hora marcada e, de uma maneira geral, leu os textos que tinham sido programados, não se entra e sai a meio das aulas, não se sai para atender telemóveis, enfim há uma concentração nas tarefas discentes que se traduz em resultados que contribuem em larga medida também para o prestígio da própria universidade.
Um outro aspecto ressalta aos olhos de qualquer observador externo: a diversidade internacional do corpo discente, como do docente, aliás. São universidades que parecem mais uma espécie de Nações Unidas do saber. Tanto no corpo discente como docente é possível encontrar representantes de uma boa parte das nacionalidades mundiais. E nem sempre à custa de dinheiro. Sobretudo ao nível da pós-graduação é frequente os departamentos oferecerem bolsas, independentemente da nacionalidade de origem.
O ensino ao nível da pós-graduação tem uma importância muito considerável e é objecto de um investimento muito particular por parte da universidade. É aí que se formam os futuros docentes e investigadores que, no entanto e por regra, jamais serão contratados pela própria universidade que neles investiu. Em matéria de contratação, as universidades obedecem inflexivelmente à regra dita da exogamia. Isso estimula também uma mobilidade que nós em Portugal de todo desconhecemos.
A mobilidade é, de facto, uma regra de aplicação generalizada. É quase impensável encontrar num departamento um docente e/ou investigador, a não ser os muito jovens, que não tenha estado antes em outra universidade. E às vezes mais do que uma.
Também a carreira universitária tem contornos muito diferentes da que nós conhecemos. Antes do mais ela começa só depois do doutoramento. Previamente é-se estudante e termina-se a pós-graduação sempre muito jovem. Uma vez iniciada a carreira a progressão faz-se impiedosamente de acordo com a famosa regra “publish or perish.” Não se insiste tanto em cerimónias e rituais antigos, mais ou menos psicodramáticos, mas numa avaliação do desempenho docente e investigativo feita com base em opiniões de especialistas externos à própria universidade.
A partir daí a progressão na carreira faz-se fundamentalmente com base nesse tipo de avaliação. Quanto mais o trabalho de um investigador é reconhecido externamente mais ele tem probabilidades de alcançar rapidamente os níveis superiores que correspondem também a uma remuneração diferenciada. Neste sistema, um reconhecido investigador-docente é frequentemente solicitado pelos recrutadores de outras universidades que oferecem não só maiores remunerações mas sobretudo melhores condições de trabalho para o prosseguimento da sua pesquisa.
Até porque um bom investigador é normalmente também aquele que atrai recursos maiores por parte dos financiamentos externos sobretudo ao nível da investigação.
Cerca de metade da investigação científica que se realiza à face da terra é feita nos EUA. Nem sempre nas universidades, claro. Mas mesmo quando ela é feita fora das universidades não deixa de o ser muitas vezes em colaboração com elas e, sobretudo, pelos investigadores nelas formados.
Em Portugal a realidade e a tradição são bem diferente. O modelo americano não é necessariamente transponível mas que as melhores universidades do mundo tenham muito para nos inspirar – estudantes, docentes e decisores – disso não creio poderem restar dúvidas.


Data de publicação: 2006-11-07 00:00:43
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