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O triunfo dos híbridos

> António Fidalgo

No dia 16 saiu nos jornais a lista das colocações de 1ª fase do ensino superior. Já se antevia que as engenharias e as letras teriam sérias dificuldades em preencher as vagas, tal como era adquirido que as vagas dos cursos de medicina e das áreas da saúde não só encheriam, como a nota mínima de acesso seria alta. Tudo isso se confirmou. Mas o que se realça hoje é o caso dos cursos tradicionais, como Matemática, Física, Línguas, Filosofia, ficarem quase desertos, e o sucesso de cursos com designações novas, onde se mistura um pouco de disto, daquilo e daqueloutro: os cursos híbridos. Cursos como “Estudos Europeus”, “Relações Internacionais”, “Guias da Natureza”, “Desenvolvimento” (sic), etc., enchem as vagas, e cursos que sempre foram, são e serão cursos cruciais do saber universitário, como os atrás referidos, não atraem os jovens.
O sucesso dos cursos híbridos decorre de uma civilização que evita o difícil e promove o que se faz sem esforço. É claro que num curso tradicional de Matemática ou de Física se leccionam matérias difíceis, pesadas, onde é preciso estudo, atenção, trabalho, esforço, por parte dos estudantes. Ora é muito mais fácil estudar as coisas pela rama, um bocado disto e um bocado daquilo. Desde que não dê muito trabalho, não se exija estudo nem concentração, então tudo bem, os alunos interessam-se, fazem os trabalhos práticos, e acabam por sair licenciados sem nunca terem lido um livro a sério de fio a pavio.
Os critérios de selecção dos cursos por parte dos estudantes residem nas provas de acesso e na atractividade da designação do curso. Se um curso tiver Matemática ou Física como provas de ingresso, então é sabido que o curso terá poucos candidatos, se retirar essas disciplinas então aumentará drasticamente a procura. Depois há a moda da atractividade. É incompreensível o que se passa neste momento com milhares de jovens a estudar tecnologias da saúde e a caminharem para um mercado mais que saturado dentro de 2 ou 3 anos, e se admitam em todo o país menos de 100 alunos em cursos de Matemática. Quem irá leccionar a disciplina daqui a alguns anos nos ensinos básico e secundário? Os desempregados das tecnologias da saúde? Obviamente que o terrorismo ministerial face á formação de professores, além de uma miopia atroz, também contribui em muito para os cursos tradicionais serem evitados pelos estudantes. Contudo, cá se fazem, cá se pagam. O que aconteceu noutros países com a falta de professores, irá inevitavelmente acontecer em Portugal.
O facilitismo no ensino que se instalou em Portugal contrasta brutalmente com o clima de exigência que se vive na China e na Índia. Aí estudam-se a sério as hard sciences. A doce moleza que reina por cá terminará um dia. A concorrência de quem trabalha mais do que nós a isso nos obrigará


Data de publicação: 2006-09-19 14:37:42
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