Turistas em busca do sol da Serra

Fazem praia, mas já se habituaram a passar também alguns dias de férias na Serra da Estrela, onde a maioria procura passar dias calmos. Não é só a neve que traz visitantes à montanha mais alta de Portugal continental.

“Aqui consigo realmente descansar”, diz Maria da Graça Penedos. Residente no Porto, não prescinde de vir todos os anos à Serra da Estrela no Verão. Tal como os outros turistas que nesta época se encontram a passar férias na montanha, vai sempre uns dias também à praia, mas sublinha que “o silêncio, o contacto com a natureza e a tranquilidade”de que consegue desfrutar lhe proporcionam uns dias relaxados. De resto, aquilo de que vem à procura.
Tal como Maria da Graça Penedos, que se encontra a meio da tarde no bar da Vanda dos Carqueijais, um número crescente de turistas optam pela serra para passar alguns dias de férias. No caso desta portuense, uma ligação que dura há mais de 30 anos. “A primeira vez que vim cá foi em 1970, ainda no tempo da Torralta. Agora venho todos os anos e cada vez gosto mais deste ambiente, da ruralidade”, frisa.
Em contraste com a confusão que consideram ser as praias nesta altura, na montanha dizem encontrar um ambiente mais calmo. Por outro lado, Maria Penedos, entende que essa acaba por ser uma consequência da divulgação turística que é feita no País, “centrada em Lisboa e no Algarve”.
Visitantes também de longa data da Serra da Estrela são Sílvio e Maria Eduarda Dinis, da Póvoa do Varzim. “Vim a primeira vez há 52 anos, ainda no campismo da Nave de Santo António, e nunca mais deixei de passar por cá”, realça, deitado na espreguiçadeira à beira da piscina da estalagem, enquanto desvia os olhos do livro que está a ler. Poucos anos depois trouxe a esposa, em lua-de-mel, que também ficou apaixonada pela “paisagem, pelas pessoas, pelas aldeias, pelo sossego, pelos passeios, pela pureza do ar”.
“Não somos turistas de asfalto. Nestes anos já visitámos tudo aqui à volta e conhecemos bem a Serra. Por vezes nem há informação, mas procuramos e não faltam motivos de interesse”, salienta Maria Eduarda, que se protege do sol serrano com um chapéu-de-sol. “Há sempre um roteiro novo para conhecer e farto-me de fazer propaganda a isto entre os amigos”, acrescenta. “Porque há portugueses que dizem que conhecem muita coisa lá fora mas não conhecem o próprio País”, comenta, em tom de crítica.
Já Andreia e João, de Alverca, apesar de conhecerem a Serra como a maioria dos turistas, no Inverno, é a primeira vez que estão na montanha no Verão. O filho, Martim, tem apenas meses de vida e queriam um sítio calmo para descansar. E foi “por acaso” que chegaram à região, motivados pelas promoções de uma unidade hoteleira que viram na Internet. “Queremos principalmente piscina, comer bem e descanso. E foi isso que viemos encontrar. Não vamos deixar a praia, mas estamos a pensar voltar”, acentua Andreia.
No caso de João Pires e da esposa as férias, por causa das crianças que os acompanham, vão ter mais adrenalina. “Ontem fomos a uma lagoa e amanhã vamos até às pistas de BTT na torre”, conta, em resposta aos pedidos insistentes dos filhos e sobrinhos que querem conhecer o novo circuito para fazer de bicicleta. “Isto tem grandes vistas”, diz o filho, com entusiasmo, para salientar uma das atracções deste tipo de turismo.
Natural da Covilhã e residente em Lisboa, João Pires aproveita para ver os familiares e, ao mesmo tempo, passar alguns dias na serra. Maria João, a esposa, sublinha que, com casa junto à praia, os filhos gostam de vir para um ambiente diferente. Para além disso diz que o filho asmático melhorou com os ares da serra. Um aspecto igualmente focado por Maria Eduarda Dinis. “O meu filho era asmático e trazia-o sempre, fazia-lhe bem”. Maria João Pires só lamenta que não haja mais actividades vocacionadas para crianças e um serviço de babby sitting.
Jorge Fazenda também se encontra na piscina, mas na do parque de campismo. É natural da Covilhã, reside em Lisboa e não perde a oportunidade de passar pelo único parque de campismo de montanha do País, o do Pião, onde os pais têm uma roulotte. “Gosto da Serra, estou habituado a ela. O ar puro é mais saudável e ajuda-nos no resto do ano”, frisa. “Aqui não é preciso estar a construir de propósito como acontece noutros sítios, porque aquilo de que gosto e que me traz cá já cá está, são elementos naturais”, sublinha Maria Penedos, para justificar a sua atracão pela Serra da Estrela.
Maria Eduarda Dinis salienta que se é uma visitante assídua no Verão, do Inverno, ao contrário da maioria, nem gosta de vir, por causa do frio. Mas em tantos anos de Serra nota que o tipo de turistas tem vindo a mudar. Há 40 anos, continua o marido, eram sobretudo pessoas da Covilhã que passavam férias na Serra. E os visitantes mais velhos. “Agora há muito mais casais jovens”, realça Sílvio Dinis. “A Covilhã teve um grande incremento a vários níveis”, nota. E recorda o muito que cresceu, mas lembra também o declínio dos têxteis e as suas consequências: “a vida na Covilhã antes era muito cara e diferente”.