Tradição é o que atrai feirantes ao São Tiago

Segundo alguns feirantes, o facto de há muitos anos participarem na Feira de São Tiago é um dos motivos que faz com que, ano após ano, venham à Covilhã. É que o negócio, lamentam, não rende. Por isso, há quem peça que o certame volte ao centro da cidade

A Feira de São Tiago é uma das tradições mais antigas da cidade da Covilhã, com 595 anos de existência. Muitos são os curiosos que por lá passam, passeiam de stand em stand, comem uma fartura e aproveitam para espairecer do dia de trabalho.
Este ano a feira contou com a presença de mais de 200 comerciantes e muita animação que levou centenas de pessoas ao Jardim do Lago.
Os comerciantes vêm de todo o lado mostrar as relíquias da sua terra, mas com o passar dos anos o negócio deixa de ser o mesmo. “Os visitantes já não compram como antes”, afirma uma comerciante que já participa na Feira há 15 anos. Estas pessoas vêm de muito longe, de todos os pontos do País, e alguns feirantes nem são portugueses.
Mayoro Ndiaye é um senegalês que participa na Feira há nove anos. Tem um carinho especial pela Covilhã, pelo que anseia pela Feira todos os anos. Viaja com a esposa e o irmão de cidade em cidade, para mostrar os artigos provenientes do seu país, imagens esculpidas em madeira, acessórios para senhora, uma grande variedade de artigos. Nos dois anos em que a Feira se realizou no Jardim municipal, Mayoro diz que teve mais sucesso. Por ser um jardim localizado no centro da cidade, salienta, havia mais pessoas a visitar e a consumir. Existia uma clientela mais vasta que vivia intensamente a alegria do evento, assegura Mayoro. Este ano a tristeza permanece no rosto destes comerciantes devido ao facto de não terem conseguido superar as vendas do ano anterior. “Hoje, não consegui vender nem 50 euros”, diz Mayoro com muita tristeza.
Rosa Maria Sá tem um stand onde vende tachos, panelas, frigideiras e muitos outros artigos nomeadamente, de jardinagem e todo o tipo de ferramentas. Há 39 anos que participa na Feira. Estreou-se nela com o pai, acompanhava-o e agora faz parte do seu quotidiano participar em feiras por todo o País. Neste momento faz-se acompanhar da filha, tornou-se uma tradição familiar que passa de geração em geração. Apesar do seu negócio estar sempre com muitos visitantes lamenta o facto deste ano haver uma menor afluência de pessoas. “O negócio não rende”, aponta Rosa Sá. Esta comerciante, habituada a estas lides, pretende deixar de participar na Feira de São Tiago se o negócio não evoluir. “Não compensa a viagem”, diz a feirante, que veio de Guimarães.
O negócio que sempre dá lucro é o de “comes e bebes”. O senhor Mário, proprietário do “Mário das farturas”, vem de Santa Marta de Penafiel e este ano, como todos os anos, teve muita clientela. Não se manifesta descontente, como a maioria dos comerciantes. O negócio das farturas é sempre um atractivo importante, e procurado por todos, em qualquer feira. A esplanada manteve-se sempre cheia e as pessoas paravam para descansar, beber uma água e claro, provar uma das fantásticas farturas do senhor Mário.
Falta de organização apontada pelos feirantes
As pessoas queixaram-se da localização dos seus stands, atribuindo culpa à organização. Preferiam que a Feira tivesse sido realizada no Jardim municipal, localizado no centro da cidade, pois durante o dia e à noite tinham sempre clientela e vendiam muito mais. A opinião geral dos participantes é que a organização do evento devia ter mais em conta a localização dos stands, e proporcionar locais com sombra, para não estarem expostos ao sol todo o dia. Muitos stands não abriram durante o dia porque os visitantes eram poucos ou nenhum. Uma das participantes que vinha de Barcelos, “a terra do barro”, dizia a senhora, participa há 15 anos neste evento e afirma que “em comparação com os outros anos, este é muito fraco”.
Segundo alguns feirantes, existe a possibilidade da Feira de São Tiago passar a ser realizada no aeródromo da Covilhã, o que provoca descontentamento entre os participantes, que dizem ficar muito longe da área central da cidade. Embora ainda não existam certezas da mudança de espaço da feira a preocupação foi geral.